Cheguei aos 40, dêem-me 40 mais!
Em 40 anos vivi, e apesar dos cabelos brancos, que já são muitos, mal posso esperar pelos próximos 40: quero viver ainda mais.
Cheguei aos 40 e ao inevitável balanço de uma vida que, rezam as crónicas e a biologia, vai agora a meio, e se assim for já não é mau.
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Cheguei aos 40 e ao inevitável balanço de uma vida que, rezam as crónicas e a biologia, vai agora a meio, e se assim for já não é mau.
Em 40 anos aprendi a andar, aprendi a ler e a contar, aprendi a gostar de bichos, apesar de ter sempre gostado de bichos, apesar de já ter nascido a gostar de bichos, e assim aprendi a gostar dos bichos ainda mais.
Em 40 anos aprendi a apaixonar-me, ou apaixonei-me, uma, duas, três, quatro, tantas vezes, mas só mais tarde namorei, só mais tarde amei.
Fui à escola, aprendi sobre as ciências exactas e as ciências assim-assim, e que por serem assim-assim são tão discutíveis, tão apetecíveis. Aprendi o português e outras línguas, fiz amizades e ainda mais amizades, socializei, integrei-me, e entrei para a faculdade.
Tirei um curso, e depois tentei tirar outro, porque entre um e o outro a sombra do desemprego, a exclusão do desemprego, cinco anos no total, sem valor, sem papel, o social e o monetário, e depois o desemprego outra vez, sem futuro à vista, e a saída do país para nunca mais voltar, pelo menos até às férias de Verão seguintes, e depois sempre que quiser, mas não quero, já não quero, já quis, agora não, agora sim, assim é o coração dividido, partido em dois.
E criei um blogue com mais de 150 mil visitas, onde expliquei o que fazer para dar aulas em Inglaterra, conheci e ajudei muitos professores, e não só, e fiz amizades aqui tão longe.
Escrevi um livro e depois outro, deram-me a oportunidade de escrever para um jornal e ainda hoje não me canso de agradecer.
Voltei a andar de bicicleta e nunca mais parei e, quem sabe, talvez a nossa próxima etapa seja Paris.
E digo nossa porque, finalmente, amei e casei para o resto da vida, a dois, num projecto só nosso onde cabem todos os sonhos e esta vontade de conhecer, aprender, partilhar, amar, andar para a frente com as mãos dadas num abraço do tamanho da vida, até que a morte nos separe.
Em 40 anos vivi, e apesar dos cabelos brancos, que já são muitos, mal posso esperar pelos próximos 40: quero viver ainda mais.