Silva Pereira entende “mágoa” de Sócrates, mas diz que PS não o condenou
Eurodeputado nota que houve uma “sucessão de declarações” de dirigentes socialistas que criou a percepção no antigo primeiro-ministro de que houve uma "condenação sem julgamento".
O eurodeputado socialista e ex-ministro da Presidência de José Sócrates, Pedro Silva Pereira, afirmou esta sexta-feira que a “sucessão de declarações de dirigentes do PS em tom algo diferente do que tinha acontecido anteriormente gerou uma percepção” que levou José Sócrates a decidir desvincular-se do partido.
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O eurodeputado socialista e ex-ministro da Presidência de José Sócrates, Pedro Silva Pereira, afirmou esta sexta-feira que a “sucessão de declarações de dirigentes do PS em tom algo diferente do que tinha acontecido anteriormente gerou uma percepção” que levou José Sócrates a decidir desvincular-se do partido.
"Lamento mas respeito a decisão [de Sócrates] de se desvincular do Partido Socialista”, afirmou Silva Pereira, em declarações no programa Política Pura da TSF. O eurodeputado sublinhou que “o PS tem explicado pela voz do secretário-geral que não alterou a posição" e, por isso, entende que a decisão do antigo primeiro-ministro "não era inevitável".
Mas reconheceu que "uma coisa é a posição do Partido Socialista, outra coisa é a percepção que se possa ter dela". No caso de Sócrates, a percepção terá sido a de uma condenação sem julgamento, explicou: "Houve de facto uma sucessão de declarações de dirigentes do Partido Socialista em tom algo diferente do que tinha acontecido anteriormente e isso gerou uma percepção, que depois o secretário-geral esclareceu que não corresponde à verdade e que não havia uma condenação sem julgamento que o PS nunca fez", explicou Silva Pereira.
"Uma ruptura depois de um trajecto comum durante tanto tempo, certamente que traduz uma mágoa pessoal”, afirmou o eurodeputado a propósito de o antigo líder do PS ter aludido a um “embaraço mútuo” na carta de despedida. “Foi assim que eu li" o uso dessa expressão, notou o eurodeputado.
Ao contrário da também eurodeputada Ana Gomes, que entende que o próximo congresso do PS "é a oportunidade para escalpelizar" como é que o partido "se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos", Silva Pereira sustenta que não é isso que deve acontecer.
"Para o Partido Socialista não faz qualquer sentido abrir uma discussão sobre como é que foi ou deixou de ser um instrumento de acção de corruptos e criminosos, como diz Ana Gomes”, afirmou. “Não é essa a posição da direcção. Isso iria supor uma antecipação do julgamento que nem a própria justiça fez, nem podia fazer porque o contraditório não se fez”, considerou o ex-ministro de Sócrates.
O eurodeputado, que estará no conclave marcado para os dias 25, 26 e 27 na Batalha, reconhece que essa questão “deverá estar na ponta da língua dos jornalistas nos corredores do congresso”. Se as pessoas são “livres de fazerem as intervenções que entenderem", já a direcção do PS deve manter o tema fora da agenda, sublinhou.
No dia anterior, na TVI 24, Pedro Silva Pereira havia comentado o mesmo caso, dizendo que não acompanha "a teoria da conspiração segundo a qual a direcção do PS teria lançado uma operação concertada para provocar esta ruptura com o engenheiro Sócrates". Para o ex-ministro, "não houve a intenção de se antecipar à Justiça, fazendo um julgamento criminal".
Sobre a estratégia do PSD, que retomou o caso Pinho ao chamar o ex-governante ao Parlamento e que, no último debate quinzenal, questionou Costa sobre a corrupção no governo de José Sócrates, Pedro Silva Pereira disse que o PSD "lançou operação de tentativa de aproveitamento político dos casos que estão pendentes na Justiça".