"As greves não podem condicionar a democracia"
Ministro promete negociar com os médicos "até ao último minuto", mas não garante uma solução. E quer colocar médicos jovens no interior um ano, antes de terem colocação definitiva.
"Há um momento em que o consenso aparece ou em que o consenso não é possível", avisa Adalberto Campos Fernandes.
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"Há um momento em que o consenso aparece ou em que o consenso não é possível", avisa Adalberto Campos Fernandes.
Vai ter mais uma greve de médicos. Acha possível evitá-la?
Faremos com esta greve o que temos feito com muitas outras: negociar até ao último minuto, procurando compatibilizar o interesse e expectativa dos profissionais e aquilo que é a possibilidade do governo em matéria de cedência. As greves fazem parte da democracia, não podem condicionar a democracia. Por outro lado, os governos têm que ter a abertura e capacidade de negociação para irem tão longe quanto podem. Mas há um momento em que o consenso aparece ou em que o consenso não é possível. E naturalmente que nós, até à última hora, estamos disponíveis para manter a negociação. Temo-lo feito, também com outros grupos profissionais onde tivemos também processos de contestação. Fizemos acordos, negociámos. Estamos a fazê-lo com os enfermeiros, fizemos com os farmacêuticos hospitalares, com os técnicos de diagnóstico...
Vê contornos político-partidários nesta greve?
Eu nunca faço, nem farei, juízos políticos sobre greves. As greves são uma emanação da vontade dos profissionais, dos trabalhadores. E quem os representa tem a orientação política que tem em cada momento. Seria a mesma coisa que o dr. Paulo Macedo se queixar das greves que teve, no tempo dele, de terem outra coloração política. Não faço, nem atribuo colorações políticas ou partidárias às greves. Outra coisa, não sejamos ingénuos, é não poderem haver agendas coincidentes. Mas isso, os observadores são os senhores.
Em Setembro, numa entrevista ao jornal i, admitia para os médicos um sistema semelhante ao dos pilotos da força aérea: não poderiam ir imediatamente para o sector privado ou teriam de pagar ao Estado. Admitia que essa decisão pudesse começar no Orçamento de Estado de 2018. Desistiu?
Não, não desistimos. Nós entendemos que precisamos de resolver o problema do interior, dos territórios de baixa densidade. Não o podemos fazer contra os médicos, terá que ser um processo negociado, estudado, com os sindicatos e com a Ordem. Uma possibilidade poderia ser que os médicos pudessem, antes de integrar uma vaga definitiva, passar algum tempo - um ano - nos hospitais do interior. Ou então alargar aquilo que temos feito até agora, um sistema de incentivos para que os jovens médicos possam...
Não tem tido grande resultado, esse incentivo para irem para o interior.
As quotas que abrimos foram todas preenchidas. Mas o país vive muito centrado nas grandes cidades. E apesar de termos muito mais médicos no interior, eles são ainda manifestamente insuficientes. Não é só um problema de incentivo financeiro, tem a ver com as condições de vida, com a expectativa profissional. Continuaremos a melhorar as condições de trabalho nesses hospitais, por exemplo com investimentos; Évora precisa de um hospital novo, por exemplo; também encontrar mecanismos de valorização profissional...
Em relação aos enfermeiros, quando é que passam a receber como licenciados e como especialistas?
O processo negocial foi concluído, o decreto que permite o pagamento do subsídio aos enfermeiros especialistas foi aprovado há 15 dias, muito em breve esse pagando será feito com efeitos a Janeiro de 2018.