Director da Volksbühne só durou oito meses no cargo
O belga Chris Dercon, nomeado para substituir o encenador Frank Castorf no teatro berlinense, demitiu-se esta sexta-feira após um brevíssimo e muito criticado mandato.
O director do histórico teatro berlinense Volksbühne, Chris Dercon, bateu com a porta após uns escassos oito meses no cargo. A escolha deste belga, ex-director da Tate Modern, em Londres, para substituir o icónico encenador Frank Castorf, que chegara ao centenário teatro de vanguarda de Berlim Oriental nas vésperas da queda do Muro e o dirigiu durante 25 anos, foi duramente criticada desde o início por amplos sectores dos meios culturais da cidade.
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O director do histórico teatro berlinense Volksbühne, Chris Dercon, bateu com a porta após uns escassos oito meses no cargo. A escolha deste belga, ex-director da Tate Modern, em Londres, para substituir o icónico encenador Frank Castorf, que chegara ao centenário teatro de vanguarda de Berlim Oriental nas vésperas da queda do Muro e o dirigiu durante 25 anos, foi duramente criticada desde o início por amplos sectores dos meios culturais da cidade.
Esta sexta-feira, o responsável da Cultura no governo estadual de Berlim, Klaus Lederer, do partido de esquerda Die Linke, anunciou que se reunira com Dercon e que tinham acordado pôr um fim à sua sua direcção com efeitos imediatos.
“Ambas as partes concordaram que o conceito proposto por Chris Dercon não resultou como fora esperado e que a Volksbühne precisava de um novo começo”, lê-se num comunicado de Lederer, que acrescenta ainda ter pedido ao actual gestor da sala, Klauss Dörr, para assumir interinamente a direcção. A nota termina com uma declaração pessoal de Lederer a deplorar “os inaceitáveis ataques pessoais e insultos” de que Dercon foi alvo.
O facto de o teatro enfrentar uma gravíssima crise financeira e de a compra de bilhetes para a temporada ter registado uma quebra abrupta terá ajudado a acelerar um desenlace que já se anunciava antes mesmo de Dercon ter assumido funções.
A sua demissão é o fim de uma peça pouco recomendável, que começou em Abril de 2015, quando o presidente da Câmara de Berlim, o social-democrata Michael Müller, anunciou que Dercon iria substituir Castorf na direcção da Volksbühne. A escolha foi francamente mal recebida, com muitas vozes, dentro e fora da casa, a preverem que Dercon iria impor uma lógica comercial à instituição e que o teatro deixaria de ser a actividade central da Volksbühne, em favor da dança ou da performance. Mas também não faltaram os ataques mais ou menos abertamente nacionalistas, lamentando que um bastião cultural alemão pudesse ser liderado por um belga.
Logo em Junho de 2016, muitos dos colaboradores do teatro assinaram uma carta aberta manifestando a sua preocupação com o que então se sabia do projecto artístico deste curador de artes visuais para a Volksbühne e afirmavam que o futuro da instituição estava ameaçado. Dercon apresentou a sua programação para a temporada em Maio de 2017 – ainda antes de o seu antecessor Frank Castorf se despedir, em Junho, com uma épica encenação do Fausto com sete horas de duração – e mal estreou a sua direcção (com um programa de dança), viu a Volksbühne ser invadida, em Setembro, por um colectivo de artistas e estudantes, numa ocupação que durou seis dias e só foi resolvida com intervenção policial.
E esta sexta-feira, quando a sua demissão se tornou pública, as imediações do teatro apareceram cobertas de cartazes de despedida, nos quais se lia um irónico “Tschüss, Chris”.
Se vários comentadores criticaram o tom dos ataques a Dercon, praticamente ninguém defende que a sua escolha para o cargo foi acertada. Até o autarca do SPD que o convidou se foi mantendo num silêncio que não passou despercebido ao próprio Dercon, que em declarações à imprensa alemã, poucos dias antes de se demitir, lamentou que este nunca mais lhe tivesse dito nada e se lhe dirigiu directamente, perguntando: “Onde está, sr. presidente da Câmara Michael Müller? (…) Assume a responsabilidade?”
Notícia corrigida para retirar a indicação de que Dercon iria assumir a direcção artística da próxima Documenta de Kassel, uma notícia avançada pela revista Monopol, mas entretanto assumida como mentira de 1 de Abril.