Prioridade na Síria é evitar nova catástrofe humanitária em Idlib
UE e ONU juntaram 85 delegações em Bruxelas para discutir respostas para a crise na Síria. Segundo Federica Mogherini, o primeiro passo é a cessação das hostilidades. "Mais actividade militar só torna a solução mais difícil", diz.
Na longa guerra da Síria, onde as vitórias militares não contribuem para apressar uma solução política do conflito mas antes têm servido de pretexto para escaladas retóricas e no terreno, a prioridade da comunidade internacional passa por evitar uma nova catástrofe humanitária. “Idlib não pode tornar-se o próximo Alepo, ou a nova Ghouta”, alertou o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan De Mistura, na segunda conferência internacional de doadores de Bruxelas.
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Na longa guerra da Síria, onde as vitórias militares não contribuem para apressar uma solução política do conflito mas antes têm servido de pretexto para escaladas retóricas e no terreno, a prioridade da comunidade internacional passa por evitar uma nova catástrofe humanitária. “Idlib não pode tornar-se o próximo Alepo, ou a nova Ghouta”, alertou o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan De Mistura, na segunda conferência internacional de doadores de Bruxelas.
A província de dois milhões de pessoas é agora o último reduto dos combatentes que se opõem ao regime do Presidente Bashar al-Assad — e também degrupos extremistas como o Hay’at Tahrir al-Sham, que aproveitando o vazio criado pela guerra civil instalaram a jihad na Síria.
“É urgente uma cessação das hostilidades. Mais actividade militar só tornam a resposta humanitária e a solução política mais difíceis”, vincou a a alta representante da União Europeia para a política externa, Federica Mogherini.
Como De Mistura, a anfitriã e co-organizadora da conferência de apoio à Síria em Bruxelas, repetiu que o regresso à mesa das negociações em Genebra, e a conclusão do processo político sob a supervisão da ONU, é a única solução possível para pôr termo à guerra civil — e abrir caminho à reconstrução do país e regresso a casa de milhões de refugiados, tanto internos como distribuídos em campos no Líbano, Jordânia ou Turquia.
“Os últimos dias e semanas provaram que a escalada militar não trouxe nenhuma mudança”, e apenas contribuiu para deixar o mundo à beira de uma nova Guerra Fria, insistiu o enviado da ONU. “Os movimentos militares não vão trazer a paz. Serão uma vitória de Pirro”, acrescentou, defendendo o desenvolvimento dos “altos contactos diplomáticos em curso”.
Nem oposição nem regime
Sustentado militarmente por Moscovo e Teerão, o Presidente sírio, Bashar Al-Assad, parece pouco interessado em ceder à diplomacia internacional e aceitar uma negociação que implique uma revisão constitucional e a convocação de eleições. E a oposição, fragmentada, desorganizada e afastada das conversas em Astana ou Sochi, não consegue afirmar sequer a sua relevância.
Nem o Governo de Damasco, nem os representantes da coligação de opositores no exílio participaram na conferência de Bruxelas para “apoiar o futuro da Síria e da região”.
Mas entre as 85 delegações que participaram no evento encontravam-se os principais actores regionais — os líderes dos principais países de acolhimento de refugiados, e, crucialmente, representantes dos principais aliados do Governo de Damasco, e membros da coligação internacional que combate o Daesh em território sírio.
“Não esperávamos que no final destes dois dias conseguíssemos anunciar um avanço no aspecto político da crise”, confessou De Mistura, que entre a constatação de que “a actual atmosfera não permite uma negociação genuína entre regime e oposição” e o reconhecimento de que as “divisões profundas” no conselho de Segurança ainda impedem a aplicação da resolução 2254.
Também do lado financeiro, as posições dos participantes não foram muito além do que já se esperava. A UE comprometeu-se a manter a sua assistência financeira anual de 560 milhões de euros até 2020. Alguns países, caso da Alemanha ou do Reino Unido, revelaram-se “muito generosos” nos seus compromissos, notou o vice secretário-geral da ONU para as questões humanitárias, Mark Lowcock.
Mas por constrangimentos orçamentais e “outras pressões”, alguns dos doadores, com os Estados Unidos à cabeça, não avançaram ainda o montante que pretendem disponibilizar para apoiar a população síria. “Gostaríamos de ter atingido já hoje a meta do nosso apelo [de 8000 milhões de dólares] mas foi um bom começo”, considerou Lowcock.
Em 2017, o total recolhido no âmbito ascendeu a 7,5 mil milhões de dólares, e os organizadores acreditam que este ano conseguirão um valor mais elevado. O dinheiro, informou Lowcock, será distribuído segundo os mesmos critérios de neutralidade e independência, com o foco na assistência às populações mais vulneráveis e necessitadas. No ano passado, isso correspondeu ao apoio de 7,5 milhões de pessoas por mês.