Um trompete com filigrana? É o Almada Trumpet

Custa oito mil euros e envolveu 12 empresas portuguesas de diversas áreas. O Almada Trumpet foi idealizado por um professor do Instituto Politécnico de Viana do Castelo

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Chama-se Almada Trumpet e um trompete como nenhum outro. Doze empresas portuguesas, das áreas da filigrana à metalomecânica, ajudaram a criar este instrumento, que foi concebido em Viana do Castelo, onde, aliás, está em exposição esta quarta-feira, na Cimeira do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC). 

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Chama-se Almada Trumpet e um trompete como nenhum outro. Doze empresas portuguesas, das áreas da filigrana à metalomecânica, ajudaram a criar este instrumento, que foi concebido em Viana do Castelo, onde, aliás, está em exposição esta quarta-feira, na Cimeira do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC). 

"A rede de empresas que colaboraram para a realização do trompete é muito diversificada, variando da produção rigorosamente artesanal à alta tecnologia da produção industrial", referiu, em declarações à Lusa, Ermanno Aparo, docente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), do IPVC, e ideólogo do projecto.

Se uma empresa da Póvoa de Lanhoso "produziu os anéis do trompete, feitos em prata, utilizando a técnica da filigrana portuguesa", os "moldes, em aço, para a campânula e para outros componentes do instrumento, foram produzidos por uma empresa de metalomecânica de Viana do Castelo, que faz peças para a construção naval", explica o professor de design.

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Produzido em cobre por Francisco da Cunha Liquito, um artesão de Caminha, o Almada Trumpet, como foi baptizado, está avaliado em oito mil euros. "Alia a tecnologia de ponta, utilizando máquinas de controlo numérico ou impressoras 3D, a acabamentos e técnicas pouco comuns no âmbito da produção deste tipo de instrumentos de sopro", sublinhou o docente da ESTG.

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Segundo Ermanno Aparo, o instrumento é "80% made in Portugal", sendo que apenas no bloco de pistões existe "a única componente fabricada fora do país, por um especialista italiano Cristian Bosc". O protótipo do trompete em si bemol — a versão do instrumento mais utilizada e mais comum — "pretende demonstrar a alta qualidade da produção nacional, capaz de construir produtos de qualidade, num sector extremamente difícil como o dos instrumentos musicais". Também no Norte do país nasceu o Ava Royale, um violino feito em fibra de carbono, que recentemente ganhou um prémio de design.

O que é nacional "soa bem"

Iniciado há dois anos e meio no Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade de Lisboa, que detém um pólo no IPVC, o projecto contou com a orientação do departamento de Música da Universidade do Minho". "Desde a década de 70 que não se fazem trompetes em Portugal. Este é um exemplo de como a investigação de referência, articulada entre o ensino politécnico e o ensino universitário, não tem medo de se envolver com o mundo empresarial, determinando a qualidade do produto nacional e demonstrando que o que é nacional soa bem", disse, adiantando "existirem manifestações de interesse no instrumento com origem no Japão, Israel, EUA, Brasil, Argentina e Grécia".

Para "validar o processo de criação, o trompete foi testado por 25 trompetistas de música clássica e de música jazz de Portugal, entre eles Luís Granjo, da Orquestra Sinfónica da Casa da Música, Pedro Monteiro, da Orquestra Sinfónica Portuguesa, João Moreira, professor na Escola Superior de Música de Lisboa, e António Silva, trompetista e professor na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo".

O projecto "já foi apresentado em eventos científicos em Portugal e no Brasil, e a participantes em duas masterclasses de trompete realizadas no conservatório de música da Bairrada e na Escola Profissional Artística do Alto Minho. A apresentação pública acontecerá, em Maio, em Lisboa, estando previstas, até final do ano, outras acções envolvendo músicos e instituições "com o objectivo de promover o instrumento e, simultaneamente, promover a sua experimentação junto de profissionais da área".

Numa segunda fase o projecto prevê "a criação de uma mala para o instrumento, que será produzida com a colaboração de uma empresa de Santa Maria da Feira, produtora mundial de cortiça, e uma fábrica de equipamentos para escritório, que garantirá os acabamentos das peles".