Os “Amores (Im)possíveis” de Inês, para rir e (não) chorar por mais
Anos de piadas no Facebook deram nisto. Com ilustrações de Tiago Galo, "Amores (Im)possíveis" é o novo livro de Inês Meneses, radialista e comunicadora nata, uma romântica viciada em trocadilhos
Seria possível amar alguém que não bebesse um copo de vinho? Que dissesse “perca” em vez de “perda”? Que gostasse do Nilton, enquanto ela ouvia Nilsson? Talvez tenham sido essas pequenas interrogações, com muitos momentos à la nazi da gramática, “o princípio de tudo”, o prenúncio de um (novo) norte. Coisas em que Inês Meneses, radialista e, sobretudo, comunicadora fervilhante, pensava. Coisas que são na verdade demasiado “ridículas” para boicotar o amor. “Será que é assim tão importante?”, questiona, retórica, ao telefone com o P3, voz de O Amor É, Fala Com Ela, PBX.
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Seria possível amar alguém que não bebesse um copo de vinho? Que dissesse “perca” em vez de “perda”? Que gostasse do Nilton, enquanto ela ouvia Nilsson? Talvez tenham sido essas pequenas interrogações, com muitos momentos à la nazi da gramática, “o princípio de tudo”, o prenúncio de um (novo) norte. Coisas em que Inês Meneses, radialista e, sobretudo, comunicadora fervilhante, pensava. Coisas que são na verdade demasiado “ridículas” para boicotar o amor. “Será que é assim tão importante?”, questiona, retórica, ao telefone com o P3, voz de O Amor É, Fala Com Ela, PBX.
Numa situação como esta, o que faria uma romântica incurável, obcecada por trocadilhos, com uma ligação à Internet? Amores (Im)possíveis, pequeno livro editado pela Abysmo, é a materialização da resposta. Com inspiradas ilustrações de Tiago Galo a fazer pendant (e, quem sabe, pandinha) a rosa e azul, a singela obra será apresentada este sábado, 12 de Maio, no Café Vitória, no Porto, pelas 18h30, na presença do cantor Rui Reininho e do psiquiatra Júlio Machado Vaz, cúmplice no programa na Antena 1. Um momento para conhecer melhor o resultado de uns quantos anos de piadas no Facebook — quem segue a autora já sabia que, de quando em quando, lá viria um amor mais ou menos possível, mais ou menos impossível. Às vezes feliz: “Ele ouvia Fleetwood no Mac dela”, frase que agora já anda pelas ruas estampada num totebag. Outra menos feliz: “Ele era um bom partido mas ela não estava recenseada.”
Por puro imaginário romântico, há muitas vezes um ele e uma ela, um Humphrey Bogart e uma Lauren Bacall, mas a verdade, sublinha a lírica Inês, é que “o amor não tem género”. “E o género não faz o meu género.” Dos 300 “amores” escritos ao longo dos anos, foram aproveitados 90. E quando o editor João Paulo Cotrim lhe enviou os seleccionados, surpreendeu-se. “Ri-me a ler aquilo.” São apenas piadas, piadas que lá iam saindo “como um bebé que bolsa” — “e a mim acontece-me bolsar estas coisas”. Esta escriba que o diga. Ainda a entrevista não tinha acontecido, afinavam-se planos no Facebook Messenger e do outro lado chegava, de mansinho, um amor, “falta saber se possível ou impossível”: “Ele disse Amanda e ela amandou-se”.
Rir, rir “perdidamente”: propósito de livro, propósito de vida. “Não vão encontrar um Dostoiévski, nem um Kafka, nem um José Rodrigues dos Santos”, ginga Inês, recordando o que disse na apresentação do livro em Lisboa. “É só mesmo uma brincadeira para que cada um faça o seu pequeno filme, se ria sobre uma incompatilidade — afinal não fui o único.” Mas num “livro a brincar também são escritas muitas coisas a sério”. Ou que podem fazer pensar. Olhando para o retrovisor, o que aconteceu foi mesmo uma tragédia? Foi amor? Ou um capricho? “Por um lado”, começa Inês, “desistimos muito facilmente do que é complicado; por outro, sobretudo no meio mediático, queremos ser muito levados a sério”. Qual a solução? Ri-se, a propósito, de propósito: “Eu, citando Conan Osiris, ‘estou-me a cagar’.”
Noventa por cento das situações que inspiraram cada pequena novela saíram do dia-a-dia de Inês. Não é o livro que invade a vida, antes a vida que se evade para lá. A verdade, diz, é que também procura e preserva “a diferença”, seja na caixa do supermercado ou noutro qualquer local destes nossos dias, onde, quem sabe, pode surgir um amor (im)possível, como aquele, “na lavandaria”, onde dois recém-conhecidos “dobraram meias e formaram um par”. “Acho que as pessoas vivem muito de imediato e de soluções fáceis. E o amor não é uma coisa fácil, não parece mas dá trabalho. E acredito imenso no trabalho que as coisas dão, na dedicação, no dar e receber, sempre em tudo.” Como o primeiro amor, que arranca o livro, o seu preferido: “Ele protegeu-a da chuva, e ela agradeceu — abrigada!”
Para Inês, a frase que abre o livro é, mais do que um trocadilho, uma curta-metragem. Tem esse sonho: entregar dez frases a dez realizadores e daí ver nascer pequenos filmes. Esta, em particular, sintetiza muito daquilo em que acredita. “Há a generosidade de quem estende o guarda-chuva e a particularidade da pessoa que o aceita e agradece de forma especial. Em cada um de nós está essa capacidade de fazer diferente, de mostrar que é especial.” Tem corrido bem? “Claro que é o que procuro — e sempre encontrei.”