Alegre diz que PS abriu "caixa de Pandora" e vai ter de discutir Sócrates no congresso

Histórico socialista diz-se “perplexo” com o facto de, de um momento para o outro, ter caído a estratégia de António Costa com mais de três anos de separar o caso Sócrates da política e do PS.

Foto
NFS Nuno Ferreira Santos

O PS “abriu a caixa de pandora” ao trazer agora o nome de José Sócrates “de uma forma avulsa” para o debate político, em vez de fazer “uma necessária e serena reflexão política sobre o caldo de corrupção que ainda por aí está”. É Manuel Alegre, histórico do PS, que lança o aviso. “Sinto um grande mal-estar com tudo o que se passou, mas não sou um justiceiro ou um justicialista. Não confundo suspeitos com condenados”, afirmou ao PÚBLICO.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O PS “abriu a caixa de pandora” ao trazer agora o nome de José Sócrates “de uma forma avulsa” para o debate político, em vez de fazer “uma necessária e serena reflexão política sobre o caldo de corrupção que ainda por aí está”. É Manuel Alegre, histórico do PS, que lança o aviso. “Sinto um grande mal-estar com tudo o que se passou, mas não sou um justiceiro ou um justicialista. Não confundo suspeitos com condenados”, afirmou ao PÚBLICO.

O fundador do PS concorda com Ana Gomes que disse que o PS “não pode continuar a esconder a cabeça na carapaça da tartaruga” e que é preciso “escalpelizar como o partido se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos”. Já não concorda quando a eurodeputada socialista defende que o “próximo congresso é oportunidade” para fazer essa discussão.

“Um congresso é um acontecimento festivo e um espectáculo mediático. Não tem a serenidade necessária para discutir um assunto tão sério e grave como a corrupção, a promiscuidade entre a política e os negócios, ou a captura do Estado pelos interesses económicos. O PS e todos os partidos têm de fazer essa discussão, mas de forma serena e séria, e não transformando-a num espectáculo”, afirmou.

Porém, Manuel Alegre afirma que agora, com vários dirigentes do PS a trazerem o nome e o processo de José Sócrates para a discussão pública, “vão mesmo ter de o discutir no congresso” que começa no dia 25 deste mês. “Abriram o saco dos ventos e agora não vão conseguir escapar ao tema no congresso. Repito, não é o local próprio, mas agora vão ter mesmo de ter o tema José Sócrates no congresso.”

O histórico socialista diz-se mesmo “perplexo” ao ver como, de um momento para o outro, caiu a estratégia de António Costa, com mais de três anos, de separar o caso Sócrates da política e do PS. Mas diz também que “não é verdade” que no PS “todos tenham ficado calados sobre a necessidade de um debate sobre a corrupção” no Estado.  “Já por várias vezes me pronunciei sobre como a democracia está a ser contaminada pela corrupção e pela necessidade de haver um séria reflexão política sobre o assunto. Neste momento, a forma como a discussão está a ser feita está a contaminar ainda mais a política. Uma coisa é a reflexão, outra coisa é o justicialismo”, salienta.

Nesta matéria Manuel Alegre até dá razão a Rui Rio “pela forma serena como colocou alguns problemas”, como “a chamada de um ex-ministro [Manuel Pinho] ao Parlamento” ou a questão sobre “quem são os principais devedores da Caixa Geral de Depósitos” (CGD).

“O caso da CGD é uma vergonha. É preciso apurar quem são os devedores e quem está a proteger a divulgação desses devedores. Como é uma vergonha a forma como se privatizou os CTT, como é uma vergonha tudo o que se passa na EDP. Tudo isto tem de ser revelado e discutido politicamente com seriedade e serenidade. O caldo de corrupção ainda está por aí”, acrescenta.

Sobre o congresso do PS, Manuel Alegre diz ainda não ter decidido se estará presente.