A lei dos abacates
Levei algum tempo a perceber que o meu método só assegurava uma coisa: que comia sempre abacates levemente podres.
Quando comprava abacates começava sempre pelo abacate mais tocado. Como já estava a apodrecer comia-o quando estava menos podre, para impedi-lo de apodrecer mais. Deixava assim os melhores abacates para depois. Quando ia escolher o segundo voltava a escolher o mais tocado. E assim sucessivamente.
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Quando comprava abacates começava sempre pelo abacate mais tocado. Como já estava a apodrecer comia-o quando estava menos podre, para impedi-lo de apodrecer mais. Deixava assim os melhores abacates para depois. Quando ia escolher o segundo voltava a escolher o mais tocado. E assim sucessivamente.
Levei algum tempo a perceber que o meu método só assegurava uma coisa: que comia sempre abacates levemente podres. O que eu estava a fazer quando comia primeiro os mais tocados era dar tempo aos abacates impolutos para ir apodrecendo devagarinho. Assim o último a comer, sempre preterido por ser o mais fresco, acabava por ser o mais podre.
Já aconteceu o mesmo com os vendedores de abacates. Se recebem um carregamento novo de abacates e os põem à venda, os clientes comparam-nos com os mais velhos e preferem comprar os novos, ficando os velhos para o lixo. Sendo assim faz sentido vender primeiro os velhos enquanto os novos vão envelhecendo.
Quem diz abacates diz morangos, roupa, tarefas, projectos de vida. A tendência para despachar primeiro as coisas menos agradáveis da vida pode garantir que se esteja sempre a fazer coisas desagradáveis.
É uma estranha maneira de adiar as coisas agradáveis. Quantas vezes começamos por comer os morangos menos saborosos, deixando os melhores para o fim, só para descobrir, quando chega a vez de comê-los, que já não temos fome?
Se calhar é melhor começar sempre em beleza e, à medida que a fome diminui deixar que piore a qualidade do que se come. Ou não?