Genes decisivos para parasita mais letal da malária foram identificados
Cientistas identificaram mais de 2600 genes que são essenciais para a sobrevivência do parasita Plasmodium falciparum que poderão ser usados como alvos para novas estratégias terapêuticas
Cientistas identificaram, pela primeira vez, os genes essenciais para o mais letal parasita da malária, revelando assim novos alvos para fármacos ou vacinas que poderão combater a doença que afecta as pessoas. Usando novas técnicas genómicas para analisar os genes do Plasmodium falciparum, os investigadores do Instituto Wellcome Sanger, no Reino Unido, e da Universidade do Sul da Florida, nos EUA, foram capazes de determinar quais são os genes indispensáveis para a sobrevivência do parasita. Os resultados deste trabalho foram publicados esta sexta-feira na revista Science.
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Cientistas identificaram, pela primeira vez, os genes essenciais para o mais letal parasita da malária, revelando assim novos alvos para fármacos ou vacinas que poderão combater a doença que afecta as pessoas. Usando novas técnicas genómicas para analisar os genes do Plasmodium falciparum, os investigadores do Instituto Wellcome Sanger, no Reino Unido, e da Universidade do Sul da Florida, nos EUA, foram capazes de determinar quais são os genes indispensáveis para a sobrevivência do parasita. Os resultados deste trabalho foram publicados esta sexta-feira na revista Science.
Os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 216 milhões de pessoas foram infectadas no ano passado com o parasita da malária, que é transmitido por mosquitos anófeles que sugam o sangue. Quase meio milhão de pessoas – a maioria bebés e crianças em África – morreu da doença em 2016. O mais conhecido e letal parasita da malária, o Plasmodium falciparum ou P. falciparum, causa metade de todos os casos de malária e cerca de 90% das mortes. A equipa de cientistas que assina o artigo publicado na Science analisou quase todos os 5400 genes desse parasita.
Neste trabalho foi usada uma técnica especial (chamada mutagénese insercional com transposição mediada por piggyBac) para conseguir inactivar genes aleatoriamente. Depois foi também desenvolvida uma nova tecnologia de sequenciamento de ADN para identificar quais os genes que foram afectados. Os resultados agora publicados mostram que cerca de metade dos genes do parasita – mais de 2600 – serão essenciais para que ele cresça nos glóbulos vermelhos.
“O que nossa equipa fez foi desenvolver uma maneira de analisar cada gene no genoma deste parasita. Usando as nossas ferramentas de análise genética, conseguimos determinar a importância relativa de cada gene para a sobrevivência do parasita”, refere John Adams, especialista em investigação sobre saúde global e doenças infecciosas na Universidade do Sul da Florida, no comunicado do Instituto Wellcome Sanger sobre este estudo.
Iraad Bronner, investigador Instituto Wellcome Sanger, acrescenta: “Os parasitas da malária são extremamente difíceis de manipular e sequenciar tecnicamente e, até este estudo, apenas se tinha conseguido identificar alguns dos genes essenciais do P. falciparum. Os avanço tecnológicos que fizemos permitiram identificar todos os genes essenciais do P. falciparum, e foi a primeira vez que isso foi possível para um parasita da malária humana.”
A malária é uma doença tratável se for detectada precocemente, mas os fármacos antimaláricos actuais estão a falhar em diversos locais do mundo devido ao aumento da resistência aos medicamentos. “Precisamos de novos alvos dos fármacos contra a malária, agora mais do que nunca”, disse Julian Rayner, especialista também do Instituto Wellcome Sanger que liderou o trabalho. “Esta investigação fornece uma lista de 2680 genes essenciais que os cientistas podem agora usar para explorar como possíveis alvos de drogas promissoras.”
Nas últimas décadas, os parasitas Plasmodium desenvolveram resistências aos fármacos actualmente disponíveis e a disseminação de parasitas resistentes ao tratamento antimalárico mais usado e (até ao momento) eficaz, a artemisinina, é uma ameaça emergente. Apesar de ainda estar por esclarecer como a artemisinina mata os parasitas, acredita-se que a resistência possa estar ligada a uma via que degrada proteínas na célula (proteassoma). “Muitos dos genes essenciais encontrados neste estudo estavam na via do proteassoma, fazendo com que sejam um bom alvo para ultrapassar a resistência à artemisinina”, refere o comunicado.
“Este é um avanço significativo”, resume John Adams no comunicado da Universidade do Sul da Flórida. “O genoma deste parasita da malária tem sido resistente à maioria dos métodos que existem na moderna caixa de ferramentas genéticas”, nota. Antes deste estudo, era já conhecida a importância funcional de algumas centenas de genes do parasita. Agora, com este trabalho, há um detalhado “catálogo” com uma lista de mais de 2600 genes que são decisivos para a sua sobrevivência. “Só” falta desenvolver uma eficaz estratégia de ataque aos alvos.