O herói das trincheiras

Uma tentativa honesta, modesta e escorreita de fazer um filme de guerra à portuguesa — sem ser grande filme, chuta muita concorrência para canto.

Fotogaleria

Ponto prévio: fosse a maior parte da produção portuguesa dirigida ao grande público tão escorreita e despretensiosa como Soldado Milhões e andávamos todos muito melhor. Porque, pelo menos, este é um filme que quer falar ao espectador sem paternalismos nem condescendências, pegando numa boa história e contando-a de maneira eficaz e despachada, mesmo que sem especial inspiração narrativa ou formal.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Ponto prévio: fosse a maior parte da produção portuguesa dirigida ao grande público tão escorreita e despretensiosa como Soldado Milhões e andávamos todos muito melhor. Porque, pelo menos, este é um filme que quer falar ao espectador sem paternalismos nem condescendências, pegando numa boa história e contando-a de maneira eficaz e despachada, mesmo que sem especial inspiração narrativa ou formal.

The partial view '~/Views/Layouts/Amp2020/VIDEO_CENTRAL.cshtml' was not found. The following locations were searched: ~/Views/Layouts/Amp2020/VIDEO_CENTRAL.cshtml
VIDEO_CENTRAL

É verdade que Soldado Milhões respira um leve aroma de televisão em grande écrã, mas isso acaba quase por ser inevitável num país onde aquilo que mais se aproxima de uma “indústria” de produção reside no pequeno ecrã — e, aqui, sente-se mais no anonimato competente de uma obra dirigida “a quatro mãos” onde não se identifica quem fez o quê, e num ou outro acabamento menos conseguido como a desinspirada banda-sonora de Pedro Janela, a aparência demasiado “certinha” de actores que parecem ter nas trincheiras bronzeado de telenovela, ou a ausência de sotaques rurais que põe toda a gente a falar em português correcto que “quebram” o excelente esforço de ambientação e verosimilhança.

Dito isto, esta história verídica mas romanceada de um herói português esquecido da Primeira Guerra Mundial é uma tentativa modesta mas honesta de fazer um filme de guerra à portuguesa, entrecruzando as experiências traumáticas de Aníbal Milhais nas trincheiras da Flandres em 1917/18 com o stress pós-traumático de um Milhais mais maduro, já casado e pai de família, perseguindo um lobo em 1943. Há um excesso de simbolismo carregado a traço grosso, sobretudo num terceiro acto demasiado disperso, mas a história de base é boa e Miguel Borges é excelente no Milhais mais velho, pelo meio de um elenco de conjunto sóbrio e sólido (com Raimundo Cosme e Ivo Canelas a merecerem destaque especial), e alguns momentos da caça ao lobo são bastante inspirados.

Soldado Milhões estará muito longe de ser um clássico, mas é obra limpa e honrosa que faz figura de obra-prima perante muito do que se quer fazer passar como cinema “para o público”.