Ministério da Cultura entrega a Castelo Branco pintura atribuída a Jan Fyt

O museu Francisco Tavares Proença Júnior torna-se esta terça-feira o mais recente beneficiário do programa de depósitos da colecção do Novo Banco com a cedência de uma Natureza Morta com Flores da escola flamenga do século XVII.

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Uma das obras mais relevantes do núcleo de pintura flamenga da colecção do Novo Banco – uma Natureza Morta com Flores atribuída ao pintor barroco Jan Fyt (1611-1661) – vai em breve poder ser vista no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco. O ministro da Cultura, o presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia, e o CEO do Novo Banco (NB), António Ramalho, assinam esta terça-feira naquele museu o protocolo de cedência desta obra, dando continuidade a um programa de depósitos que prevê a distribuição da colecção de pintura do NB por museus de todo o país.

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Uma das obras mais relevantes do núcleo de pintura flamenga da colecção do Novo Banco – uma Natureza Morta com Flores atribuída ao pintor barroco Jan Fyt (1611-1661) – vai em breve poder ser vista no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco. O ministro da Cultura, o presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia, e o CEO do Novo Banco (NB), António Ramalho, assinam esta terça-feira naquele museu o protocolo de cedência desta obra, dando continuidade a um programa de depósitos que prevê a distribuição da colecção de pintura do NB por museus de todo o país.

Depois da entrega da pintura Entrada solene, em Lisboa, do Núncio Apostólico Monsenhor Giorgio Cornaro, para a primeira audiência do Rei D. Pedro II, de autor desconhecido do século XVIII, ao novo Museu do Coches, e do anúncio de que uma pintura do paisagista francês Jean-Baptiste Pillement (1728-1808) dedicada ao célebre naufrágio do navio espanhol San Pedro de Alcantara em Peniche poderá ir para o projectado Museu da Resistência, esta nova cedência recaiu agora no museu de Castelo Branco, cujo núcleo original se centra na colecção arqueológica do seu patrono, mas que foi posteriormente enriquecido com obras de arte antiga do recheio do antigo Paço Episcopal, cujo edifício ocupa desde 1971.

Representado com duas pinturas na colecção do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, e com outra no Museu Nacional de Arte Antiga, Jan Fyt, provável autor da pintura agora cedida, é considerado, com o seu mestre Frans Snyders (1579-1657), um dos mais talentosos especialistas na pintura de naturezas-mortas e animais do barroco flamengo, sendo particularmente admirado pelo seu tratamento da cor, pelo modo como joga com os efeitos luminosos e pelo extraordinário detalhe com que representa a pelagem dos animais. 

Paula Leite Santos, conservadora do Museu Nacional Soares dos Reis e doutorada com uma tese que trata justamente da presença de pintura de mestres da Antuérpia nos museus do Porto, não hesita em considerar “realmente fantástica” a obra agora destinada a Castelo Branco, cuja atribuição de autoria a Jan Fyt corrobora, argumentando que este arranjo de flores num vaso com papagaio” compara, entre outras, com uma pintura do artista hoje conservada no Museu do Prado, em Madrid: um Concerto de aves datado de 1661 e originário da colecção de Isabel Farnésio (1692-1766), princesa de Parma que foi mulher de Filipe V de Espanha. Uma das aves que se vê nesse quadro é precisamente um papagaio de penugem vermelha.

“Neste tipo de natureza-morta contra fundo aberto, Fyt mostra uma certa forma de compor que tende a valorizar ambientes de uma luz crepuscular propagando-se nas suas cambiantes ao tema principal”, diz Paula Leite Santos, acrescentando que “estamos a falar de um dos mais reputados pintores animalistas da escola flamenga”. Nesta pintura vinda da colecção do NB, a especialista assinala “a presença da ave exótica e das carrancas de leões no vaso de bronze”, observando que “o papagaio é o ser vivo que se relaciona com as flores, imprimindo mais autenticidade à natureza-morta em fundo natural”, e que “é o vermelho da penugem, o preto e o branco desta ave falante que vai marcar a paleta, repercutindo-se na grinalda de flores (miosótis, rosas, bolas-de-neve, tulipas...), interpretadas com pleno sentido dos relevos, de pétalas e folhagem”. E “tudo isto”, conclui, “confere supremacia ao arranjo floral, cuja apresentação no Museu de Castelo Branco vai enriquecer em muito o caudal de pintura de mestres de Antuérpia dos museus Nacionais”.

O gabinete do Ministério da Cultura adiantou ainda ao PÚBLICO que um novo depósito, destinado ao Museu Nacional de Arte Antiga, deverá ser anunciado no próximo dia 18 de Maio, quando se comemora o Dia Internacional dos Museus, mas o Novo Banco não anunciou ainda de que obra se trata.

 

Notícia alterada para acrescentar o depoimento de Paula Leite Santos.