O Irão não deve ter armas nucleares. "Ne-ver", disse Macron

Discurso do Presidente francês no Congresso norte-americano teve várias alfinetadas a Trump, mas apresentou-se como representante de um país que é o mais velho amigo e aliado dos EUA.

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Brian Snyder/REUTERS

O Irão não deve nunca ter armas nucleares, afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, no seu discurso no Congresso dos Estados Unidos, em Washington. “Nem agora, nem dentro de cinco anos, ou dez anos. Ne-ver [nunca)”, frisou, falando em inglês. “Mas esta política não nos deve levar a uma nova guerra no Médio Oriente. Temos de respeitar a soberania do Irão”, afirmou Macron, garantindo que França iria permanecer no acordo nuclear assinado em 2015 com aquela nação.

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O Irão não deve nunca ter armas nucleares, afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, no seu discurso no Congresso dos Estados Unidos, em Washington. “Nem agora, nem dentro de cinco anos, ou dez anos. Ne-ver [nunca)”, frisou, falando em inglês. “Mas esta política não nos deve levar a uma nova guerra no Médio Oriente. Temos de respeitar a soberania do Irão”, afirmou Macron, garantindo que França iria permanecer no acordo nuclear assinado em 2015 com aquela nação.

“Mas é verdade que este acordo pode não dar resposta a todas as preocupações. Mas não devemos abandoná-lo sem ter algo mais substancial. O que decidimos fazer é trabalhar num acordo mais abrangente, que trate de todas estas questões”, afirmou.

A releitura do acordo versará sobre o que designou como quatro pilares, que dizem respeito aos receios manifestados pelos Estados Unidos: a própria substância do documento actual; o período pós-2025, para garantir que não haverá nunca armas nucleares no Irão; a contenção da influência militar do Irão na sua região de influência; e o acompanhamento do programa balístico iraniano.

O tom do discurso de Macron em Washington foi de Presidente de um país que é o melhor amigo dos Estados Unidos, um velho amigo dos primórdios e que, por isso, pode permitir-se dizer algumas verdades inconvenientes. Com firmeza e amizade.

A amizade vem desde o tempo das revoluções, da Francesa e da Americana, desde que o marquês de Lafayette combateu na guerra da independência americana ao lado de George Washington, no século XVII, e “chamava a si póprio filho dos Estados Unidos”, como recordou Macron, e Washington passou “a chamar-se a si próprio 'filho de França'”, quando lhe foi atribuída a cidadania francesa.

As provas desta histórica amizade transatlântica serviram ao Presidente francês para melhor argumentar com as críticas que trazia: ao nacionalismo, à guerra comercial, à falta de vontade de lutar contra as alterações climáticas que põem em causa o planeta.

São temas que andam arredados nos últimos anos do lugar em que os representantes do povo norte-americano se reúnem. Macron falou dos riscos do isolacionismo e do nacionalismo, pilares do “America First” de Donald Trump – embora não se tenha referido directamente ao seu anfitrião. “Podemos apostar nos medos, naquilo que irrita as pessoas… mas isso não permite construir nada, a raiva apenas nos paralisa, enfraquece-nos”, sublinhou Macron.

“Podemos escolher o isolacionismo. Pode ser tentador, dados os nossos temores. Mas fechar a porta não resolverá os problemas do mundo. Só se decidirmos manter os olhos bem abertos nos tornaremos mais fortes”, frisou o Presidente francês, que falou em inglês perante os senadores e representantes americanos, e foi muito aplaudido durante o discurso.

“Devemos ter consciência dos novos riscos. Todas as potências sentirão um vazio sem a ONU, sem a NATO e nenhuma potência hesitaria a tentar impor o seu modelo para estruturar a ordem mundial no século XXI. Eu não partilho esse fascínio pelos homens fortes, as ilusões do nacionalismo”, sublinhou Macron, numa das várias alfinetadas que deu a Trump.

Multilateralismo foi uma palavra-chave do discurso de Macron no Congresso americano – uma expressão há muito caída em desgraça entre os conservadores. “Podemos construir uma nova ordem para o século XXI baseada num multilateralismo forte. Foram os EUA que o inventaram, e precisamos de vocês para o reinventar”, apelou o francês. “Este multiculturalismo forte não vai diminuir os nossos valores nacionais. Vai respeitar as nossas culturas e permitir que floresçam juntas, porque as culturas de ambos os lados do Atlântico baseiam-se numa forte ligação entre a democracia e a liberdade”, frisou.

Macron falou nas alterações climáticas – disse ter a certeza que os EUA um dia regressarão ao Acordo de Paris para controlar as emissões de gases com efeito de estufa –, explicou porque é contra as guerras comerciais, que acabarão por produzir mais desemprego.

Falou do terrorismo, que uniu na experiência da dor EUA e França – os atentados de 2001 vão tendo sucessivas cópias em França, nos últimos cinco anos, sublinhou Macron.

E o Presidente francês falou até na batalha contra o “vírus das fake news”, que disse querer introduzir na agenda da próxima reunião do grupo dos sete países mais industrializados (G7). “Mas quero atribuir o copy right”, frisou, em mais um aparte que tinha Trump como destinatário. “A democracia é escolha. Corromper a informação é tentar pôr em causa a democracia”, afirmou Macron.