Futebol, um destino inevitável para os Marcos Alonso

Caso raro no futebol mundial, três gerações de internacionais por Espanha com o mesmo nome. O mais novo deverá ser o primeiro a ir a um Mundial.

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Três gerações de Marcos Alonso DR

São muitos os casos em que o futebol se transforma num negócio de família, que passa de pais para filhos. Em Portugal, só para falar de dois casos recentes, temos os Paciência, o pai Domingos e o filho Gonçalo, ou os André, o pai António e o filho André. Ainda estamos para saber se algum dos filhos de Cristiano Ronaldo irá por esse caminho, mas já sabemos, por exemplo, que Giovanni Simeone, o filho de Diego Simeone, promete muito como avançado, e que Justin Kluivert se estreou na selecção holandesa com 18 anos, tal como o pai, Patrick. Menos habitual é o futebol atravessar três gerações da mesma família. Uma família, diga-se, com pouca imaginação para nomes.

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São muitos os casos em que o futebol se transforma num negócio de família, que passa de pais para filhos. Em Portugal, só para falar de dois casos recentes, temos os Paciência, o pai Domingos e o filho Gonçalo, ou os André, o pai António e o filho André. Ainda estamos para saber se algum dos filhos de Cristiano Ronaldo irá por esse caminho, mas já sabemos, por exemplo, que Giovanni Simeone, o filho de Diego Simeone, promete muito como avançado, e que Justin Kluivert se estreou na selecção holandesa com 18 anos, tal como o pai, Patrick. Menos habitual é o futebol atravessar três gerações da mesma família. Uma família, diga-se, com pouca imaginação para nomes.

Marcos Alonso, lateral-esquerdo do Chelsea, é filho de Marcos Alonso, extremo do Atlético Madrid e Barcelona nos anos 1980, e neto de Marcos Alonso, central pentacampeão europeu com o Real Madrid nos anos 1950. São os três internacionais A por Espanha e o neto está no bom caminho para se tornar no primeiro em três gerações de "Marcos Alonsos" a jogar num Mundial de futebol. Poderá não ser o titular da “roja” (até ver, o catalão Jordi Alba é o dono do lugar), mas é uma opção mais que credível para o lugar.

Foram 68 anos entre a estreia na selecção espanhola de Marcos Alonso Imaz a 17 de Março de 1955 e a de Marcos Alonso Mendoza a 28 de Março de 2018, naquela que é, por enquanto, a sua única internacionalização na equipa sénior. O avô também não teve grande carreira na “roja” (apenas duas internacionalizações), mas foi no Real Madrid que fez história, ao lado de Di Stéfano, nos cinco títulos consecutivos na Taça dos Clubes Campeões Europeus entre 1956 e 1960.

“Marquitos”, como ficou conhecido, era um defesa rijo, enérgico e com poder de antecipação, que sabia bem o que tinha de fazer em campo. “O avô dizia-me que eles [os defesas] roubavam a bola, e pontapé para a frente para Puskas ou Di Stéfano. Eles faziam o resto”, contava Marcos Alonso, o neto. Como defesa, não marcou muitos golos, mas marcou um que ficou para a história, em 1956 na primeira final da Taça dos Campeões, em Paris, contra o futebol champanhe do Stade de Reims. Os franceses venciam por 3-2 e, num raro momento atacante, Marquitos, foi à área, fez uma tabela com Di Stéfano e marcou o 3-3, relançando os “merengues” para aquele que seria o primeiro de cinco títulos europeus consecutivos.

Natural de Santander, Marquitos passou grande parte da sua carreira no Real, mas o seu filho nunca foi além dos escalões de formação dos “blancos”. Depois de uma falsa partida, Marcos Alonso Peña, nome de guerra Marcos, começou a destacar-se no Racing Santander, o que lhe valeu uma transferência para o Atlético de Madrid. Depois de três anos nos “colchoneros”, o Barcelona fez dele o jogador espanhol mais caro da altura, pagando 150 milhões de pesetas.

Foi em Camp Nou que Marcos, um talentoso extremo-direito, viveu os seus melhores momentos – um título espanhol e uma Taça do Rei e em que cumpriu a maioria das suas 22 internacionalizações – mas também foi um dos responsáveis por manter o Barcelona mais meia década fora da lista dos campeões europeus. Na final de Sevilha, em 1986, o Alonso do meio foi uma das “vítimas” dos reflexos do Helmuth Duckadam, o guarda-redes do Steaua de Bucareste que defendeu os quatro penáltis da equipa catalã no desempate – só em 1991, graças a um livre directo de Ronald Koeman frente à Sampdoria, é que o Barcelona iria conquistar o seu primeiro título europeu.

Marcos ainda regressou ao Atlético e terminou a sua carreira onde começou, no Racing Santander, e passou a treinador (Atlético, Racing, Sevilha, Saragoça, foram alguns dos clubes por onde passou).

Foi já no ocaso da carreira do pai que nasceu em 1990 Marcos Alonso Mendoza. Tal como o pai, também começou nas escolas do Real Madrid e ainda conseguiu jogar dois minutos pela equipa principal, mas foi essa a sua carreira no futebol espanhol. Aos 19 anos foi para Inglaterra e para o Bolton, e, depois, mudou-se para Itália e para a Fiorentina, com um empréstimo na primeira época ao Sunderland.

Em 2016, voltaria à Premier League pela porta grande e para o Chelsea que seria campeão inglês com Antonio Conte – Alonso seria quase sempre o dono do lado esquerdo num sistema de três centrais. Mas ainda levou algum tempo para alguém da selecção espanhola se lembrar dele. Foi Julen Lopetegui, que o conhecia dos tempos do Real Madrid Castilla, a lembrar-se dele para a “roja” na histórica goleada frente à Argentina por 6-1. Deu-lhe 11 minutos em campo para cumprir o destino dos outros Marcos Alonso.