Como promover felicidade e produtividade no trabalho? Com jogos de tabuleiro

Os conceitos de gamificação, de aprendizagem através dos jogos, das dinâmicas lúdicas aplicadas em contextos específicos de trabalho chegaram às empresas mais inovadoras. Quem ignorar estas técnicas está a perder o potencial de ferramentas poderosíssimas e relativamente simples de implementar.

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Dmitrij Rodionov/Wikimedia Dmitrij Rodionov/Wikimedia

Em Portugal existem reais preconceitos perante os jogos, ainda provenientes da influência cultural de uma espécie de “ditadura da seriedade”. A Lei do Jogo refere-se a jogos de azar e de fortuna. Jogar sugere a ideia de aposta, de risco e do vício do “jogo” sem referir um eventual mérito. Ou então, no outro extremo, o jogo pode ser visto como uma mera brincadeira de crianças. Mas os jogos podem ser muito mais que isso. Podem ser actividades formativas que tornam as pessoas mais felizes em determinados contextos e actividades. São muito os jogos que podem conseguir esse efeito, mas refiro-me me particular à oportunidade proveniente dos jogos de tabuleiro de inspiração alemã, os Eurogames, que se relacionam com a nova vaga de jogos de tabuleiro modernos.

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Em Portugal existem reais preconceitos perante os jogos, ainda provenientes da influência cultural de uma espécie de “ditadura da seriedade”. A Lei do Jogo refere-se a jogos de azar e de fortuna. Jogar sugere a ideia de aposta, de risco e do vício do “jogo” sem referir um eventual mérito. Ou então, no outro extremo, o jogo pode ser visto como uma mera brincadeira de crianças. Mas os jogos podem ser muito mais que isso. Podem ser actividades formativas que tornam as pessoas mais felizes em determinados contextos e actividades. São muito os jogos que podem conseguir esse efeito, mas refiro-me me particular à oportunidade proveniente dos jogos de tabuleiro de inspiração alemã, os Eurogames, que se relacionam com a nova vaga de jogos de tabuleiro modernos.

Os Eurogames são concebidos para remover ou mitigar o factor sorte e de aleatoriedade. Focam-se em incentivar o mérito e o desenvolvimento das capacidades e competências dos jogadores, que são, nos bons jogos, os melhores componentes do próprio jogo. Na Alemanha do pós 2.ª Guerra Mundial proibiram-se os jogos de guerra e todos aqueles que incentivassem a violência e o ganho total de um perante os outros. Essa proibição, e a necessidade de reinvenção cultural e social, levou ao surgimento de um novo tipo de jogo de tabuleiro nas terras germânicas. A competição passou a ser indirecta, sem eliminação de jogadores, permitindo que cada um seguisse a sua estratégia e vontade, evitando restrições agressivas. Mesmo quem perdia via o fruto do seu “trabalho”, permitindo perceber como poderia melhorar.

Nesses jogos premiava-se o mérito e a eficiência, ao bom estilo alemão, evitando os duelos e criando dinâmicas de grupo não violentas. Os jogos alemães desenvolveram-se no sentido do design diferenciado e de destaque dado aos autores das criações, que recorriam quase sempre a temas históricos, de desenvolvimento civilizacional e económico. A produção também por lá se fez, nas suas fábricas. Assim, nos anos 90 do século XX, com o sucesso internacional do jogo Settlers of Catan, o modelo alemão ganhou visibilidade internacional e transformou-se em modelo para toda a Europa. Nasciam os Eurogames, de clara inspiração alemã. Começava assim era dos jogos de tabuleiro modernos.

Jogar estas peças de design, devido às características anteriormente descritas, ajuda a desenvolver competências de quem neles participa. De uma forma lúdica e divertida é possível aprender e melhorar competências úteis para os intervenientes, aplicáveis em múltiplos contextos, incluindo o familiar. Apesar de o século XXI estar no início sabemos que a criatividade e a capacidade de gerar felicidade são essenciais para a produtividade e sucesso das organizações. Os conceitos de gamificação, de aprendizagem através dos jogos, das dinâmicas lúdicas aplicadas em contextos específicos de trabalho chegaram às empresas mais inovadoras. Quem ignorar estas técnicas está a perder o potencial de ferramentas poderosíssimas e relativamente simples de implementar. Existem imensas alternativas de jogos em múltiplos formatos, sendo que os jogos de tabuleiro, entre todos os jogos, talvez sejam as opções mais práticas e baratas para implementar.

Se chamarem alguém para jogar os efeitos emotivos e motivacionais serão muito diferentes de quando convocam essa mesma pessoa para trabalhar. Esse efeito contrastante é ainda maior nos mais jovens. Mas no final, os que estiveram a jogar num modelo orientado para trabalho, provavelmente, terão produzido mais, melhor e de forma mais criativa. Tudo depende de como os jogos e o trabalho são geridos e planeados. É aí que reside o segredo. Digo isto por experiência própria, por já ter desenvolvido e implementado estas técnicas. Vamos jogar?