Bloco e PCP avisam PS para “os maus caminhos” do PSD na Saúde
Partidos à esquerda do PS "preocupados" com a aproximação ao PSD, que acusam de sempre ter tentado destruir o SNS e "entregar a saúde aos privados".
Depois dos fundos europeus e da descentralização, Bloco e PCP olham com "preocupação" para eventuais acordos – sejam eles dentro ou fora do Parlamento – entre o PSD e o Governo na área da saúde. Responsabilizam os sociais-democratas pelos "piores momentos da vida do Serviço Nacional de Saúde" (SNS) e lembram que aquele partido “sempre lutou pela entrega da saúde aos privados”.
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Depois dos fundos europeus e da descentralização, Bloco e PCP olham com "preocupação" para eventuais acordos – sejam eles dentro ou fora do Parlamento – entre o PSD e o Governo na área da saúde. Responsabilizam os sociais-democratas pelos "piores momentos da vida do Serviço Nacional de Saúde" (SNS) e lembram que aquele partido “sempre lutou pela entrega da saúde aos privados”.
Moisés Ferreira, coordenador do Bloco de Esquerda (BE), diz que PS e PSD é que “sabem os caminhos que querem seguir” em matéria de saúde. Avisa, porém, que há “maus caminhos” e que “é bom que toda a gente se lembre” que foram os social-democratas que “desde o primeiro momento votaram contra o SNS”.
Maria de Belém Roseira, ministra da Saúde de António Guterres e que actualmente lidera a comissão criada por António Costa para elaborar uma proposta de reforma da Lei de Bases da Saúde, abriu ontem as portas, implicitamente, a um acordo PS-PSD também nesta área. “Era importantíssimo que houvesse muita estabilidade nas políticas de saúde, porque elas só produzem resultados a longo prazo”, defendeu na Rádio Renascença. Lembrando que quando foi ministra da Saúde pediu um acordo de regime para o sector, Belém, sem citar ninguém, acrescentou: “Se formos capazes de nos entender no essencial, naquilo que é verdadeiramente importante e faz a diferença, se definirmos regras que estabeleçam a transparência no relacionamento, é muito mais fácil resolvermos” as divergências.
Moisés Ferreira desvaloriza as declarações. “Não há grandes dúvidas do que virá desse lado”, diz, lembrando as relações profissionais da antiga ministra ao sector privado da saúde. O bloquista recorda, porém, que a Lei de Bases da Saúde “não virá de nenhum grupo de trabalho nomeado pelo Governo, mas sim da lei que será aprovada na Assembleia da República”.
“O PSD tem um ministro-sombra para a Saúde, Luís Filipe Pereira, ministro da Saúde de Durão Barroso, que foi quem mais se bateu pela entrega da saúde aos privados”, afirma Moisés Ferreira ao PÚBLICO. “É com este PSD que o PS quer alinhar?”, pergunta. Já o caminho do BE “é claro”: “É o da aposta na promoção da saúde, da separação entre o público e o privado e de uma saúde de qualidade para todos.” O BE revê-se na proposta de uma nova Lei de Bases da Saúde apresentada pelo bloquista João Semedo e pelo socialista António Arnaut.
De um lado “estão os que querem a saúde entregue ao privado, como o PSD, e os que querem uma saúde de qualidade para todos, como o BE. O PS decidirá quem quer como parceiro”, desafia o bloquista.
No PCP também não há ilusões, mas há muita "preocupação" com eventuais acordos na saúde. Jorge Pires, da Comissão Política do Comité Central do PCP, vinca que o PSD "está associado aos piores momentos da vida do SNS" e é responsável pelos "maiores ataques desde o dia em que ele foi criado, a 15 de Setembro de 1979, que foram criando sucessivas dificuldades à sua efectiva concretização".
O comunista lembra que em 1990 o Governo de Cavaco Silva impôs uma nova Lei de Bases que, conjugada com a revisão constitucional do ano anterior, "enterrou o SNS" ao estimular e alavancar o sector privado da saúde; e de 2011 a 2015 a troika levou à constante asfixia do SNS, com fecho de hospitais e centros de saúde, redução de trabalhadores, desorganização dos serviços e aumentos de preços.
O comunista garante ao PÚBLICO que não houve qualquer aproximação do Governo ao PCP sobre as questões da saúde e diz mesmo não se admirar de haver "convergências" entre PS e PSD. Até porque o Governo socialista "mantém problemas estruturais como o subfinanciamento crónico".