Maria João Morais é a primeira mulher a ser escolhida para mordoma da Festa dos Tabuleiros
Entre as suas tarefas está a recolha de fundos para a aquisição de todo o material necessário para a confecção dos tabuleiros.
O povo de Tomar reunido sexta-feira à noite no Salão Nobre dos Paços do Concelho votou, unanimemente, a realização da Festa dos Tabuleiros em 2019, disse à Lusa a mordoma eleita, a primeira mulher a desempenhar esta função.
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O povo de Tomar reunido sexta-feira à noite no Salão Nobre dos Paços do Concelho votou, unanimemente, a realização da Festa dos Tabuleiros em 2019, disse à Lusa a mordoma eleita, a primeira mulher a desempenhar esta função.
"O povo decidiu que há festa", disse à Lusa Maria João Lima Morais, "emocionada" com a designação do seu nome para comandar a próxima Festa dos Tabuleiros, uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal e que se realiza de quatro em quatro anos, numa decisão que parte sempre da decisão da população, tomada no ano anterior numa sessão convocada pela Câmara Municipal.
A mordoma da festa disse à Lusa não conseguir precisar quantas pessoas compareceram à sessão de hoje à noite, assegurando que o Salão Nobre "encheu", com a presença de populares e de representantes de todas as 11 freguesias do concelho, cujo papel na construção da festa realçou.
Maria João Morais sublinhou a "força, a garra, o brio" colocados pela população nesta festa, frisando que, tomada a decisão, começa o trabalho da confecção das flores para compor os tabuleiros, entre muitos outros detalhes que é necessário preparar.
O nome de Maria João Morais, que pertencia já ao núcleo coordenador da festa que trabalhou com João Victal, o mordomo nas edições de 2007, 2011 e 2015 e que tinha declarado já a sua vontade de ceder o lugar, surgiu naturalmente, tendo sido colocado de imediato à votação por vários dos populares presentes.
Entre as várias tarefas que têm em mãos, a mordoma terá que conseguir reunir os fundos para a aquisição de todo o material necessário para a confecção dos tabuleiros, que na edição de 2015 totalizaram os 682.
Maria João Morais disse à Lusa que, apesar do número crescente de jovens que se inscrevem nas freguesias para participar no desfile, o número atingido na última edição está próximo do limite possível, até pela dimensão da Praça da República, onde se concentram todos os participantes.
"A festa começou hoje", afirmou, salientando o trabalho a fazer tanto nas freguesias como nas escolas do concelho, tendo em conta a realização do designado "cortejo dos rapazes", envolvendo as crianças do concelho.
Segundo a mordoma, olhando para o calendário, é provável que a próxima edição da festa venha a acontecer no primeiro fim-de-semana de Julho, culminando as "sete saídas das coroas", mas a data só será anunciada mais tarde.
Milhares de tomarenses, da cidade e das freguesias rurais (nas juntas de freguesia, escolas, associações, lares, hospital), envolvem-se na confecção de flores de papel (para os tabuleiros e para enfeitar as ruas), dos tabuleiros e dos trajes.
Os tabuleiros da festa de Tomar, únicos com esta forma nas tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país, têm na base um cesto de verga que é enfeitado com um pano bordado ou em renda.
No cesto são espetadas cinco ou seis canas, dependendo da altura da rapariga que o vai transportar, que levam cinco ou seis pães (no total têm de ser obrigatoriamente 30), numa estrutura que é enfeitada com coloridas flores (papoilas e espigas são obrigatórias) e encimada com uma coroa que leva uma pomba branca ou a cruz da Ordem de Cristo.
A rapariga traja de branco com uma faixa da cor dominante do tabuleiro que transporta à cabeça (com cerca de 10/11 quilogramas), cor que o rapaz usa também na gravata e na cinta que enfeitam o fato de camisa branca e calça preta. Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu carácter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel.
Dada a sua complexidade, a festa realiza-se de quatro em quatro anos, tendo havido apenas uma edição em que o povo decidiu adiar a sua realização por um ano, por coincidir com a Expo 98, evento no qual participou com um cortejo a convite do então Presidente da República, Jorge Sampaio.