Jardim vai receber mais alta distinção madeirense, PS e CDS concordam

Medalha de Mérito da Região vai ser atribuída ao antigo presidente do governo madeirense por proposta do PSD. Socialistas e centristas justificaram voto a favor com os “bons serviços” que Jardim prestou à Madeira.

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Alberto João Jardim deixou o governo regional em 2015 Gregorio Cunha

Em Julho de 2016, sensivelmente pouco mais de um ano após ter chegado à Quinta Vigia, Miguel Albuquerque condecorou com a Insígnia Autonómica de Valor dois dos jornalistas mais críticos de Alberto João Jardim: Lília Bernardes; e Tolentino de Nóbrega.

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Em Julho de 2016, sensivelmente pouco mais de um ano após ter chegado à Quinta Vigia, Miguel Albuquerque condecorou com a Insígnia Autonómica de Valor dois dos jornalistas mais críticos de Alberto João Jardim: Lília Bernardes; e Tolentino de Nóbrega.

Ambos já falecidos, foram correspondentes no arquipélago do DN e do PÚBLICO. Ambos, eram considerados “inimigos da Madeira” pelo antecessor de Albuquerque na presidência do governo regional. Dois anos depois, com as eleições regionais de 2019 no horizonte e com o PSD-Madeira a precisar, mais do que nunca, de estar unido, é o próprio Jardim o homenageado. Desta vez com a mais alta distinção autonómica, a Medalha de Mérito da Região.

O PS e o CDS concordam. Mesmo quando, nos corredores da assembleia, haja quem nas restantes bancadas fale em "Síndrome de Estocolmo" ou note a ironia de Jardim ser homenageado pelo mesmo órgão que tanto ostracizou nos últimos anos. Mesmo quando antigos dirigentes do PS, como o anterior líder regional Carlos Pereira, considerem este apoio à condecoração “afronta” ao património político do PS-Madeira.

“O Partido Socialista entende que, antes de mais, o dr. Alberto João Jardim foi presidente do governo regional durante muitos anos, e esta distinção é pelos serviços prestados”, contrapõe Victor Freitas, líder parlamentar do PS, que votou favoravelmente a proposta do PSD, aprovada no início do mês na Comissão Permanente da Assembleia Legislativa da Madeira.

Não se pode olhar para esta questão numa lógica político-partidária, continua Victor Freitas. “Estamos a homenagear os serviços prestados à região”, ressalva, dizendo que o voto socialista não iliba Jardim dos comportamentos que teve com a oposição, nem apaga a responsabilidade directa nos seis mil milhões de euros de dívida que a Madeira contraiu durante os últimos anos do jardinismo.

Também o CDS quer separar a “obra notável” dos primeiros anos da governação de Jardim dos “aspectos negativos” que marcaram os últimos governos do PSD-Madeira. António Lopes da Fonseca, presidente dos centristas madeirenses, sublinha que a concordância do partido na atribuição da Medalha de Mérito vai para a “obra inequívoca” do antigo governante. “Temos de ser realistas. Do ponto de vista económico, social e cultural a Madeira evoluiu muito”, argumenta Lopes da Fonseca.

Nem todos concordam com esta leitura da história. Bloco de Esquerda e PTP votaram contra. O JPP absteve-se e o PCP faltou à reunião. Roberto Almada, líder parlamentar do BE, sustenta que não está em causa um “ajuste de contas”, mas sim questões políticas objectivas. “Não temos memória curta e não nos esquecemos dos ataques às conquistas de Abril perpetradas por tal figura”, justifica, anunciando que o BE não estará presente na cerimónia de homenagem ao antigo chefe do executivo madeirense, marcada para 4 de Junho, no Salão Nobre do parlamento regional.

Gil Canha, deputado independente, vai mais longe na “indignação”. Canha, que não tem assento na comissão permanente do parlamento regional, recorreu da decisão, forçando a que o projecto-resolução do PSD fosse debatido e votado em plenário, o que vai acontecer na próxima quinta-feira. “Há partidos que queriam aprovar esta distinção pela ‘porta do cavalo’, mas vão ter agora que justificar por que razão vão homenagear alguém que os achincalhou e nunca respeitou a democracia”, diz o deputado, considerando a homenagem um “escândalo” e uma “humilhação” para o país. “Um bando de vilões vai dar um cordão autonómico por um punhado de votos”, acusa.

A verdade é que a expressão “todos os votos contam” nunca foi tão verdadeira como para 2019. O PSD de Albuquerque, que se incompatibilizou com Jardim em 2012 e venceu dois anos depois as internas frente ao candidato apoiado pelo histórico social-democrata madeirense, tem a maioria absoluta presa por um deputado. O PS tem vindo a subir nas sondagens e o CDS posiciona-se para ser parte de uma solução governativa, seja à direita, seja à esquerda. E Jardim, mesmo afastado da política, continua a valer votos.

A Medalha de Mérito da Região foi já atribuída a Jaime Ornelas Camacho (primeiro presidente do governo regional), Emanuel Rodrigues (primeiro presidente do parlamento madeirense) Francisco Sá Carneiro, Francisco Santana (antigo Bispo do Funchal) e Cristiano.