Costa afirma-se “surpreendido” com desfiliação de Sócrates
O primeiro-ministro diz que se trata de "uma decisão pessoal", mas justifica a sua surpresa porque "não há qualquer tipo de mudança da posição da direcção do PS" sobre a "separação entre aquilo que é da justiça e aquilo que é da política". E fala em "entendimento divergente" antigo sobre a possibilidade de interferência na justiça.
O secretário-geral do PS, António Costa, afirmou nesta sexta-feira que "respeita" a decisão "pessoal" do antigo primeiro-ministro José Sócrates de abandonar o seu partido, adiantando, no entanto, que ficou "surpreendido" com os motivos invocados.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O secretário-geral do PS, António Costa, afirmou nesta sexta-feira que "respeita" a decisão "pessoal" do antigo primeiro-ministro José Sócrates de abandonar o seu partido, adiantando, no entanto, que ficou "surpreendido" com os motivos invocados.
"É uma decisão pessoal de José Sócrates que tenho obviamente de respeitar", mas "fico surpreendido, porque não há qualquer tipo de mudança da posição da direção do PS sobre aquilo que escrupulosamente temos dito desde o início: Separação entre aquilo que é da justiça e aquilo que é da política", afirmou.
O primeiro-ministro sublinhou ainda duas premissas que considera fundamentais neste tipo de questões: "A independência total da investigação e a presunção de inocência". E deixou uma frase que sugere uma divergência entre o actual e o antigo primeiro-ministro socialista: "Desde há muito tempo que há um entendimento divergente de que o poder político não deve interferir no sistema de justiça". Pelo lado do Governo, afirma ter "todos os motivos para confiar no sistema de justiça e no Estado de Direito".
"O PS entende que não tem que interferir no sistema de justiça, que tem os mecanismos próprios para funcionar e investigar. Quem goza da presunção da inocência pode exercer o seu direito de defesa - e tudo deve ser respeitado. Quanto ao mais e quanto ao caso [de José Sócrates], só tenho a dizer que respeito naturalmente a sua posição pessoal", acrescentou.
Interrogado se José Sócrates não foi alvo de uma condenação antecipada quando o presidente do PS, Carlos César, e o porta-voz deste partido, João Galamba, afirmaram que se sentem envergonhados com os casos judiciais que envolvem socialistas, António Costa contrapôs que, "caso se ouça o que foi dito, verificar-se-á que nenhum disse isso".
António Costa falava aos jornalistas em Toronto, antes de iniciar o terceiro de quatro dias de visita oficial ao Canadá. Já na véspera, o secretário-geral do PS tinha comentado as suspeitas de corrupção no Governo Sócrates: "Se essas ilegalidades se vierem a confirmar, serão certamente uma desonra para a nossa democracia. Mas se não se vierem a confirmar, é a demonstração que o nosso sistema de justiça funciona".
Estas declarações terão sido a gota de água para o anúncio de José Sócrates de que vai abandonar o PS, depois dem nos últimos dias, vários militantes socialistas, incluindo o presidente do partido, terem quebrado o silêncio e considerado uma vergonha e uma "desonra" as suspeitas que recaem sobre o ex-primeiro-ministro e sobre Manuel Pinho, ex-ministro da Economia.
“A injustiça que a direcção do PS comete comigo, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político. Considero, por isso, ter chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo. Enderecei hoje uma carta ao Partido Socialista pedindo a minha desfiliação do partido”, escreveu Sócrates num artigo de opinião com data de quinta-feira e publicado nesta sexta-feira no Jornal de Notícias.
No Parlamento, o presidente e líder parlamentar do PS também reagiu a esta intenção, dizendo que se trata de uma decisão tomada por Sócrates “de forma livre” e que o partido continua a achar que, no plano da governação, José Sócrates “deixou uma marca muito positiva como primeiro-ministro”. Mas insistiu no tom crítico a eventuais práticas de corrupção, quando disse que haverá um “sentimento de revolta” contra os políticos se se confirmarem as suspeitas e acusações que recaem sobre José Sócrates e Manuel Pinho.