Líder judaico lamenta que "mono do Rato" venha "fechar o cerco" à sinagoga

Edifício de culto judaico não tem fachadas viradas para a rua devido a uma imposição legal da época em que foi construído.

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O líder da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) lamenta que a construção de um edifício como o “mono do Rato” venha tornar ainda mais invisível aos lisboetas a sinagoga da Rua Alexandre Herculano, actualmente a única da cidade.

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O líder da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) lamenta que a construção de um edifício como o “mono do Rato” venha tornar ainda mais invisível aos lisboetas a sinagoga da Rua Alexandre Herculano, actualmente a única da cidade.

Marcos Prist afirma ao PÚBLICO que a comunidade “não pode deixar de lamentar, tal como manifestou repetidamente à câmara municipal, que a sua sinagoga, outrora visível apesar de recuada, tenha vindo a ficar rodeada de edifícios altos ao longo dos anos”. Para o director executivo da CIL, a construção de um prédio na esquina entre o Largo do Rato e as ruas do Salitre e Alexandre Herculano vem “fechar o cerco” à sinagoga, que não tem fachadas para a via pública. Quando foi construída, no princípio do século XX, os locais de culto não católicos não podiam ter portas abertas directamente para a rua.

Por isso, ainda hoje só se acede à sinagoga através de um discreto portão de ferro branco situado na Alexandre Herculano, por cima do qual se ergue uma grande vedação. “É um edifício magnífico no seu exterior e interior, que data de 1904, assinado pelo conhecido arquitecto Miguel Ventura Terra, estando também classificado como Imóvel de Interesse Público”, lembra Marcos Prist. “É sem dúvida uma das mais bonitas sinagogas do mundo, motivo de orgulho para a comunidade, a cidade e o país”, considera o director executivo da CIL.

Ainda assim, e apesar de ser “visitada anualmente por muitos milhares de turistas e visitantes nacionais e estrangeiros, para além de alunos das escolas portuguesas”, há “muitos lisboetas e portugueses que desconhecem a localização da sinagoga”, diz Marcos Prist, uma vez que ela facilmente passa despercebida a quem passa.

Em 1904, quando a sinagoga abriu ao público, o edifício mais alto a fazer-lhe companhia era um prédio de habitação de quatro andares, também projectado por Ventura Terra dois anos antes – que valeu ao arquitecto o seu primeiro de quatro prémios Valmor. As fotografias da época mostram uma Rua Alexandre Herculano pouco movimentada, casas baixas e cercas de madeira.

Ao longo do século, as construções em redor foram sendo substituídas por outras mais altas, com destaque para o edifício da companhia de seguros Império (hoje Fidelidade). Erguido entre o fim da década de 1980 e o início da de 1990, este prédio continua a ser um dos mais altos da zona. A sua construção causou vários problemas aos prédios vizinhos: o do lado, a tal casa projectada por Ventura Terra, rachou de cima a baixo.

Marcos Prist não se refere especificamente ao projecto que foi pejorativamente apelidado como “mono do Rato”, desenhado pelos arquitectos Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus. Mais de 13 anos depois de ter sido divulgado publicamente, e após muita polémica, a construção do edifício vai agora avançar.

Mas, ao que tudo indica, com alterações. No fim de Fevereiro, o presidente da câmara disse que não gostava do projecto “naquele sítio” e que ia “tentar um diálogo com o promotor para encontrar uma solução que minore o impacto”. Pouco tempo depois, afirmou na assembleia municipal que as conversas estavam a correr bem. “Há vontade do nosso lado e dos arquitectos também”, disse Fernando Medina.

Seja qual for o desfecho, o director da CIL considera que “a cidade de Lisboa e a sua comunidade judaica merecem seguramente um maior destaque para a sinagoga.”