Quatro sinais deste Abril (moderno)
Nem Cristo desce à terra, nem Marcelo sobe ao céu. O discurso do Presidente deve ser relido, porque tem mensagem. Mas há outros sinais a reter destes discursos de Abril.
1. Nem Cristo desce à terra, nem Marcelo sobe ao céu. Marcelo falou dele próprio, no discurso do 25 de Abril, e logo para avisar que ele não é o salvador: "Não confundimos o prestígio ou a popularidade mais ou menos conjuntural de um ou mais titulares do poder com endeusamentos ou vocação salvífica”, disse-nos o Presidente.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
1. Nem Cristo desce à terra, nem Marcelo sobe ao céu. Marcelo falou dele próprio, no discurso do 25 de Abril, e logo para avisar que ele não é o salvador: "Não confundimos o prestígio ou a popularidade mais ou menos conjuntural de um ou mais titulares do poder com endeusamentos ou vocação salvífica”, disse-nos o Presidente.
Há um quê de humildade neste alerta do Presidente, mas há também muito de justificação. Ele, Marcelo, é quem preenche o vazio, porque "os vazios alimentarão tentações perigosas, ilusões sebastianistas, messiânicas e providenciais”; ele, Marcelo, é peça central na separação de poderes, e só esse equilíbrio de poderes "permite moderar tropismos para lideranças populistas na forma ou nos conteúdos”. Eis Marcelo na sua justificação: não basta que os tempos corram de feição, porque o perigo para a democracia não morreu em Abril, nem com a sua eleição em Janeiro de 2016. As próximas presidenciais, já se sabe, são em Janeiro de 2021.
2. Os políticos estão preocupados. Neste Abril houve pelo menos quatro discursos a falar da corrupção e da necessidade de a atacar, incluindo o Presidente. Mas foi o Presidente da Assembleia da República quem mais ousou: dois anos depois de o ter dito numa entrevista ao PÚBLICO, Ferro Rodrigues voltou a propor que os partidos pensem já sobre o reforço da exclusividade dos deputados, para que na próxima legislatura se qualifique sem medo a classe dos que nos dirigem.
A altura é boa porque o país cresce; a solução faz sentido, porque precisamos dessa qualificação; mas o mote é o pior, porque Ferro assume que as notícias sobre as viagens de Carlos César são “um ataque de carácter”. Não são: na melhor das hipóteses são um problema por resolver na Assembleia. Agora, espera-se que Ferro não espere mais dois anos para promover a discussão.
3. O melhor discurso de Abril veio da Jota. A jovem Margarida Balseiro Lopes levou o cravo à esquerda, elogiou Jerónimo, Catarina Martins, Carlos César e Assunção Cristas, lembrou que Abril é sobre os valores comuns e não sobre ideologias concorrenciais e pediu que os políticos se unissem a construir. Pelos vistos, não são precisos mais de 30 anos para se chegar ao bom senso.
4. O Bloco quer um Orçamento que não agrade ao Eurogrupo. E Costa respondeu a seguir que “Eurogrupo não rima com liberdade, mas fortalece a liberdade”. Neste Abril tranquilo, em que o primeiro-ministro disse que “nem sempre é possível interpretar os discursos modernos”, há um sinal que pode e deve interpretar: o Bloco adiou a sua convenção uns meses e marcou-a para… meio de Novembro. É mesmo antes da votação final do Orçamento. Virá crise?