"O que está a faltar é a integração de hábitos mais activos no dia-a-dia"
Subir as escadas em vez de utilizar o elevador ou ter reuniões em pé são estratégias que se podem adoptar para integrar a actividade física no quotidiano, defende o director do Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física.
No Dia Mundial da Actividade Física, Pedro Teixeira, director do Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física, comenta os dados do Eurobarómetro sobre a actividade física dos europeus.
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No Dia Mundial da Actividade Física, Pedro Teixeira, director do Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física, comenta os dados do Eurobarómetro sobre a actividade física dos europeus.
Passamos menos tempo sentados mas também somos os que mais dizem que nunca ou raramente praticam desporto. Como é que isto se explica?
É difícil interpretar. Provavelmente, os portugueses têm um uso do tempo em que passam muito tempo em tarefas que não são laborais, mas que também não são de recreação. O nosso tempo de lazer parece estar encurtado, mas, por outro lado, quando o temos não o estamos a usar de forma activa. Há uma grande procura pelos ginásios e isso também demonstra que as pessoas estão a usar uma parte do tempo de forma muito organizada. Nos ginásios, normalmente, temos aulas de uma hora ou 30 minutos e é assim que as pessoas tentam colmatar essa falta de exercício e actividade física. Mas o que está a faltar é a integração no dia-a-dia de hábitos mais activos. Mais marcha, mais bicicleta, mais desporto ao ar livre, mais utilização do fim-de-semana para actividades com família que envolvam actividade física e desporto.
As pessoas apontam várias barreiras à prática da actividade física. Quais destaca?
Em Portugal, muitas pessoas ainda acham que ter uma actividade física é dispendioso. Outra barreira tem a ver com o facto de as pessoas não se sentirem suficientemente interessadas e motivadas para a prática de actividade física. Em Portugal, um terço das pessoas diz que essa é uma barreira importante. Não se sentem atraídas e isso é uma questão cultural e de literacia da população, que ainda não vê no exercício algo importante para a sua saúde. Por outro lado, na Europa, só um quinto das pessoas diz que a motivação é uma barreira. Acho que há aqui uma diferença grande. Há algum trabalho a fazer (e estamos a fazê-lo), para sensibilizar as pessoas de que a actividade física é uma coisa importante e vital para a sua saúde. Acho que o termo certo a usar aqui é a falta de literacia física.
Outra das questões mencionadas é a falta de tempo. O que é que se pode fazer para convencer as pessoas de que a actividade física pode ser integrada no seu quotidiano?
Uma das coisas a fazer é motivar, mostrar que o desporto e a actividade física podem ser coisas que se acrescentam à vida, que lhes dão mais energia, mais vitalidade, mais capacidade cognitiva. Outra coisa é mostrar que a actividade física é fácil. Há muitas pequenas coisas que as pessoas não associam a ser fisicamente activo. Por exemplo, no local de trabalho uma reunião não tem de ser sempre sentado. E quando estamos num edifício, as escadas não têm só de ser um recurso quando o elevador está avariado, podem ser uma forma muito simples de fazermos mais actividade física. É ver no dia-a-dia todas as oportunidades que temos para nos mexermos um bocadinho mais. Podem ser pausas para não estarmos tanto tempo sentados ou pequenas deslocações.
Quando mudamos o interruptor e procuramos, em vez das possibilidades para estar a descansar, as pequeninas possibilidades para estarmos activos, a falta de tempo deixa de ser importante. Porque isso não tira tempo nenhum.
(Pedro Teixeira é colaborador regular do PÚBLICO com uma rubrica sobre actividade física no caderno P2)