A manhã gelada em que Portugal perdeu a guerra

Na madrugada de 9 de Abril de há 100 anos, o frágil Exército português teve de enfrentar uma poderosa ofensiva dos alemães nos campos húmidos e gelados da Flandres francesa. Em poucas horas, o destino dos 20 mil soldados que defendiam uma linha de dez quilómetros dividia-se entre a morte, a prisão ou a fuga. Foi um desastre que o caos da República e a incúria do Exército ajudam a explicar.

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Lá para o final da manhã fria e cinzenta de 9 de Abril de 1918, o alferes Carlos Olavo chegara à dura conclusão de que nada podia salvar o destino dos 20 mil portugueses que aguentavam há horas um impiedoso ataque alemão no sector de La Lys, na Flandres francesa. “Estamos perdidos, cercados, prisioneiros! E não há possibilidade nem de resistir, nem de retirar. Nunca me senti tão desgraçado pelo inesperado de uma situação cuja probabilidade afastei sempre do meu destino. Vencido, definitivamente vencido!”, lamentava. Na zona de Lacouture, Aníbal Milhais escondera-se num abrigo para com a sua metralhadora tentar suster o ímpeto dos alemães, um acto de coragem que lhe valeria a mais alta condecoração militar portuguesa, mas o seu gesto tinha tanto de desesperado como de inútil. O violento bombardeamento com 1500 peças de fogo durava desde as 4h15 da madrugada e o sector ocupado pelo Corpo Expedicionário Português (CEP), com uma extensão na linha da frente de cerca de dez quilómetros, tinha-se transformado numa “massa de escombros, de terra, de revestimentos despedaçados, amalgamados com os cadáveres das guarnições”, na avaliação do comandante da divisão, o general Gomes da Costa.

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Lá para o final da manhã fria e cinzenta de 9 de Abril de 1918, o alferes Carlos Olavo chegara à dura conclusão de que nada podia salvar o destino dos 20 mil portugueses que aguentavam há horas um impiedoso ataque alemão no sector de La Lys, na Flandres francesa. “Estamos perdidos, cercados, prisioneiros! E não há possibilidade nem de resistir, nem de retirar. Nunca me senti tão desgraçado pelo inesperado de uma situação cuja probabilidade afastei sempre do meu destino. Vencido, definitivamente vencido!”, lamentava. Na zona de Lacouture, Aníbal Milhais escondera-se num abrigo para com a sua metralhadora tentar suster o ímpeto dos alemães, um acto de coragem que lhe valeria a mais alta condecoração militar portuguesa, mas o seu gesto tinha tanto de desesperado como de inútil. O violento bombardeamento com 1500 peças de fogo durava desde as 4h15 da madrugada e o sector ocupado pelo Corpo Expedicionário Português (CEP), com uma extensão na linha da frente de cerca de dez quilómetros, tinha-se transformado numa “massa de escombros, de terra, de revestimentos despedaçados, amalgamados com os cadáveres das guarnições”, na avaliação do comandante da divisão, o general Gomes da Costa.