A luz serena de um novo Norberto Lobo irradia no Maria Matos
Estrela é o título do novo álbum do guitarrista. Gravado com Yaw Tembe, Ricardo Jacinto e Marco Franco, será apresentado esta sexta-feira no teatro lisboeta.
O mistério manifestava-se de várias formas. Na paisagem luxuriante que envolvia o homem que segurava nas mãos as asas de um morcego gigante. Na figura erguida no meio da floresta, qual totem esculpido em corpo humano harmonioso. O mistério estava na música de Fornalha, o do morcego na capa, e de Muxama, o da figura humana. Editados em 2014 e 2016, eram até esta sexta-feira os dois álbuns mais recentes de Norberto Lobo, aqueles em que o guitarrista explorou o seu instrumento como orquestra de sons que organizou como um cosmos da sua criação.
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O mistério manifestava-se de várias formas. Na paisagem luxuriante que envolvia o homem que segurava nas mãos as asas de um morcego gigante. Na figura erguida no meio da floresta, qual totem esculpido em corpo humano harmonioso. O mistério estava na música de Fornalha, o do morcego na capa, e de Muxama, o da figura humana. Editados em 2014 e 2016, eram até esta sexta-feira os dois álbuns mais recentes de Norberto Lobo, aqueles em que o guitarrista explorou o seu instrumento como orquestra de sons que organizou como um cosmos da sua criação.
São dois álbuns especiais na admirável carreira a solo de Norberto Lobo, iniciada em 2007 com Mudar de Bina. Especiais como será especial descobri-lo agora no disco que lhe dá sequência e que será apresentado esta sexta-feira, o dia do seu lançamento comercial, no Teatro Maria Matos, em Lisboa (22h, bilhetes entres os 6 e os 12 euros).
Em Estrela, lançado tal como os dois álbuns anteriores pela editora suíça Three:Four Records, Norberto Lobo faz-se acompanhar da guitarra, como é de rigor, eléctrica, neste caso. Porém, não estará sozinho. Estrela, álbum solar, álbum de uma tocante serenidade, foi gravado com um trio formado pelo baterista Marco Franco (e pianista, como descobrimos o ano passado no surpreeendente Mudra), pelo violoncelista e artista plástico Ricardo Jacinto e pelo trompetista e também artista plástico Yaw Tembe, nascido na Suazilândia e chegado a Portugal na infância. Três músicos com vasto currículo de colaborações no cenário português do jazz e da improvisação — e para além desses universos —, três músicos que Norberto Lobo logo imaginou a seu lado quando começaram a nascer os temas que compõem Estrela.
Foi o que disse o guitarrista quando o telefonema do PÚBLICO interrompeu um dos ensaios de preparação do concerto desta noite. Como é habitual nele, é a natureza da música que impõe o caminho a seguir. Neste caso, “o grupo de canções que vieram dar a este álbum” sugeriram-lhe “outras vozes”: “Comecei a ouvir o trompete, uma base rítmica”. Na visão de Norberto, os instrumentos que os temas pediam já traziam consigo os respectivos instrumentistas. Alguns dos temas, como nos conta, já integravam os concertos posteriores à edição de Muxama – e Figueira, que ali encontrávamos, foi agora recuperado com novo arranjo.
Trabalhado inicialmente em duos ou trios — “queria ensinar as músicas a cada um individualmente, também para perceber em que direcção é que poderiam seguir, num processo de aprendizagem mútuo” —, a música de Estrela, tal como a ouvimos no álbum agora editado, foi gravada em Junho de 2017 na associação Oficinas do Convento, no Convento de São Francisco, Montemor-o-Novo. “Entretanto, a música já se tornou deles [dos músicos que o acompanham], porque todos interpretam de forma diferente, porque trazem sugestões de arranjos, porque estamos em intimidade”, diz Norberto Lobo.
Composto por oito temas, Estrela é, como escrevemos, um álbum de luz e de serenidade. Faz-se do diálogo frutuoso entre a guitarra de Norberto Lobo (e, ocasionalmente, do seu canto sem palavras) e o sopro dolente do trompete de Yaw Tembe, acompanhados com sábia delicadeza pela secção rítmica de Marco Franco e Ricardo Jacinto. Nele encontramos uma canção intitulada Noel Rosa, em referência ao histórico compositor brasileiro, reformador do samba nas primeiras décadas do século XX, encontramos uma outra chamada Oumuamua, no que é uma referência ao viajante interestelar, um objecto espacial de forma incomum, que foi visto a atravessar misteriosamente o Sistema Solar em Outubro de 2017.
A foto que faz a capa de Estrela, tal como as de Fornalha e Muxama, é de António Júlio Duarte. Nele, vemos um mergulhador emergir das profundezas do mar. “Não sei se é o fim da trilogia, se é o início de outra coisa”, diz Norberto sobre o seu novo álbum. Estrela tem uma luz retemperadora, mas o mistério continua.