Dever de memória
O Canto do Ossobó é um fascinante, mesmo que modesto, documentário sobre a memória esquecida do colonialismo em São Tomé e Príncipe.
Filme curiosíssimo, este Canto do Ossobó que primeiro nos chamou a atenção há seis meses no Doclisboa (onde o vimos numa versão de montagem um pouco mais longa) e agora chega a uma breve exibição comercial. Curiosíssimo não apenas por causa do olhar “de dentro” para o tema do colonialismo e da memória, construído a partir da própria experiência pessoal do seu realizador, nascido em São Tomé mas emigrado para Portugal com cinco anos. Mas, sobretudo, pelo olhar e pelo pensamento de cineasta que exibe, que nos remete para dois dos mais importantes e radicais documentaristas contemporâneos, Rithy Panh e Susana de Sousa Dias.
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Filme curiosíssimo, este Canto do Ossobó que primeiro nos chamou a atenção há seis meses no Doclisboa (onde o vimos numa versão de montagem um pouco mais longa) e agora chega a uma breve exibição comercial. Curiosíssimo não apenas por causa do olhar “de dentro” para o tema do colonialismo e da memória, construído a partir da própria experiência pessoal do seu realizador, nascido em São Tomé mas emigrado para Portugal com cinco anos. Mas, sobretudo, pelo olhar e pelo pensamento de cineasta que exibe, que nos remete para dois dos mais importantes e radicais documentaristas contemporâneos, Rithy Panh e Susana de Sousa Dias.
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O Canto do Ossobó tem muito em comum com a Imagem que Falta (2013) do cambodjano Panh: trata-se de investigar um passado do qual não reza a história, de usar as “imagens que faltam” como ponto de partida de um dever de memória, de um regresso ao passado para melhor o compreender. O “ossobó” de que a lenda são-tomense fala, o pássaro esquivo que não se deixa ver, é uma metáfora desse passado escondido que tem de se buscar para poder ser recordado, mas do qual não restam traços para lá das memórias individuais (as próprias fotografias de família do autor perderam-se em viagem).
Ao mesmo tempo, o filme reivindica a austeridade formal do trabalho de Susana de Sousa Dias, capaz de fazer muito a partir de um conjunto limitado de materiais e de traçar uma reflexão humanizada sobre os atalhos e desvios da história.
Apesar da maturidade que reflecte, O Canto do Ossobó não é um filme isento de problemas — parece aqui e ali distrair-se na contemplação de um momento ou de uma paisagem que não aparentam estar relacionados com o seu impulso principal, a voz off é aqui e ali demasiado demonstrativa. Mas isso é compensado, grandemente, pela segurança e pela inteligência com que Silas Tiny constrói este seu dever de memória, simultaneamente privado e público.