Irão pede resistência “histórica” da Europa à pressão dos EUA
Presidente da Comissão de Segurança Nacional do Parlamento pediu à UE “algo de concreto”, para manutenção do acordo nuclear. Em Lisboa, Boroujerdi condenou ataque israelita “apoiado pelos EUA” na Síria.
O presidente da Comissão de Segurança Nacional e Relações Externas do Parlamento do Irão defende que a bola está do lado dos países europeus, no que toca à sobrevivência do acordo nuclear de 2015, que a administração norte-americana decidiu rasgar.
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O presidente da Comissão de Segurança Nacional e Relações Externas do Parlamento do Irão defende que a bola está do lado dos países europeus, no que toca à sobrevivência do acordo nuclear de 2015, que a administração norte-americana decidiu rasgar.
Numa conferência de imprensa nesta quinta-feira em Lisboa, Alaeddin Boroujerdi pediu aos Estados europeus uma “prova histórica” de resistência às “pressões” oriundas dos EUA, que se materialize em mais do que uma mera “folha de papel”.
“Precisamos de garantias práticas, de algo de concreto. Se a União Europeia não resistir à pressão norte-americana, não há forma de nos mantermos dentro do acordo”, afirmou.
Para Boroujerdi, o Plano Abrangente de Acção Conjunta (JCPOA, na sigla em inglês) – ratificado em 2015 por todos os países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mais a Alemanha – é do interesse dos países europeus e das empresas europeias que iniciaram negócios no Irão, na sequência do levantamento das sanções, e a sua descontinuidade pode permitir uma maior influência de outros actores no país: “Encerramento das portas da Europa pode abrir portas à Rússia e à China”.
O responsável iraniano condenou o ataque israelita na Síria, referindo que Israel começou “um jogo perigoso”, com o consentimento norte-americano. “O ataque israelita, apoiado pelos EUA, teve como objectivo desviar a atenção da opinião pública”, criticou.
Boroujerdi nega as acusações sobre uma primeira agressão iraniana nos Montes Golã e diz “estranhar” as reacções de responsáveis europeus franceses e alemães, que esta quinta-feira instaram Teerão a evitar “provocações” na região. Qualquer resposta de Damasco, acrescenta, será justificada por “legítima defesa”.
O presidente da Comissão de Segurança Nacional do Parlamento argumentou que a postura do Irão sempre se pugnou pela “diminuição das tensões” na região, ao contrário de Washington, acusou, e dos seus aliados europeus e da Arábia Saudita, que “fizeram treinos militares e armaram facções” no Médio Oriente, que levaram à morte de “milhares de pessoas” e obrigaram “milhões a procurar refúgio noutros países”.
O responsável iraniano voltou a frisar que o seu país “não violou” qualquer disposição do acordo, nem está a desenvolver armas nucleares, e que a Agência Internacional de Energia Atómica testemunhou isso mesmo no terreno.
Sobre a decisão de Donald Trump, Boroujerdi diz que apenas demonstra que “não se pode confiar nos EUA”. Catalogou os argumentos do Presidente americano como “anedóticos”.
Quanto às “consequências graves” que o chefe de Estado norte-americano prometeu, no caso de o Irão retomar as suas actividades de enriquecimento de urânio, o representante iraniano deixou uma garantia: “A guerra não seria bem-vinda para ninguém, queremos a paz. Mas perante qualquer ameaça, resistiremos”.
Indignação com Trump, não com os EUA
Questionado sobre as bandeiras dos EUA queimadas no Parlamento iraniano na quarta-feira por alguns deputados da ala mais radical, Alaeddin Boroujerdi lembrou que o gesto foi levado a cabo por uma “pequena facção”, mas mostrou alguma compreensão em relação àquela reacção.
O político iraniano fez referências à Revolução Iraniana (1979), à Guerra Irão-Iraque (1980-1988) e aos tempos em que “os EUA decidiam o destino do país” para explicar o porquê desse sentimento de raiva junto de alguns iranianos, mas fez questão de esclarecer que a indignação actual “é com a Administração Trump e não com os Estados Unidos” enquanto nação.
Para além disso, Boroujerdi afirmou que “a natureza da liberdade” faz com que a existência de “opiniões diferentes” seja normal. Tal realidade, disse, aplica-se tanto ao Parlamento, como à população ou às famílias iranianas. E mesmo sem referir concretamente o Presidente Hassan Rouhani ou do ayatollah Khamenei, deu a entender que aqueles também estão abrangidos por esta lógica, pelo que é dessa forma que quaisquer posicionamentos de um ou de outro devem ser analisados. No meio disto tudo, porém, uma certeza: “Perante as ameaças dos EUA, temos uma só voz”.