Viva, César Cardoso!
A música jazz é bem capaz de ser a coisa que mais melhorou em Portugal nos últimos tempos.
Começa a ser gloriosamente banal abrir a Downbeat e ler uma crítica elogiosa dum disco de músicos portugueses. Este mês foi o álbum Interchange do saxofonista César Cardoso. Depois de ter tido o enorme prazer de o ouvir até acho que quatro estrelas são poucas. A discussão eterna à volta da palavra jazz, rejeitada por muitos ilustres, mostra que na música, como em todas as artes, os preconceitos são tampões de ouvidos.
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Começa a ser gloriosamente banal abrir a Downbeat e ler uma crítica elogiosa dum disco de músicos portugueses. Este mês foi o álbum Interchange do saxofonista César Cardoso. Depois de ter tido o enorme prazer de o ouvir até acho que quatro estrelas são poucas. A discussão eterna à volta da palavra jazz, rejeitada por muitos ilustres, mostra que na música, como em todas as artes, os preconceitos são tampões de ouvidos.
A música jazz é bem capaz de ser a coisa que mais melhorou em Portugal nos últimos tempos. Dantes era o deserto com esporádicas aparições de santos, quase nenhuns da casa. Agora é, em comparação, um paraíso permanente em que a única tragédia é a nossa ignorância.
As pessoas do jazz fizeram o mais difícil: tudo o que havia para fazer. Agora só resta que as pessoas fora do jazz despreguicem e tenham a amabilidade de conhecer e se apaixonar pela música que hoje se faz em Portugal.
Não é por ser portuguesa. É por ser música. É por não pedir desculpa. É por não ser preciso dar descontos. Se o genial Miguel Zénon quis tocar com César Cardoso e os outros grandes músicos que o acompanham (o guitarrista Bruno Santos, o baterista André Sousa Machado e o contrabaixista argentino Demian Cabaud), não será altura de começar a prestar atenção a esta música tão excitante e bonita, melodiosa e inteligente?
Interchange saiu em Fevereiro e é o terceiro disco de César Cardoso: as voltas que teve de dar para chegar aqui hoje! Alguma coisa está mal. Deus queira que seja só eu.