O vício da raiva
O problema não é o Facebook ou a Google ou o Reddit. O problema são os seres humanos. É a nossa capacidade para nos viciarmos que estas e outras empresas exploram.
Uma foto-ilustração de Joe Darrow mostra um iPhone onde está um gatinho a chorar. Sobrepostas estão duas mensagens mandadas pela Internet. A primeira: "We're sorry." A segunda: "We didn't mean to destroy privacy. And democracy. Our bad."
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Uma foto-ilustração de Joe Darrow mostra um iPhone onde está um gatinho a chorar. Sobrepostas estão duas mensagens mandadas pela Internet. A primeira: "We're sorry." A segunda: "We didn't mean to destroy privacy. And democracy. Our bad."
A última New York Magazine conseguiu reunir 15 dirigentes que ajudaram a criar a Internet e as redes sociais que hoje se arrependem do que fizeram. A peça, escrita por Noah Kulwin, chama-se The Internet Apologizes e... pode ser lida gratuitamente na Internet. Vale mesmo a pena.
Percebe-se, para já, que o problema não é o Facebook ou a Google ou o Reddit. O problema são os seres humanos. É a nossa capacidade para nos viciarmos que estas e outras empresas exploram.
A raiva indignada é a emoção humana que mais dopamina produz. A raiva indignada que sentimos perante uma notícia ou uma opinião –? fake ou simplesmente bem escolhida –? é o que nos vicia. O prazer é a oposição e a identificação com outros opositores: nós somos bons porque juntos, um a um, atacamos os maus. Eu sou um dos bons e os bons aceitam-me como tal porque estou sempre a mostrar que sou, tal como eles, contra todos os maus, que pensam e defendem o contrário de nós.
Às empresas só interessam grandes números de utentes. Têm de nos manter ocupados. Sabem como manipular-nos como multidões: fazem-nos crer que cada um de nós é um indivíduo precioso e diferente. Listamos todos os nossos likes e dislikes e elas enfiam-nos em multidões comercialmente manipuláveis que nos apagam – e viciam.