EUA ficam no terreno até ser preciso, mas o palco do combate é a ONU

Embaixadora norte-americana nas Nações Unidas diz que os objectivos no terreno ainda não foram cumpridos. Ao mesmo tempo, Washington, Londres e Paris lançam uma renovada ofensiva diplomática.

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Nikki Haley, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas LUSA/JASON SZENES

Duas semanas depois de o Presidente Donald Trump ter dado a entender que a saída das tropas norte-americanas da Síria estava a ser ultimada, e horas depois de ter ordenado o lançamento de um ataque contra instalações de armas químicas no país, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas veio este domingo tentar esclarecer qual é, afinal, a política da Casa Branca em relação à guerra na Síria.

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Duas semanas depois de o Presidente Donald Trump ter dado a entender que a saída das tropas norte-americanas da Síria estava a ser ultimada, e horas depois de ter ordenado o lançamento de um ataque contra instalações de armas químicas no país, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas veio este domingo tentar esclarecer qual é, afinal, a política da Casa Branca em relação à guerra na Síria.

De acordo com Nikki Haley, há três objectivos ainda em cima da mesa – e não é possível dizer, para já, quando serão alcançados.

Em primeiro lugar, é preciso "garantir que não sejam usadas armas químicas"; depois, é preciso "derrotar o ISIS [outro nome para o grupo terrorista islâmico Daesh]"; e, por último, é preciso manter a capacidade para "vigiar os passos do Irão" na guerra da Síria.

No início do mês, o Presidente Trump aproveitou uma conferência de imprensa com os líderes dos três países bálticos para deixar claro qual era o seu plano para a Síria: "Quero sair de lá. Quero trazer as nossas tropas de volta. Quero começar a reconstruir a nossa nação."

O desejo de sair da Síria não era novo, mas os jornais norte-americanos escreveram na altura que o Presidente Trump estava no meio de uma luta com os chefes militares: enquanto estes diziam que era um erro sair da Síria rapidamente, o Presidente insistia que tinha chegado a hora. "Tivemos muito sucesso contra o ISIS. Seremos bem-sucedidos contra toda a gente em termos militares. Mas, às vezes, é preciso voltar para casa", disse Trump há duas semanas.

Para ilustrar a tensão entre a Casa Branca e o Pentágono, à mesma hora que Trump dava a conferência de imprensa com os líderes bálticos, o general Joseph Votel, responsável pelas operações do Comando Central, dizia numa conferência no U.S. Institute of Peace, em Washington, que "o pior ainda está para vir – a estabilização, a consolidação dos ganhos, levar as pessoas de volta para as suas casas".

Depois do ataque de sexta-feira contra alvos na Síria, justificado pelos EUA, Reino Unido e França como uma punição contra o uso de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad contra o povo sírio, aumentaram as dúvidas sobre o papel que a Casa Branca quer ter na continuação da guerra no país – e, sem certezas, torna-se mais difícil antever o sucesso a longo prazo de um ataque como o de sexta-feira.

Por exemplo, é difícil perceber se a promessa norte-americana de retaliar contra o uso de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad significa que todo e qualquer ataque com armas químicas terá uma resposta militar – numa passagem pelo programa Fox News Sunday, a embaixadora norte-americana na ONU fugiu a essa pergunta. Em causa está a garantia dos EUA de que Assad ordenou mais de 30 ataques com gás sarin e cloro só no último ano, e o facto de que apenas dois motivaram uma resposta militar – em Abril de 2017 e na sexta-feira passada.

No meio das indecisões norte-americanas, e com a aparente vitória militar das forças de Assad sobre os rebeldes, com a decisiva ajuda da Rússia, o combate pelo isolamento de Damasco e Moscovo no plano internacional passa agora para o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Esta segunda-feira, os EUA, o Reino Unido e França dão início a uma nova ofensiva diplomática, aproveitando o chumbo da proposta de condenação do ataque apresentado pela Rússia no sábado.

Em discussão vão estar propostas dos três aliados para que a Síria elimine o seu arsenal de armas químicas – numa repetição das movimentações diplomáticas de 2013, quando os EUA e a Europa receberam a promessa da Síria e da Rússia de que esse arsenal iria ser destruído.

Para além disso, Washington, Londres e Paris querem criar uma comissão com mandado para determinar os responsáveis pelo último ataque com armas químicas, e pedir à Organização para a Proibição de Armas Químicas que avalie o estado do arsenal químico sírio em 30 dias, aproveitando a permanência no país da equipa que começou este fim-de-semana a investigar que substâncias foram usadas no ataque que matou dezenas de pessoas em Douma.