Corrigir o tiro

Obrigados pelo PSD a reagir, percebe-se claramente que o PS e os parceiros de esquerda não vão deixar Pinho queimar-se sozinho. Não que gostem especialmente de Pinho, mas porque cada um tem outros interesses a preservar.

Portugal tem um ex-primeiro-ministro acusado de corrupção e branqueamento de capitais. E pode vir a ter um ex-ministro do mesmo Governo acusado, no mínimo, de recebimento indevido de vantagem. É essa a dúvida que persiste há 12 dias, desde que o Observador deu a notícia de que Manuel Pinho terá recebido, enquanto ministro da Economia de José Sócrates, meio milhão de euros do “saco azul” do Grupo Espírito Santo (14.963,94 euros por mês). Surpreendentemente, isto só pareceu ser um problema político (e bem) para Rui Rio, que desafiou o ex-ministro a explicar-se na Assembleia da República.

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Portugal tem um ex-primeiro-ministro acusado de corrupção e branqueamento de capitais. E pode vir a ter um ex-ministro do mesmo Governo acusado, no mínimo, de recebimento indevido de vantagem. É essa a dúvida que persiste há 12 dias, desde que o Observador deu a notícia de que Manuel Pinho terá recebido, enquanto ministro da Economia de José Sócrates, meio milhão de euros do “saco azul” do Grupo Espírito Santo (14.963,94 euros por mês). Surpreendentemente, isto só pareceu ser um problema político (e bem) para Rui Rio, que desafiou o ex-ministro a explicar-se na Assembleia da República.

O PS perdeu uma boa oportunidade de tomar a iniciativa numa matéria altamente corrosiva para a própria democracia. O presidente do partido, Carlos César, limitava-se há dias a comentar na SIC-N que “o país tem razões, neste caso, como em outros que se comprovem, para se envergonhar com determinadas condutas”. No pasa nada. A eurodeputada Ana Gomes, para quem o PS não pode continuar a ser “instrumento de corruptos e criminosos”, ficou praticamente a falar sozinha.

Agora, perante o despertar de Rui Rio e do PSD, o BE vai mais longe e lembrou-se de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar Pinho e todas as decisões que este e os seus antecessores do PSD tomaram sobre as chamadas “rendas excessivas” da EDP (tema caro a Catarina Martins, que assim pressiona Costa convenientemente a tempo da preparação do Orçamento do Estado para 2019). E o mesmo Carlos César corrige o tom e já considera necessário “o mais depressa possível” escrutinar todas as decisões que Pinho tomou e que “possam relacionar-se com a situação que lhe é imputada e que ainda não desmentiu” (para afastar qualquer ideia de que Governo PS rima com corrupção).

Obrigados pelo PSD a reagir, percebe-se claramente que o PS e os parceiros de esquerda não vão deixar Pinho queimar-se sozinho. Não que gostem especialmente de Pinho, mas porque cada um tem outros interesses a preservar.

Quase em simultâneo, note-se, Pinho emitia um comunicado a disponibilizar-se para ir ao Parlamento. Curiosamente, quando foi constituído arguido no chamado “processo dos CMEC”, juntamente com António Mexia e outros seis arguidos, no ano passado, o próprio mostrava-se disponível para ir à Assembleia da República... caso o primeiro-ministro “assim o entender”.