Macron pede democracia e reforma da UE para combater iliberalismo

Presidente francês discursou no Parlamento Europeu e pediu “roteiro urgente” para reformar a zona euro. Convencer os alemães não será fácil.

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Emmanuel Macron discursou no Parlamento Europeu, em Estrasburgo PATRICK SEEGER / EPA

É preciso combater a vaga de autoritarismo que afecta alguns países da União Europeia, afirmou Emmanuel Macron Parlamento Europeu, em Estrasburgo, esta terça-feira. Sem referir directamente os Estados-membros em causa – ainda que tenham sido poucos os que não entenderam as alfinetadas à Hungria e à Polónia –, o Presidente francês condenou o seu “fascínio pelo iliberalismo” e defendeu que para travar essa tendência é necessário reformar a UE. Em Berlim, no entanto, torce-se bastante o nariz aos seus planos para a zona euro.

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É preciso combater a vaga de autoritarismo que afecta alguns países da União Europeia, afirmou Emmanuel Macron Parlamento Europeu, em Estrasburgo, esta terça-feira. Sem referir directamente os Estados-membros em causa – ainda que tenham sido poucos os que não entenderam as alfinetadas à Hungria e à Polónia –, o Presidente francês condenou o seu “fascínio pelo iliberalismo” e defendeu que para travar essa tendência é necessário reformar a UE. Em Berlim, no entanto, torce-se bastante o nariz aos seus planos para a zona euro.

“Parece haver uma guerra civil europeia, onde o nacionalismo e o egotismo estão a prevalecer sobre o que nos juntou”, disse Macron. “A resposta [ao autoritarismo] não deve passar por um outro autoritarismo democrático, mas pela autoridade da democracia. Não quero pertencer à geração de sonâmbulos que se esqueceu do seu passado, quero pertencer à geração que escolhe defender a sua democracia”.

Sob o mote do fortalecimento da “soberania europeia”, o chefe de Estado francês mostrou-se mais uma vez favorável a uma transformação profunda da UE que, argumentou, passa tanto pela reforma na zona euro e por uma maior cooperação em matéria de Defesa, como pelo aumento do apoio aos refugiados ou por uma nova política de taxação do universo comercial digital.

O Presidente da Comissão Europeia gostou das palavras de Macron no Parlamento Europeu e deixou-lhe rasgados elogios. “A História de amanhã está a ser escrita hoje. A verdadeira França está de volta”, celebrou Jean-Claude Juncker, citado pela Reuters.

Macron garantiu que, se houver a vontade de todos os Estados-membros em proceder a uma utilização mais eficiente dos fundos comunitários, Paris está pronta para aumentar a sua contribuição financeira. Para tal, disse, é necessário um “roteiro urgente” com vista à reforma da zona euro.

Prova de fogo em Berlim

A ambição levada até Estrasburgo, no que à remodelação da EU após o “Brexit” diz respeito, irá ser testada na quinta-feira, em Berlim. O líder francês reúne-se na capital alemã com Angela Merkel, e procurará dar um pontapé para a frente no processo, depois de meses de promessas. E para André Sapir, do think tank Bruegel, o Presidente francês “terá de se empenhar a fundo para vender este pacote como uma vitória”. 

A tarefa não se avizinha nada fácil. O partido conservador alemão não vê com bons olhos a criação de um Fundo Monetário Europeu, por temer que tal arquitectura possa custar bastante dinheiro aos contribuintes alemães e ter um “impacto financeiro significativo no Orçamento” alemão. 

Um grupo de deputados da CDU/CSU redigiu um documento muito crítico dos planos de Macron, no qual faz uma série de exigências, pede a entrada do Parlamento alemão na discussão e defende que a criação daquele mecanismo implicaria uma inevitável alteração aos tratados europeus – o que, só por si, arrastaria o processo durante meses a fio.

Lucas Guttenberg, investigador do Instituto Jacques Delors, acredita que as próximas semanas serão decisivas para a eventual nova roupagem da zona euro e coloca toda a pressão em cima dos ombros de Merkel e do novo ministro das Finanças, Olaf Scholz, do SPD. “Este pode ser o momento em que a reforma da zona euro morre. Se nem Merkel nem Scholz se chegarem agora à frente, a cimeira europeia de Junho será um fracasso”, disse ao Financial Times.

Não é só a cúpula conservadora alemã que está contra as propostas de reforma de Macron. Segundo o El País, há um grupo de Estados-membros do Norte da Europa, liderado pela Holanda, que rejeita a transformação do mecanismo de resgate num fundo monetário regional e que dificilmente aprovará essa medida na cimeira de Junho. Por isso mesmo, disse um alto funcionário europeu àquele diário espanhol, quaisquer avanços nesta matéria nos próximos meses serão puramente “cosméticos”.

A ovação de pé que Macron recebeu esta terça-feira em Estrasburgo transmite sinais contraditórios, pelo que é em Berlim que terá de provar que as palmas dos eurodeputados e da Comissão são suficientes para legitimar a sua ideia para a reforma da Europa.