Trump tem menos uma investigação à perna, mas a maior continua a morder

Republicanos da Câmara dos Representantes não encontraram provas de concluio entre Trump e a Rússia, mas os seus colegas do Partido Democrata dizem que a investigação foi uma farsa.

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Trump voltou a criticar o que chama de "caça às bruxas" Reuters/KEVIN LAMARQUE

A conclusão já tinha sido avançada em Março, mas os pormenores só foram divulgados esta sexta-feira, num relatório com 243 páginas: os congressistas do Partido Republicano que investigaram as ligações entre a campanha eleitoral de Donald Trump e a Rússia não encontraram nenhum indício de conluio. Apesar de ser uma conclusão esperada para quem foi acompanhando a investigação, o relatório final ajuda a perceber o tamanho do fosso que separa actualmente os dois maiores partidos norte-americanos.

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A conclusão já tinha sido avançada em Março, mas os pormenores só foram divulgados esta sexta-feira, num relatório com 243 páginas: os congressistas do Partido Republicano que investigaram as ligações entre a campanha eleitoral de Donald Trump e a Rússia não encontraram nenhum indício de conluio. Apesar de ser uma conclusão esperada para quem foi acompanhando a investigação, o relatório final ajuda a perceber o tamanho do fosso que separa actualmente os dois maiores partidos norte-americanos.

Esta investigação, da Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, era uma das várias que foram lançadas sobre as ligações entre Trump e a Rússia. Para além de outras mais focadas em pormenores, estão ainda abertas a investigação da Comissão de Serviços Secretos do Senado e a maior e mais abrangente de todas – a investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller, que é também a única com poder para recomendar uma acusação criminal.

As comissões da Câmara dos Representantes e do Senado são constituídas por congressistas dos dois partidos, mas quem está em maioria tem direito a um representante a mais, que funciona como presidente. É por isso que, neste caso, e partindo do princípio de que todos os republicanos iriam votar da mesma forma, o resultado era esperado.

Mas as comissões da Câmara dos Representantes e do Senado são, tradicionalmente, espaços onde os dois partidos podem deixar um pouco de lado as suas divergências. Servem, antes de mais, para supervisionar as várias áreas do governo norte-americano – uma tradição que se foi perdendo na última década, até ao ponto de já poucos esperarem votações finais que não sejam em linha com os interesses dos partidos.

E foi isso que aconteceu na investigação da Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes: os 11 republicanos aprovaram um relatório que iliba a campanha de Donald Trump de conluio com a Rússia, e os dez democratas acusaram os seus colegas do outro partido de estarem apenas a defender a Casa Branca.

Apesar de não fazer uma defesa total das relações entre a campanha de Trump e a Rússia, o relatório diz que apenas foi possível verificar que houve "vários contactos imprudentes entre pessoas associadas a Trump e russos – ou com os seus representantes, como a WikiLeaks". Mais do que isso, não houve: "A comissão não determinou que Trump ou alguém associado a ele colaborou com a operação da Rússia."

Ainda assim, o relatório deixa algumas sugestões para fortalecer o processo eleitoral norte-americano, e alerta para a possibilidade de a Rússia voltar a tentar interferir. "A não ser que a equação de custo-benefício dessas operações mude de forma significativa, o regime de Putin e outros governos hostis vão continuar a lançar estes ataques contra os Estados Unidos e os seus aliados."

Do outro lado, o Partido Democrata acusa os congressistas do Partido Republicano de não terem chamado a depor figuras que consideravam ser essenciais para a investigação. "Em vez de protegerem a nossa democracia, os republicanos da Câmara dos Representantes fizeram horas extraordinárias para protegerem o Presidente Trump, a sua família e os seus amigos", disse o congressista Eric Swalwell em Março, quando os republicanos anunciaram o fim da investigação.

Perceber o grau de defesa e de ataque dos congressistas de ambos os partidos em relação ao Presidente Trump é também importante para se avaliar as possibilidades de sucesso de um eventual processo de destituição. 

Esse processo só poder ser iniciado pelo Congresso, e para que isso aconteça é também necessário que a maioria dos congressistas do Partido Republicano, na Câmara dos Representantes e no Senado, estejam convencidos de que Trump cometeu actos passíveis de destituição – algo que não faz sentido imaginar no contexto actual.

Assim que o relatório final foi publicado, esta sexta-feira, o Presidente Trump voltou a congratular-se com o resultado, que já é conhecido desde o mês passado: "'Nenhum indício' de que a campanha de Trump 'se coordenou ou conspirou com a Rússia.' A campanha de Clinton pagou investigações da oposição obtidas da Rússia – Wow! Uma Caça às Bruxas total! TEM DE ACABAR AGORA!"

Trump referia-se à investigação liderada pelo procurador Mueller, que continua a chegar cada vez mais perto do Presidente e do seu círculo mais próximo. Neste momento está a ser discutida a possibilidade de Trump ser entrevistado por Mueller – o Presidente disse em várias ocasiões que não teria nenhum problema em falar com o procurador especial, mas nunca deu uma certeza absoluta.

E parece ter recuado nessa disponibilidade depois de um tribunal de Nova Iorque ter ordenado buscas a casa de um dos seus advogados, Michael Cohen, no caso das suspeitas de pagamentos a uma estrela de filmes pornográficos, Stormy Daniels, para que mantivesse em segredo uma antiga relação entre os dois.

Michael Cohen, advogado de longa data de Trump, enquanto empresário de Nova Iorque, invocou entretanto os direitos da Quinta Emenda da Constituição americana, que protege cidadãos dos EUA de se auto-incriminarem, ou seja, assim não terá de responder a perguntas ou dar informações que o possam incriminar.