O Shiko é mesmo fixe

É pelo lado isakaya que faz a diferença. O espírito de tasca japonesa que nos transporta a um universo gastronómico de degustação e partilha.

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No princípio era no feminino. A Shika, uma mini-roulotte com comida de rua montada num triciclo motorizado e pronta para estacionar em eventos, festivais ou pelos recantos da marginal. Com o tempo, chegou o irmão mais novo, de vocação sedentária mas o mesmo espírito contemporâneo, urbano e sedutor, com base na gastronomia tradicional do Japão.

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No princípio era no feminino. A Shika, uma mini-roulotte com comida de rua montada num triciclo motorizado e pronta para estacionar em eventos, festivais ou pelos recantos da marginal. Com o tempo, chegou o irmão mais novo, de vocação sedentária mas o mesmo espírito contemporâneo, urbano e sedutor, com base na gastronomia tradicional do Japão.

O Shiko instalou-se na zona da Batalha, no Porto, mesmo em frente ao palacete onde em tempos funcionaram o Governo Civil e o comando da Polícia de Segurança Pública, e tratou de se apresentar, não como mais um restaurante de sushi mas num conceito mais despretensioso e básico, à imagem das pequenas tascas japonesas, que, pelos vistos, por lá são também bem populares.

Serve essa comida simples e apelativa de base tradicional oriental, cujos sabores, espírito de degustação e partilha dificilmente deixam alguém indiferente. Daí que, com toda a propriedade, se possa dizer que o Shiko é fixe. Mesmo!

A carta é, por isso, inspirada nas isakayas, que é como se denominam as pequenas e populares casas de comida do país dos samurais. “São as tascas japonesas conhecidas pelas diversas iguarias que dispõem sobre as mesas numa atmosfera informal de partilha e convívio”, explica-se logo à entrada.

Para os indefectíveis, há também uma lista de sushi, “o ex-líbris da cozinha japonesa feito a partir de um arroz avinagrado e levemente aromatizado”, que combina com carnes de peixes, vegetais e algas e a pasta picante e fresca de wasabi.

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Nelson Garrido

O espaço é pequeno (22 lugares) mas de tectos altos, o que o torna desafogado e acolhedor. Uma meia-dúzia de tábuas ao alto a resguardar da porta da rua, mais outras tantas caixas de madeira (da fruta) como elemento de decoração vertical na parede do fundo. Num dos lados da salinha, um banco corrido com almofadas coloridas a ligar as mesas e a incentivar a lógica de partilha e comunhão. Ambiente simples e contemporâneo, de espírito urbano, tal como o serviço, cuidado e convenientemente despido de formalismos.

Nas bebidas, às duplas de cerveja e de saké junta-se uma meia dúzia de vinhos escolhidos com evidente critério e qualidade, sendo ainda propostos dois espumantes (um francês). Optámos pelo das bairradinas Caves S. João (rosé), que se mostrou especialmente adequado aos petiscos de inspiração nipónica.

Com os “peixinhos da horta à japonesa” (6,40€) à cabeça, provaram-se também os “karokke” (5,50€), “kimchi de peixe” (7,50€) e “cavala marinada” (9€), da vertente mais izakaya da carta. Tudo servido em conjunto, para cumprir o espírito de partilha.

A par da crocância do panko frito (espécie de pão-ralado) do polme rústico que envolvia o feijão-verde, um molho de sésamo, picante e ácido, fazia o petisco. De sabor agridoce os “karokke” (quatro unidades), uma espécie de croquetes em bola, com carne e batata-doce, que resultaram bem menos convincentes.

Completamente convincente — e mesmo guloso — o “kimchi de peixe”, uma espécie de salada com pequenas porções de carnes de peixes frescos (cavala, salmão, atum), legumes, algas, cebola roxa, azeite de sésamo e o molho de kimchi, o típico preparado coreano com base em legumes fermentados. Além da envolvência quase cremosa de sabores e texturas, o perfume de produtos frescos e a profundidade complexa do molho. Um prato que por si só vale a visita.

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Nelson Garrido

Em grande estilo também a cavala marinada. Um lombo completo que é servido numa telha, que é flamejado e acompanha com salada de algas e molho de miso e alho. Textura delicada e fresca do peixe e a envolvência quase balsâmica do molho e algas. Outro prato de absoluto agrado e a mostrar que os típicos petiscos japoneses vivem da essência dos produtos frescos e pouco terão a ver com o conceito de molho de soja a que muitas vezes se associam.

Nas comidas de tasca, a lista propunha ainda nesse dia “okonomiyaki”, a típica panqueca japonesa com marisco e bacon que é outro dos ícones do Shiko, frango “tori nanban”, beringela frita “nasu dengaku”,  “sunumono de peixe”, “tataki de salmão”, e arroz “shari”, o inevitável arroz de sushi com que complementamos e acompanhamos a petiscada.

Na vertente sushi, convenceu largamente o “atum forte” (7€) em dose generosa de rolo de atum vermelho com pepino e algas coberto por ovas marinadas em saké e molho de kimchi.

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Nelson Garrido

Na mesma linha o “futomaki” (6€), em rolo de peixes com pepino e abacate. A oferta alarga-se a mais umas quantas preparações de apontam ao conceito de cozinha japonesa que por cá está já um tanto vulgarizada.

É, sem sombra de dúvida, pelo lado isakaya que o Shiko faz toda a diferença. Mas não apenas pela proposta alternativa. É sobretudo pela experiência de sabores, conjugação de produtos e texturas que no transportam a um universo gastronómico de degustação, prazer e partilha. Ou seja, tudo aquilo que procuramos quando nos sentamos à mesa.