Constantino Sakellarides demite-se de consultor do ministro da Saúde “muito preocupado” com o SNS
Antigo director-geral da Saúde e professor jubilado da Escola Nacional de Saúde Pública afirma que continua “muito preocupado” com o Serviço Nacional de Saúde e que não houve nenhum desentendimento abrupto com o ministro.
Constantino Sakellarides demitiu-se nesta quinta-feira das funções de consultor do ministro da Saúde. Diz que não sai zangado com Adalberto Campos Fernandes e que esta decisão resultou de uma evolução natural da relação. Sem querer concretizar os motivos, o antigo director-geral da Saúde e professor jubilado da Escola Nacional de Saúde Pública afirma que continua “muito preocupado” com o Serviço Nacional de Saúde, assumindo que “a situação não está fácil”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Constantino Sakellarides demitiu-se nesta quinta-feira das funções de consultor do ministro da Saúde. Diz que não sai zangado com Adalberto Campos Fernandes e que esta decisão resultou de uma evolução natural da relação. Sem querer concretizar os motivos, o antigo director-geral da Saúde e professor jubilado da Escola Nacional de Saúde Pública afirma que continua “muito preocupado” com o Serviço Nacional de Saúde, assumindo que “a situação não está fácil”.
“Isto é a evolução de uma relação que começa, evoluiu e em determinado momento, por várias razões, não tem as condições para continuar”, afirmou ao PÚBLICO Constantino Sakellarides, acrescentando que “não há aqui nenhuma zanga, não há um desentendimento abrupto” com o ministro da Saúde.
Constantino Sakellarides não quis adiantar as razões que levaram à decisão, dizendo que “não é decente quando se termina uma relação falar dela”.
O ministro da Saúde já reagiu à demissão do consultor. “Ouvi há pouco as declarações dele e subscrevo-as em absoluto. Um velho amigo de há muitos anos (...). Temos uma boa amizade, creio que temos respeito um pelo outro e a amizade perdurará. Há ciclos em que o entendimento sobre os problemas pode coincidir e há ciclos em que não coincide. Como o julgamento político é feito sobre quem decide politicamente, naturalmente que compreendo as razões que o professor Constantino Sakellarides me dirigiu, respeito-as, mas na segunda-feira já teremos a dirigir o projecto SNS + Proximidade uma pessoa da equipa dele", disse Adalberto Campos Fernandes, à margem da Cimeira Mundial da Saúde, que termina esta sexta-feira em Coimbra.
Segundo o Expresso, que avançou com a notícia, Constantino Sakellarides demitiu-se por divergências com a tutela. Ao que o PÚBLICO apurou terá sido o sentimento de falta de apoio político e financeiro ao projecto SNS + Proximidade, que o especialista em saúde público coordenou nestes dois últimos anos, que terá levado a este afastamento.
O Bloco de Esquerda apresentou, esta sexta-feira, no Parlamento um requerimento para ouvir o especialista na comissão de saúde, com o objectivo de “debater os constrangimentos que enfrentou bem como os motivos que o levaram a tomar esta decisão de se demitir”.
O SNS + Proximidade é um projecto de modernização da oferta dos cuidados de saúde com maior interligação entre os diversos serviços, mais centrada nos utentes e com uma aposta na literacia e na criação de planos individuais de saúde para doentes crónicos. O projecto-piloto já está no terreno no Norte do país.
Constantino Sakellarides assegurou que a continuidade do projecto está garantida. “Em relação a essa iniciativa, pela qual tenho especial carinho, tratámos desde Dezembro a esta parte de transferi-la do gabinete do ministro para as direcções gerais a que pertence. A parte mais ligada à literacia vai para a Direcção-Geral da Saúde e a parte mais direccionada para a integração de cuidados vai para a Administração Central do Sistema de Saúde e está tudo encaminhado nesse sentido. Não gosto de abandonar as coisas.”
Mais recentemente, Constantino Sakellarides foi eleito coordenador da comissão criada pelo Ministério da Saúde para fazer uma análise técnica sobre o futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e cujo relatório final será entregue dentro de um ano sob a forma de livro branco. A primeira reunião aconteceu na semana passada e, por estar numa fase inicial, o especialista considerou que facilmente o grupo poderá ser liderado por outra pessoa. “É uma questão do ministro encontrar a forma como quer continuar [aquele trabalho]. Eu não me achei em condições de o fazer.”
“Muito preocupado” com o SNS
Constantino Sakellarides mantém-se à Fundação Serviço Nacional de Saúde, da qual foi presidente, onde agora irá continuar a desenvolver alguns projectos.
“Claro que vou continuar preocupado com o Serviço Nacional de Saúde, muito preocupado, mas não sou o único. Somos muitos que estamos preocupados, no sentido positivo, para fazer alguma coisa de útil. A situação não está fácil e acho que aquelas pessoas que acham que o SNS é um fundamento da nossa democracia têm obrigação de fazerem tudo para contribuírem para isso e vou continuar a fazer isso nos sítios onde puder”, afirmou.
Uma das últimas declarações públicas de Constantino Sakellarides, ainda enquanto consultor do ministro, foi há cerca de duas semanas aquando da apresentação do relatório da Organização Mundial de Saúde e do Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde, feito a pedido do Ministério da Saúde. Um documento que concluiu que o SNS precisa de mais investimento público para atenuar os efeitos da crise, melhorando infra-estruturas, equipamentos e motivando os profissionais.
Um relatório “muito franco”, disse na altura o especialista em políticas da saúde, que assumiu que “o SNS tem problemas sérios” que é preciso ultrapassar. Nomeadamente, o “problema crónico de subfinanciamento que foi agravado pela crise” e o “desequilíbrio nas profissões de saúde que é crónico, mas que está na altura de começar a corrigir mais intensamente”, referindo-se à proporção de enfermeiro/médicos, que é uma das mais baixas da Europa.
Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde escusou-se a prestar qualquer informação sobre o assunto.
Com Camilo Soldado