“Brexit”, May e Corbyn: vai tudo a exame nas eleições locais inglesas de hoje
Com a negra nuvem da saída da UE a pairar sobre o Reino Unido, eleitorado faz a primeira avaliação ao Governo e à oposição desde as eleições antecipadas de 2017. Labour parte à frente, tories preparam-se para o pior.
Qualquer eleição num país tido como democrático tem por hábito ser uma avaliação ao desempenho dos seus partidos e dirigentes políticos. Mas este evidente axioma é ainda mais flagrante no acto eleitoral desta quinta-feira no Reino Unido. Com mais de 4300 lugares em disputa, distribuídos por 150 círculos eleitorais, e outras seis competições pelo cargo de presidente da câmara, a Inglaterra transforma-se, por um dia, num barómetro à actuação do Governo e dos partidos opositores, num dos períodos políticos mais conturbados da história recente britânica, largamente influenciado pelas negociações do “Brexit”.
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Qualquer eleição num país tido como democrático tem por hábito ser uma avaliação ao desempenho dos seus partidos e dirigentes políticos. Mas este evidente axioma é ainda mais flagrante no acto eleitoral desta quinta-feira no Reino Unido. Com mais de 4300 lugares em disputa, distribuídos por 150 círculos eleitorais, e outras seis competições pelo cargo de presidente da câmara, a Inglaterra transforma-se, por um dia, num barómetro à actuação do Governo e dos partidos opositores, num dos períodos políticos mais conturbados da história recente britânica, largamente influenciado pelas negociações do “Brexit”.
País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte não entram nas contas destas eleições locais, que terão em Londres, Manchester, Birmingham, Leeds ou Newcastle os seus mais interessantes duelos. Na capital escolhem-se ainda os representantes máximos de cinco circunscrições, tal como em Sheffield, que elegerá o seu primeiro presidente de câmara.
Naquele que é o primeiro grande teste à governação de Theresa May e à oposição de Jeremy Corbyn desde as eleições antecipadas de Junho de 2017 – onde a primeira-ministra perdeu a maioria parlamentar e o trabalhista conseguiu um resultado bastante melhor que o esperado – adivinha-se um soco no estômago do Partido Conservador.
O confuso e atribulado rumo das negociações entre o executivo de May e Bruxelas, com vista ao abandono britânico da União Europeia, somado às constantes polémicas envolvendo ministros do seu Governo – que obrigaram a sucessivas remodelações na equipa – e aos cortes no financiamento local e nos apoios sociais, deixaram o Partido Conservador com poucas esperanças de aspirar a bons resultados e com a noção clara de que os cerca de 1350 postos que o partido controla nos councils em disputa poderão ser significativamente reduzidos.
Nestas contas, poderá ser o “Brexit” e tudo o que ele implica a moldar o desempenho eleitoral tory. As dificuldades demonstradas pelo Governo em demonstrar que a sua estratégia é a mais vantajosa para o Reino Unido e que o impacto do divórcio não será tão catastrófico para a economia britânica como os estudos sugerem, fizeram recuar muitos dos defendores do "Brexit", que olham para as eleições locais como um meio para demonstrarem o seu arrependimento ou para punirem a visão seguida por May.
A esta matéria acresce mais um dado pouco animador para os conservadores. Ao contrário das eleições gerais do ano passado e do referendo de 2016 à Europa, para as locais estão elegíveis milhares de cidadãos naturais de outros Estados-membros da UE, que quererão utilizar o voto como arma de arremesso contra os planos do Governo para o “Brexit” e suas políticas migratórias.
“O Brexit sobrepõe-se e confunde estas eleições locais, tal como tem feito em relação a toda a vida política, refractada e fracturada por esta grande divisão”, escreve a colunista Polly Toynbee no Guardian
Face a um cenário tão negro, ao Partido Conservador resta-lhe agarrar-se a duas possíveis tábuas de salvação: a queda a pique do partido anti-UE e anti-imigração UKIP pode ajudá-lo a conquistar a confiança de algum eleitorado pró-“Brexit” nestas eleições; e a liderança nas intenções de voto a nível nacional, com um 1 ponto de vantagem sobre os trabalhistas – segundo uma sondagem reproduzida pelo Financial Times –, pode oferecer-lhe o respaldo necessário para não se sentir deslegitimado em caso de uma derrota pesada nas locais.
Corbyn à prova
Os apertos que enfrentam os tories não significam, no entanto, que o Labour tenha via livre para um triunfo garantido. Apesar de partir como favorito – até porque é o partido que ocupa mais lugares nos councils em jogo (acima dos 2200) – o Partido Trabalhista chega a estas eleições depois de semanas complicadas para o seu líder.
As dúvidas levantadas por Corbyn sobre a autoria do ataque químico a um ex-espião russo em solo britânico e as acusações de anti-semitismo dentro do Labour danificaram a aura de optimismo que o líder carregava desde as eleições de 2017 e fizeram soar os alarmes em algumas facções dentro do maior partido de esquerda do Reino Unido
As locais serão mais um enorme teste à liderança de Corbyn, até porque é a primeira vez que os trabalhistas chegam a umas eleições como favoritos, desde que o líder assumiu esse papel, em Setembro de 2015.
Um factor que aumenta as responsabilidades de Corbyn e que obriga o Labour a lograr mais do que a mera conquista dos lugares que já ocupa. Uma derrota no bairro londrino de Barnet – maioritariamente judeu – ou a conquista dos bastiões conservadores de Wandsworth e Westminster podem marcar a diferença entre uma vitória confrangedora e um triunfo arrebatador.
A torcer por uma nota positiva no exame das locais estão ainda os Liberais Democratas, que sob a liderança de Vince Cable procuram regressar à ribalta política como os grandes mobilizadores para a realização de um segundo referendo britânico à União Europeia.