SPD entre uma missão cumprida e outra que parece impossível

Congresso dos sociais-democratas alemães vai definir liderança e estratégia para convencer eleitores. O partido está numa coligação em que ainda não há química e marcada por vários debates internos.

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Andrea Nahles foi a cara da defesa da entrada do SPD no Governo CARSTEN KOALL/EPA

Uma das questões do congresso extraordinário do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) parece mais do que definida: Andrea Nahles será eleita líder do partido, a primeira mulher a ocupar o cargo. Já os delegados na reunião em Wiesbaden têm outra tarefa muito mais difícil: definir linhas de orientação para travar a queda da sua popularidade, quando está dentro de uma coligação de Governo como partido minoritário.

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Uma das questões do congresso extraordinário do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) parece mais do que definida: Andrea Nahles será eleita líder do partido, a primeira mulher a ocupar o cargo. Já os delegados na reunião em Wiesbaden têm outra tarefa muito mais difícil: definir linhas de orientação para travar a queda da sua popularidade, quando está dentro de uma coligação de Governo como partido minoritário.

Andrea Nahles foi a cara da defesa da entrada do SPD no Governo, depois de um debate aceso e uma forte oposição da ala jovem do partido, com o seu líder Kevin Kühnert, a ganhar proeminência com uma campanha a favor da passagem à oposição. Na sexta-feira, Kühnert disse, numa entrevista à revista Der Spiegel, que votaria em Nahles como modo de “quebrar o ciclo vicioso” de desconfiança que existe no partido.

Enterrado este machado de guerra, os olhares estão em Nahles, que é também a líder da bancada parlamentar do SPD. Quando foi escolhida, após as eleições de Setembro, o SPD preparava-se para ser oposição, e o seu estilo combativo era uma mais-valia. Com o falhanço da tentativa de coligação entre conservadores, liberais e verdes, o SPD acabou por entrar no quarto Governo de Merkel, e Nahles já não será a líder da oposição mas sim a cara da política nacional do SPD no Parlamento.

Em declarações por telefone ao PÚBLICO, o professor aposentado de Ciência Política da Universidade Livre de Berlim Gero Neugebauer nota que nunca aconteceu alguém acumular a liderança do partido e da bancada parlamentar. “Vai ser interessante ver como ela vai fazer este papel”, disse. Nahles tem de “gerir o apoio à política do Governo mas tentar uma correcção de rumo se houver uma diferença em relação à política do SPD”.

Algo que poderá não ser raro, já que os partidos têm mostrado discordâncias em questões da saúde à energia, passando por como lidar com as mudanças na tecnologia automóvel e o diesel.

Sem química

Passado pouco tempo da tomada de posse, é já claro que este Governo de conservadores e sociais-democratas não é uma nova versão do anterior com os mesmos partidos. “Ainda não há química nesta coligação”, resumiu Gero Neugebauer.

Para tentar resolver o problema, a chanceler convidou, na semana passada, os seus ministros para um retiro de dois dias no castelo de Meseberg, nos arredores de Berlim. Um “retiro político” para acertar agulhas. “Foi para pôr alguma ordem num grupo de pessoas com ideias diferentes sobre o seu papel”, diz Neugebauer. “É uma espécie de terapia de grupo.” Se resultou ou não, “vai demorar para perceber.”

Os problemas da coligação não são só entre conservadores e sociais-democratas e também não é só o SPD que tem problemas internos: há questões dentro da União (que junta a CDU/CSU), e ainda dentro da própria CDU.

A CSU “tem na mira as eleições da Baviera no Outono”, nota Neugebauer, e na CDU “há quem se ponha em posição para melhorar as suas hipóteses de suceder a Merkel, como é o caso de Jens Spahn”. O ministro da Saúde provocou um dos episódios de disputa com o SPD, ao declarar que era possível viver bem com o Hartz IV, um subsídio para estudantes ou desempregados de longa duração de cerca de 400 euros por mês mais subsídio de habitação.

Há um tema em que todas estas forças parecem colidir: na política europeia. “O Governo está a esforçar-se para ganhar de novo a iniciativa na política europeia, após um interregno de seis meses [que passaram desde as eleições até à formação do Governo]”, diz. Mas não há ainda uma ideia clara do que quer o Governo alemão e de como responderá às propostas do Presidente francês, Emmanuel Macron.

“Há opiniões diferentes entre a CDU e a CSU. Na CDU, Merkel – que por definição tem a política europeia – diz que há parte das propostas com que concorda e outras que não, e os sociais-democratas querem dar mais atenção ao tema mas não se sabe como”, resume. “Está em aberto o que poderá acontecer.”

Dois anos… e?

Tudo isto quando, nota ainda Neugebauer, “há uma pequena incerteza sobre se o Governo vai durar dois ou quatro anos”, graças a uma cláusula de reavaliação após os dois primeiros anos incluída no acordo de coligação.

Esta terá sido uma forma de o SPD pressionar a CDU e conseguir mais concessões políticas, mas poderá levar também a União a questionar-se se o acordo funciona para si. “E há pessoas dentro do partido que não querem esperar quatro anos”, diz Neugebauer. Ainda que, na sua avaliação, seja pouco provável que o corte viesse dos conservadores, já que “não há neste momento ninguém habilitado a dizer ‘eu posso suceder a Merkel’”.

A sucessão será um momento de o partido decidir se segue a política centrista de Angela Merkel ou voltará a um perfil mais conservador anterior. O que terá efeitos sobre o alinhamento dos outros partidos à esquerda e à direita.