João Lourenço concentra poderes em Angola com liderança do MPLA
José Eduardo dos Santos deixa presidência do partido em Setembro, quando pretendia que data fosse Dezembro ou Abril de 2019.
Mais do que a saída de José Eduardo dos Santos da presidência do MPLA, o que o bureau político aprovou formalmente nesta sexta-feira foi o reforço de poderes de João Lourenço, que vai passar a liderar o partido a partir de Setembro.
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Mais do que a saída de José Eduardo dos Santos da presidência do MPLA, o que o bureau político aprovou formalmente nesta sexta-feira foi o reforço de poderes de João Lourenço, que vai passar a liderar o partido a partir de Setembro.
Até aqui, João Lourenço, presidente da República de Angola, era o vice-presidente do MPLA, num país onde o partido se confunde com o Estado. Enquanto presidente do partido, José Eduardo dos Santos tinha ainda poderes efectivos, o que provocou diversos comentários sobre uma espécie de liderança bicéfala.
No início de Janeiro, num encontro inédito com jornalistas, João Lourenço afirmou que nada o obrigava a ser presidente do MPLA “para poder ser Presidente da República”. “Sinto-me bem na situação em que me encontro”, afirmou. Agora, prepara-se para acumular as duas funções, tal como fez o seu antecessor. Conforme está expresso no comunicado do MPLA distribuído nesta sexta-feira, o bureau político aprovou a realização do 6.º congresso extraordinário, que se vai realizar na primeira quinzena de Setembro e, “consequentemente, aprovou a candidatura do camarada João Lourenço”.
A 16 de Março, José Eduardo do Santos tinha expresso vontade de marcar para Dezembro deste ano ou Abril de 2019 o congresso extraordinário do partido que iria determinar a sua saída. Isto, disse, para se poder envolver “pessoalmente” no grupo de trabalho que ao longo de 2018 vai preparar a estratégia do MPLA para as primeiras eleições autárquicas no país. Após várias reacções negativas em Luanda por causa das datas escolhidas, já que poderiam indicar a relutância de José Eduardo dos Santos em deixar o poder que ainda lhe resta, o congresso extraordinário acaba por ser agendado três meses mais cedo do que o calendário mais curto desejado publicamente por Eduardo dos Santos.
No mesmo comunicado que prepara a saída de cena efectiva do homem que governou Angola durante quase quatro décadas, o bureau político, após uma reunião que contou com o ex-Presidente, “recomendou que sejam cada vez mais enaltecidos os feitos da liderança do camarada presidente José Eduardo dos Santos”, ao mesmo tempo que exortou “a uma maior coesão no seio do MPLA”.
Desde que deixou a presidência após as eleições de Agosto de 2017, José Eduardo dos Santos tem feito muito poucas intervenções públicas, mesmo quando o alvo foram seus apoiantes ou mesmo os seus filhos, como quando Isabel dos Santos foi afastada da Sonangol no meio de algum estrondo, ou Filomeno dos Santos removido da presidência do fundo soberano com suspeitas sobre a gestão do dinheiro (foi entretanto constituído arguido e está proibido de sair do país por suspeita de fraude e desvio de dinheiro público).
Após Setembro, ficará então confirmada a mudança de ciclo de Angola, com os poderes de José Eduardo dos Santos a serem transferidos para João Lourenço.