Emigrantes em França assistem à homenagem dos soldados da I Guerra Mundial

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa em Paris.

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daniel rocha

Largas dezenas de emigrantes e lusodescendentes esperaram neste domingo várias horas, em Paris, pela homenagem aos soldados lusos que se bateram há cem anos na Batalha de La Lys, na Primeira Guerra Mundial.

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Largas dezenas de emigrantes e lusodescendentes esperaram neste domingo várias horas, em Paris, pela homenagem aos soldados lusos que se bateram há cem anos na Batalha de La Lys, na Primeira Guerra Mundial.

Os portugueses foram-se juntando na entrada da "Avenue des Portugais", uma pequena rua de 55 metros de comprimento e 26 de largura, no 16.° bairro, e que foi baptizada a 14 de Julho de 1918, por deliberação do conselho municipal de Paris, em memória da entrada de Portugal na guerra ao lado dos aliados, substituindo o anterior nome - Avenue de Sofia -, que era a capital de um país da coligação inimiga.

Entre algumas bandeiras, cachecóis e bonés de Portugal, Lurdes Milhões e Zelie Demey Milhões, neta e bisneta do famoso Soldado Milhões, assistiram à cerimónia na primeira fila para prestar homenagem ao familiar que foi considerado um herói na fatídica Batalha de La Lys.

"É uma homenagem ao meu avô e a todos os soldados portugueses que combateram em França, aqueles que morreram, aqueles que ficaram feridos. Ele morreu quando eu tinha 10 anos e falava muito sobre isso, ele sofreu muito. Não falava muito com as crianças, era mais quando havia jornalistas que vinham e nós escutávamos", contou Lurdes Milhões, de 50 anos, que emigrou de Murça para França quando tinha 20 anos e que quando era menina era conhecida na escola como "a neta do Milhões".

A sua filha, Zelie, de 27 anos, cresceu em França a ouvir as histórias do bisavô, pelo que não podia faltar à cerimónia de hoje em nome da sua própria família e para lembrar o homem que foi "um herói e também uma vítima porque veio combater quando era um simples agricultor e não um soldado".
Colada à baia de segurança que impedia a passagem do público para a "Avenue des Portugais",

Maria da Costa Oliveira contou à Lusa que só há um ano descobriu que o seu bisavô e um tio-bisavô também tinham estado na guerra das trincheiras.

"Vim porque tenho orgulho de ser portuguesa e porque eles combateram. A minha mãe e o meu pai falaram-me há pouco tempo sobre isto e vim para saber mais desta história que conheço pouco", contou a portuguesa de 52 anos, que veio para França "a salto" quando tinha apenas 10 anos.
Também na primeira fila, a colocar no seu Facebook uma fotografia da placa da Avenue des Portugais com uma placa ao lado a indicar que a 14 de Julho de 1918 o conselho municipal de Paris decidiu homenagear os "soldados portugueses que combateram ao lado das forças aliadas para a liberdade da França", estava Fernanda Miranda, de 52 anos e há 27 em França.

"Escrevi no Facebook 'homenagem aos nossos soldados portugueses' porque foram pessoas que deixaram as famílias e vieram combater na guerra. É importante dar valor às nossas raízes e às pessoas que lutaram para fazer reconhecer o que os portugueses são. Não somos só pessoas das limpezas e 'maçons', servimos para alguma coisa", comentou Fernanda Miranda, que chegou ao meio-dia ao local, cinco horas antes do início da cerimónia.

Manuel Pinto Lopes, que vive em França há 50 anos, também chegou muito cedo para assistir à homenagem porque "não se pode esquecer o sacrifício dos 50 mil soldados portugueses que estiveram na Primeira Guerra Mundial e os 7.000 que foram feridos, mortos ou capturados a 9 de Abril de 1918".

"Uma grande parte dos franceses ignora que os portugueses participaram na Primeira Guerra Mundial e tentamos informá-los. A Avenida dos Portugueses é uma das mais pequenas avenidas de Paris, mas não interessa ser pequena ou grande porque está num ponto central e é o que conta", explicou o português de Fafe, acrescentando que também há uma Avenue de Lisbonne na capital francesa.

A curta avenida fica a cerca de cinco minutos a pé do Arco do Triunfo, a partir de onde desfilaram, a 14 de Julho de 1919, 400 soldados portugueses na marcha da vitória dos Aliados ao longo da Avenida dos Campos Elísios.

A animar a espera e a cerimónia estiveram as marchas da Filarmónica Portuguesa de Paris, "a única banda filarmónica portuguesa fora de Portugal na Europa", que existe há 30 anos, disse à Lusa Rui Brito, um dos 25 músicos presentes na avenida.

Depois da Avenue des Portugais, o chefe de Estado e de governo deslocam-se para o Arco do Triunfo para a cerimónia do «reavivar da chama» no monumento ao Soldado Desconhecido em homenagem ao Corpo Expedicionário Português que participou na Primeira Guerra Mundial em França.