O TEP enfrenta a teia de “Mochila” às costas

Sete adolescentes, feitos actores em Janeiro, procuram um amigo que parece já não existir até 8 de Abril, em Matosinhos

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Sete adolescentes irrompem pelo Teatro Municipal de Matosinhos. Andam à procura de um rapaz, a pedalar num monociclo, anunciam na nova peça do Teatro Experimental do Porto (TEP), Mochila, que hoje, sexta-feira, se estreia. Aproximam-se: “Por acaso não o viu a passar por aqui?” Um coro de “nãos” germina pelo átrio de entrada. O grupo de amigos já andava desconfiado: o amigo esteve estranho durante o ensaio todo, contam-se pelos dedos de uma mão as palavras que murmurou e Bernardo Lourenço, 17 anos, jura que, antes de se evaporar, Moche lhe disse: “Sabes, quando olho para a frente, sinto medo.” O que é que era suposto ele responder a uma coisa daquelas?

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Sete adolescentes irrompem pelo Teatro Municipal de Matosinhos. Andam à procura de um rapaz, a pedalar num monociclo, anunciam na nova peça do Teatro Experimental do Porto (TEP), Mochila, que hoje, sexta-feira, se estreia. Aproximam-se: “Por acaso não o viu a passar por aqui?” Um coro de “nãos” germina pelo átrio de entrada. O grupo de amigos já andava desconfiado: o amigo esteve estranho durante o ensaio todo, contam-se pelos dedos de uma mão as palavras que murmurou e Bernardo Lourenço, 17 anos, jura que, antes de se evaporar, Moche lhe disse: “Sabes, quando olho para a frente, sinto medo.” O que é que era suposto ele responder a uma coisa daquelas?

 

A verdade é que nem ele nem os outros seis actores amadores em Mochila — chegados a esta nova produção do TEP depois de uma audição em Janeiro, que reuniu cerca de 20 jovens que vivem ou estudam em Matosinhos — saberiam como o sossegar. Com 14, 16 e 17 anos, todos têm medo “do futuro”. “Da faculdade”, daqui a um ou dois anos. De descobrir se realmente têm talento para o teatro. Ou para outra coisa qualquer, já agora.

 

Antes da primeira experiência com uma companhia profissional, já todos tinham experimentado teatro. Mas, no “casting que esteve longe de ser como se vê na televisão”, salienta o encenador, o objectivo não foi descobrir talentos, mas encontrar jovens “que se queriam comprometer”, primeiro com os dois ensaios por semana, depois com três e, na última semana, à boleia das férias escolares (“supostas férias”, assinala Carolina Teixeira, uma das actrizes) com as quase oito horas diárias de ensaio.

 

Sentados em frente às suas escolhas, Jorge Louraço, responsável pela dramaturgia, e Gonçalo Amorim, o encenador, tentam disfarçar o riso. “Mas, na vossa idade, o que é isso de ser muito talentoso?”, pergunta o primeiro. “Mais ou menos quando tinha a vossa idade, o meu professor de Expressão Dramática era o meu pai, e ele dizia que formava pessoas, não actores”, explica o encenador. Do outro lado, mochilas a descansar junto aos pés, os jovens voltam a encostar-se nas cadeiras.

 

Foi deste diálogo intergeracional, entre quem anda à procura e quem já descobriu e voltou a ter de procurar tantas vezes que já perdeu a conta, que Mochila se foi alimentando. A história que o grupo de amigos conta na sala escura, enquanto caem numa teia gigante de película aderente, explica Jorge Louraço, é a “tradução fantasiosa” da “matéria-prima” obtida a partir do que cada um trazia para cada ensaio — por isso é que, cada um dos adolescentes, além de actor, fez-se igualmente co-criador.

 

Na peça, em cena até 8 de Abril, no teatro de Matosinhos, os actores mantêm os nomes próprios, mas trocam vivências. Esta é só uma das modificações que ocorrem em palco. “Numa altura em que vivemos todos no agora”, diz Louraço, “quisemos alargar o tempo experiencial [dos personagens]”. Sem os actores o anteciparem, “transformam--se” noutras pessoas” durante o espectáculo.

 

Num lugar estranho entre as frases dos pais (“A vida não é só amor e uma cabana!”) e a angústia que sentem do que aí vem, o tempo passou muito depressa, e, de repente, é tarde de mais: o amigo está diferente e já não o vão ver de regresso. Moche foi apanhado na teia. O resto do grupo continua a tentar fugir, mas a queda é quase inevitável. É uma dança, e até tem música, cantada pelos mesmos: Os actores gostam da sala cheia/ Como a aranha gosta de bichos na teia. (“Espera, bichos, nós somos bichos? Os actores são bichos?”)