Morreu Isao Takahata, o outro pilar do Studio Ghibli
Cúmplice e sócio de Hayao Miyazaki, Takahata assinou duas das obras-primas da animação japonesa: O Túmulo dos Pirilampos e O Conto da Princesa Kaguya.
Há algo de injusto em reduzir a carreira do japonês Isao Takahata (1935-2018), que morreu na quinta-feira, aos 82 anos, de cancro do pulmão, à do “outro sócio” do estúdio de animação Ghibli. Enquanto o seu amigo, cúmplice, sócio e rival Hayao Miyazaki, autor de O Meu Vizinho Totoro, Princesa Mononoke ou A Viagem de Chihiro, era aclamado mundialmente por gente tão insuspeita como John Lasseter e via a Disney assinar um acordo para a distribuição mundial dos seus filmes, Takahata era relegado para um injusto segundo plano que “desviou” os holofotes da sua arte mais delicada e poética. Mas a cumplicidade entre os dois animadores era tal que colaboravam regularmente nas obras do outro, e os seus colegas apontavam como Takahata fora uma influência essencial no cinema de Miyazaki.
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Há algo de injusto em reduzir a carreira do japonês Isao Takahata (1935-2018), que morreu na quinta-feira, aos 82 anos, de cancro do pulmão, à do “outro sócio” do estúdio de animação Ghibli. Enquanto o seu amigo, cúmplice, sócio e rival Hayao Miyazaki, autor de O Meu Vizinho Totoro, Princesa Mononoke ou A Viagem de Chihiro, era aclamado mundialmente por gente tão insuspeita como John Lasseter e via a Disney assinar um acordo para a distribuição mundial dos seus filmes, Takahata era relegado para um injusto segundo plano que “desviou” os holofotes da sua arte mais delicada e poética. Mas a cumplicidade entre os dois animadores era tal que colaboravam regularmente nas obras do outro, e os seus colegas apontavam como Takahata fora uma influência essencial no cinema de Miyazaki.
Foi também essa distância dos holofotes a permitir-lhe, por exemplo, trabalhar sem pressas nem pressões durante quase 13 anos naquele que seria o seu último filme – O Conto da Princesa Kaguya (2013), inspirado por um conto tradicional japonês, estreado na Quinzena dos Realizadores de Cannes e nomeado para o Óscar de melhor longa animada em 2015, é uma das mais superlativas obras saídas da produção Ghibli. Que em nada fica atrás da obra-prima absoluta de Takahata, O Túmulo dos Pirilampos (1988), comovente melodrama sobre as aventuras de dois órfãos durante a Segunda Guerra Mundial adaptado de um conto de Akiyuki Nosaka que continua a não ser reconhecida como merece.
Com a morte de Takahata, é também mais uma porta que se encerra na história do cinema de animação japonês, depois de Miyazaki, actualmente com 77 anos, ter anunciado, em 2014, a sua retirada do cinema e a suspensão das actividades do Studio Ghibli (mesmo que, entretanto, já tenha voltado atrás com a sua palavra). Inseparáveis desde que se conheceram em 1959 nos estúdios de animação Toei, continuaram a trabalhar juntos depois de encetarem carreiras independentes, trabalhando regularmente para televisão – foi Takahata a dirigir as aventuras televisivas da órfã suíça Heidi na série televisiva de 1974 que se tornou num fenómeno de popularidade, colaborando igualmente em Conan, o Rapaz do Futuro. A formação em 1985 do Studio Ghibli, na sequência do sucesso de Nausicaa do Vale do Vento (1984), aspirando ao estatuto de uma “Disney japonesa”, foi o culminar de uma longa carreira em prol da animação tradicional: das duas dezenas de longas-metragens produzidas pelo estúdio, oito bateram recordes de bilheteira no Japão.
Isao Takahata deixa apenas nove longas em nome próprio, as mais importantes das quais as cinco que dirigiu para o Ghibli: O Túmulo dos Pirilampos, Memórias de Ontem (1991), Pompoko (1994), A Família Yamada (1999) e O Conto da Princesa Kaguya. Embora todos tenham sido lançados em DVD entre nós, apenas o último, premiado em 2015 na Monstra, chegou à estreia comercial em Portugal.