Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade: o regresso do E-24
Temos, pois, uma Lisboa mais europeia. Paradoxalmente, Lisboa volta, neste campo, ao que tinha há 100 anos: uma linha de eléctricos impressionante.
Parece que é já no próximo dia 24, em vésperas da alvorada, que o bom do eléctrico n.º 24 vai voltar a circular oficialmente entre a Praça Luís de Camões e Campolide, tal e qual como desde 1905 até 1995, altura em que foi suspenso por causa da construção do estacionamento subterrâneo naquele largo, primeiro, e por causa das obras do Metropolitano no Rato, depois.
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Parece que é já no próximo dia 24, em vésperas da alvorada, que o bom do eléctrico n.º 24 vai voltar a circular oficialmente entre a Praça Luís de Camões e Campolide, tal e qual como desde 1905 até 1995, altura em que foi suspenso por causa da construção do estacionamento subterrâneo naquele largo, primeiro, e por causa das obras do Metropolitano no Rato, depois.
Agora, a partir de 25 de Abril (dia em que será gratuito para todos) voltará a ser serviço público, contrariando assim os doutos senhores que até há poucos anos juravam a pés juntos, do alto dos seus “galões”, que o mesmo só poderia voltar para fins turísticos, por isto ou por aquilo.
O certo é que ele está de volta. Ainda que parcialmente (falta reabrir a circulação no troço Camões-Sodré, com extensão ao Carmo), está de volta. Isso é motivo para todos comemorarem. Todos os que pugnam por uma cidade moderna, amiga do ambiente, em que possam conviver passado e presente, sem poluições ou cortinas de fumo.
É por isso tempo para, salvaguardadas as devidas distâncias, parafrasear Neil Armstrong aquando da sua chegada à lua: trata-se de um pequeno passo para um homem, e um salto gigantesco para a humanidade.
Há ainda algumas arestas, afiadas, por limar: o risco de engarrafamentos por causa do estacionamento automóvel indecoroso, que importa reprimir; a espera durante 20’ pela chegada do eléctrico, a falta de composições (pretende-se colocar ao serviço todos os eléctricos remodelados e também reduzir o número de eléctricos imobilizados em Santo Amaro durante os horários de serviço, encurtando os ciclos), e, claro está, falta reactivar o troço indispensável de todo aquele eixo central-histórico-turístico do Cais do Sodré-Rua do Alecrim-Carmo-Largo Trindade Coelho-São Pedro de Alcântara-Príncipe Real-Rato-Amoreiras, pecha que estará resolvida a muito breve trecho.
Temos, pois, uma Lisboa mais europeia. Paradoxalmente, Lisboa volta, neste campo, ao que tinha há 100 anos: uma linha de eléctricos impressionante.
Pelo meio ficam 23 (vinte e três) anos de promessas vãs, um protocolo para inglês ver (assinado em 1997 entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Carris); justificativas injustificadas, composições vendidas ao desbarato e que agora fazem falta, o lobby do gasóleo, as manipulações estatísticas à vontade do freguês, estudos pró e contra, duas petições públicas (uma delas com mais 3300 assinaturas, da “Plataforma pela reactivação do eléctrico 24, em Lisboa”), e uma evidência: o E-24 é de facto necessário para muita coisa, desde logo “descongestionar” a concentração de turistas que rumam a São Paulo, ao Bairro, ao Príncipe Real, às Amoreiras, e promover um percurso assistido em termos de mobilidade naquela encosta, Sétima Colina acima, que apenas funciona de formar intermitentemente por via dos elevadores de Santa Justa e da Glória junto ao metropolitano, e de uma carreira de autocarro.
Finalmente, fez-luz.
O boom turístico terá ajudado. As taxas também. Mas sem vontade política de quem de direito é que não seria possível o regresso do E-24, facto a que não será estranha a passagem de tutela da Carris para a Câmara Municipal de Lisboa (CML).
Chegados aqui há que elogiar o actual presidente da CML, e faço-o sem rodeios ou hesitações. Tal como à nova vereação da mobilidade. E à presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, apoiante desta verdadeira causa desde a primeira hora, ao contrário de outros agora oportunistas.
Elogio também e muito à já citada plataforma online, que nunca desistiu e que funcionou (e funciona) como ponto de encontro entre conhecidos e desconhecidos, verdadeiro hub dos mais variados entusiasmos e valências, de todas as idades e de todo o país, e que começou por levar três pessoas a bordo e já leva três mil.
Estão todos de parabéns!
Esta vitória da urbanidade (do urbanismo, leia-se) possibilita agora outros voos e novas paragens, quiçá, poderá justificar o repensar dos antigos ramais do E-24, que dantes chegava ao Alto de São João e ao Tejo, vindo da Morais Soares e da Av. Duque d’Ávila. Poder-se-ia ligar de novo a cidade à Av. Infante D. Henrique e ir daqui à zona da Expo, talvez daqui por uma década.
Já agora, é favor não esquecer o imenso potencial que advirá para a cidade se se aproveitar a requalificação urbanística da chamada “Colina de Santana” e se reintroduzir o eléctrico entre o Martim Moniz e o Campo Mártires da Pátria. Tal permitirá algo semelhante ao que se conseguiu com o E-24 do outro lado da Avenida, mas também outras coisas, como, por exemplo, permitirá ao vereador Manuel Salgado deixar de recusar a instalação do Arquivo Municipal de Lisboa (e a sua dignificação é uma chaga cultural que importa resolver) no complexo do antigo Hospital Miguel Bombarda pelo facto de haver “más acessibilidades”.
Hip, hip, hurra ao Eléctrico n.º 24.