“Uma história de amor não vale pelo fim, vale pelo seu todo”

Aldina Duarte apresenta o muito elogiado Quando Se Ama Loucamente no palco do CCB, em Lisboa. Esta sexta-feira, às 21h.

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Aldina Duarte fotografada para a promoção do disco Quando Se Ama Loucamente ISABEL PINTO

A história já foi contada, mas só agora chega a um grande auditório o disco de Aldina Duarte Quando Se Ama Loucamente, que ela gravou em resultado de uma paixão que se lhe acabou sem aviso prévio. O concerto está marcado para esta sexta-feira no CCB, em Lisboa, às 21h.

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A história já foi contada, mas só agora chega a um grande auditório o disco de Aldina Duarte Quando Se Ama Loucamente, que ela gravou em resultado de uma paixão que se lhe acabou sem aviso prévio. O concerto está marcado para esta sexta-feira no CCB, em Lisboa, às 21h.

Quando essa história de amor acabou, Aldina andou algum tempo sem norte. Encontrou-o na escrita de Maria Gabriela Llansol, lendo Amigo e Amiga, lendo e recolhendo frases. “Não sou de sublinhar livros, normalmente, mas com ela tenho sido”, recorda Aldina ao PÚBLICO. Em palco, quer transmitir a mesma ideia principal que queria passar com o disco: “Uma história de amor não vale pelo fim, vale pelo seu todo. Porque esta história de amor é muito feliz, muito construtiva, apesar do seu final trágico.” Este tipo de “salvação” já o vivera: na adolescência com Dostoievski; mais tarde com Jacques Brel; e agora com Maria Gabriela Llansol. “Com o tempo tornou-se uma espécie de fortaleza.” Inspirada nela, escreveu quase todo o disco (as únicas excepções são uma letra de Maria do Rosário Pedreira e uma canção de Manel Cruz): “Honestamente, acho que são as minhas melhores letras de sempre. E foram escritas de um jorro, só num dia fiz três. Não dormia, não comia, andava um bocado obcecada, mas foi.” Depois, andou um ano a cantá-las sem as gravar, como num perpétuo ensaio. “É a primeira vez que faço isso.” Depois, os temas foram gravados em duas tardes, na maioria logo à primeira.

Uma atracção pela luz

“Aquela coisa que eu acho que só o amor, feliz ou não, consegue, é que nós transformamo-nos mesmo naquele amor. E quando a gente dá por ela, a nossa vida já é outra coisa e nós já mudámos também. E normalmente para melhor.” Mas esta visão feliz não é a mais comum. “É muito difícil passar esta ideia, porque as rupturas são as mais valorizadas. Eu própria tive medo, quando pensei escrever a história, de o fazer sem uma ‘bengala’. Porque eu sou tendencialmente mais negra, nos meus gostos artísticos em geral. Mas quando vou à Maria Gabriela Llansol, que também tem partes mais obscuras, ela, mesmo quando está lá naqueles mistérios mais obscuros, está em contraluz. É luminosa, tem uma atracção fatal pela luz.”

Quando acabou o seu relacionamento amoroso com Camané (“ficámos grandes amigos”), percebeu que tinha encontrado a sua vocação e gravou, em seguida, o seu primeiro disco. “Agora o que senti em relação a este caso, que foi um amor feliz, é que quando dou por ela estou a escrever um disco inteiro. E a seguir gravei o meu primeiro disco feito por mim.”

Não alegres mas felizes

Até aqui, Aldina tem cantado fados. Agora, não deixando de os cantar, canta também factos. “Enquanto intérprete, assumo que vou cantar factos. Aqui sei que objectos são estes, que lugares são estes, que pessoas são estas, e isso muda tudo. É cantar uma coisa que vivi.”

O guião? “Quero que seja a história de um amor feliz, assumindo o seu lado trágico e triste. Vou buscar os fados dos discos anteriores que reforçam essa ideia e vou arriscar ter só guitarra e viola. E vai haver um cuidado acrescentado com a luz, porque é da luz que vai viver este ambiente, que eu quero que seja feérico. Há um ambiente de conto de fadas à moda medieval, daquelas histórias de amor que punham em causa as convenções, que rompiam com os cânones todos da época, mas onde havia aquela coisa linda da paixão.”

Com Paulo Parreira na guitarra portuguesa e Rogério Ferreira na viola de fado, Aldina quer que esse ambiente se imponha naturalmente. “Porque quero que haja leveza. Uma coisa é aligeirar, que eu abomino. Mas a leveza… Eu queria que as pessoas ficassem suspensas, que não houvesse tempo. Queria que houvesse muito silêncio, muito espaço vazio.” Não haverá cenário, apenas dois palanques, um de cada lado do palco. No meio do concerto, haverá uma parte “mais concreta e prosaica”: “O único cenário é o arsenal dos instrumentos do Manel Cruz [Ornatos Violeta] e do Pedro Gonçalves [Dead Combo], que estão sempre ali, semi-iluminados, ao pé das cadeirinhas onde iremos estar os três, à laia de uma sala de ensaios. Eles vão tocar juntos, que nunca tocaram, e eu vou cantar com eles. É outra realidade.”

Depois ela volta: “Vou terminar entre aquela sala de ensaios e aquele palco do meu fado, algures onde o público interferiu, a cantar temas mais emblemáticos como Ai meu amor se bastasse ou a Princesa prometida. Porque se não fossem as pessoas terem elegido temas como esses, se calhar eu não teria chegado à alegria do meu fado nem distinguia a felicidade da alegria nos meus fados. Porque tenho fados que não são alegres mas são felizes.”