Campanhas para fumadores “têm pouco impacto”, por isso importa dirigi-las aos jovens
Vício consequente do consumo de tabaco limita logo à partida o sucesso das campanhas dirigidas a fumadores. Por isso, o foco deve estar naqueles que não iniciaram o consumo, em particular os mais jovens.
Apesar dos esforços da última década, nomeadamente com a proibição de fumar em determinados locais e o aumento dos impostos, há ainda muito a fazer quando se fala de prevenir o consumo de tabaco, diz o presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo (COPPT), Emanuel Esteves. Em particular no que diz respeito à informação dirigida aos mais jovens. Também o Presidente da Pulmonale — Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, António Araújo, vinca a necessidade de haver um foco na prevenção na infância e juventude.
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Apesar dos esforços da última década, nomeadamente com a proibição de fumar em determinados locais e o aumento dos impostos, há ainda muito a fazer quando se fala de prevenir o consumo de tabaco, diz o presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo (COPPT), Emanuel Esteves. Em particular no que diz respeito à informação dirigida aos mais jovens. Também o Presidente da Pulmonale — Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, António Araújo, vinca a necessidade de haver um foco na prevenção na infância e juventude.
As campanhas de informação e sensibilização dos fumadores para os malefícios do tabaco “têm tido relativamente pouco impacto”, observa António Araújo. São logo à partida limitadas, porque “o tabaco é uma droga e a desabituação é muito difícil”. Por isso, o foco deve estar no controlo do início do consumo, cuja idade média ronda os 14 anos, refere o médico e director do serviço de oncologia Centro Hospitalar do Porto. Sugere que haja uma maior importância da educação para a saúde nos currículos escolares e um intensificar das campanhas dirigidas a crianças a partir dos 10 anos.
As escolas e os locais de convívio devem ser o terreno destas acções de informação, completa Emanuel Esteves, chamando a atenção para as questões de sociabilização associada ao consumo e o papel dos influenciadores. “Se à porta de uma escola, há alunos e professores numa amena cavaqueira a fumar, este comportamento vai induzir quem não fuma a fazê-lo, com o pretexto de querer ser incluído socialmente”, descreve.
Ainda para travar o aumento do consumo entre os jovens, o presidente COPPT alerta para a necessidade de desconstruir as “novas formas de consumo, como os cigarros electrónicos e o tabaco aquecido, que são vendidos como úteis para deixar de fumar e mais saudáveis, sem que haja uma fundamentação científica cabal”. É o efeito que apelida de “inocentação” dos efeitos do consumo de tabaco, “particularmente relevante entre os mais novos”.
Para o combater, afirma, é indispensável que os educadores “não hesitem em nomear os danos provocados” pelo tabaco. “Os números são tremendos: morrem, por semana, cerca de 230 pessoas em Portugal por causa do tabaco. E o que nos devia chocar é que esta é uma causa de morte evitável. Por isso devíamos todos dar um passo para que a informação passe”, reitera Emanuel Esteves.
Nenhum dos médicos deixa, por isso, de apoiar as iniciativas de sensibilização. Emanuel Esteves pede, aliás, um trabalho em conjunto das associações e um envolvimento da sociedade civil na promoção e divulgação de boas práticas de saúde.
Além das campanhas
Identificando as fragilidades da sensibilização, António Araújo vinca a necessidade de haver mais consultas de cessação tabágica no Serviço Nacional de Saúde, levando-as inclusive aos locais de trabalho para facilitar o acesso dos fumadores em idade activa. O uso de exames ao pulmão em campanhas (como o espirómetro, chamado exame do sopro), para evidenciar os efeitos do tabaco, é outras das soluções deixadas pelo presidente da Pulmonale.
Também o dirigente da COPPT aponta ainda uma série de outras medidas possíveis do ponto de vista legislativo: tornar obrigatório que as máquinas de venda de tabaco estejam em ponto menos visíveis das lojas, descaracterizar os maços (retirando-se os grafismos associados às marcas), proibir que se fume à entrada dos estabelecimentos de ensino, hospitalares, centros de saúde, farmácias, lares, entre outros locais públicos. O Governo propôs que fosse proibido fumar a cinco metros de distância em relação a escolas e estabelecimentos de saúde, mas a proposta não foi aprovada na Assembleia da República.