Condições da ala pediátrica do São João são “miseráveis”, lamenta administração

António Oliveira e Silva diz não ficar mais descansado com a promessa do Ministério da Saúde de que verba será disponibilizada em breve. O projecto está pronto para avançar. Pais denunciam a falta de condições em que as crianças com cancro recebem os tratamentos.

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São precisos cerca de 22 milhões de euros para avançar com o projecto Paulo Pimenta/Arquivo

O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar São João classificou esta terça-feira de manhã, em conferência de imprensa, as condições do serviço pediátrico do hospital como “indignas”. Pior: são “miseráveis”. António Oliveira e Silva falava aos jornalistas depois das denúncias feitas por vários pais ao Jornal de Notícias sobre as condições em que as crianças com cancro são tratadas.

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O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar São João classificou esta terça-feira de manhã, em conferência de imprensa, as condições do serviço pediátrico do hospital como “indignas”. Pior: são “miseráveis”. António Oliveira e Silva falava aos jornalistas depois das denúncias feitas por vários pais ao Jornal de Notícias sobre as condições em que as crianças com cancro são tratadas.

De acordo com o jornal, há crianças a receber tratamentos de quimioterapia em corredores e os quartos de internamento têm buracos na parede e deixam entrar o frio. O responsável garante que o projecto para a nova ala pediátrica está pronto para avançar e que só falta o desbloqueio das verbas há muito prometidas pelo Ministério da Saúde.

Há dez anos que o hospital tem um projecto para construir uma ala pediátrica, mas o serviço tem sido prestado até agora em contentores. Para avançar com o projecto, a que chamaram Joãozinho, são precisos cerca de 22 milhões de euros. Na conferência de imprensa, o presidente da administração lembrou que também o hospital denuncia “há muito tempo” as condições em que a totalidade dos atendimentos pediátricos são feitos.

“A 1 de Junho de 2017, no Dia Mundial da Criança, foi assinado um protocolo entre o centro hospitalar, a Administração Central do Sistema de Saúde e a Administração Regional de Saúde do Norte para serem desbloqueadas as verbas necessárias para o projecto da ala pediátrica do São João. Estamos a aguardar que sejam desbloqueadas. Mas posso dizer que em tudo em que não sejam precisas essas verbas estão a ser feitas coisas. A 15 de Junho vai ser disponibilizado um centro de ambulatório novo e foram montados quartos de isolamento naquele internamento, que continuo a classificar como indigno. O que precisamos é que sejam desbloqueadas as verbas já prometidas pela tutela e que ainda não estão ao nosso dispor”, afirmou António Oliveira e Silva.

Questionado pelos jornalistas se estava mais descansado com a promessa feita já esta terça-feira pelo Ministério da Saúde de que o dinheiro ficaria disponível em breve, o responsável disse que não. “Já li essa resposta há mais de três meses”, rematou.

O presidente da administração garantiu que o hospital sempre esteve e estará disponível para o diálogo com os pais, mas assumiu que são poucas as respostas que pode dar. “Isto às vezes pode soar como um sacudir de água do capote de uma entidade para outra, mas o que relembro é que temos um protocolo assinado desde o ano passado, um projecto pronto para entrar em execução e não termos a verba libertada para o projecto entrar em execução.” O valor estimado para a obra, adiantou António Oliveira e Silva, é de cerca de 22 milhões de euros.

Sobre o facto de existirem crianças a receber quimioterapia em corredores o responsável disse poder tratar-se “de um caso ou outro em que por falta de espaço tenha sido feito o tratamento no corredor”. “Tudo o que seja possível melhorar, vamos fazer de forma imediata”, assegurou.

Entretanto, a meio da tarde o PCP pediu a audição parlamentar urgente do ministro da Saúde e da administração do Hospital de São João. A deputada comunista Carla Cruz prometeu que iria "focar todas as questões de investimento necessário fazer ao nível de infra-estruturas e equipamento no SNS" durante a referida audição ao responsável pela tutela, requerida com "carácter de urgência".

"Esta situação é a prova de que a opção central não pode ser a redução do défice, mas a recuperação do investimento público e resolver os problemas das pessoas e mostra a sua premência e urgência, depois de quatro anos de governação PSD/CDS em que houve um decréscimo acentuado no investimento público que degradou a resposta pública, quer no SNS, quer na educação", disse.

Não foi, porém, o único partido a fazê-lo. O CDS-PP fez 14 perguntas ao ministro da Saúde sobre o atendimento de crianças. Nuno Magalhães assegurou que o ministro das Finanças, com audição conjunta prevista para quarta-feira, pelas comissões parlamentares de Saúde e de Finanças, será igualmente questionado sobre este assunto. "São condições indignas e que indignam qualquer pessoa, mesmo vergonhosas. Matérias muitíssimo graves", reforçou.

Também o PSD disse que ia pedir esclarecimentos ao Governo e a audição da administração do Hospital de São João. O coordenador do grupo parlamentar do PSD na Comissão de Saúde, Ricardo Baptista Leite, afirmou que, “ao longo dos últimos dois anos, o país tem assistido à degradação dos serviços prestados aos doentes com cancro”.

Por outro lado, o deputado recordou que, há um mês e meio, o PSD já tinha pedido uma audição do ministro das Finanças, Mário Centeno, na Comissão parlamentar de Saúde precisamente para responder sobre as dificuldades sentidas no sector. A audição está agendada para esta quarta-feira, às 10h30. “[Mário Centeno] é de facto o ministro da Saúde em funções, é aquele que está a tomar decisões na saúde e temos um Ministério da Saúde que está refém quer da extrema-esquerda, quer, sobretudo, das decisões do ministro das Finanças, que tem uma agenda pessoal e coloca o défice acima da saúde dos portugueses”, acusou. com Lusa