Criadores de nova criptomoeda detidos por burla de 32 milhões de dólares
Ficaram ricos em menos de oito meses, mas as parcerias com a Visa e a Mastercard eram mentira, e as celebridades que os elogiavam eram pagas para isso.
Os criadores de uma criptomoeda chamada Centra foram detidos esta semana, nos EUA, por burla: as alegadas parcerias com instituições reputadas como a Visa e a Mastercard eram mentira, e as celebridades que os elogiavam eram pagas para isso.
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Os criadores de uma criptomoeda chamada Centra foram detidos esta semana, nos EUA, por burla: as alegadas parcerias com instituições reputadas como a Visa e a Mastercard eram mentira, e as celebridades que os elogiavam eram pagas para isso.
Até lá, porém, a dupla composta por Sam Sharma e Robert Farka, dois norte-americanos a viver na Florida, conseguiu angariar mais de 32 milhões de dólares em menos de oito meses através de operações de ICO (sigla inglesa para Initial Coin Offering), que servem para angariar financiamento com a venda de novas criptomoedas. Numa queixa assinada pela Security and Exchanges Comission, um regulador dos mercados financeiros nos EUA, a Centra é acusada de “enganar os investidores de inúmeras formas”. Isto inclui criar executivos ficcionais (com contas fabricadas no Twitter e na rede social profissional LinkedIn), e uma campanha agressiva no Twitter, Facebook e Instagram, com tutoriais, promessas de prémios inexistentes, e o apoio de "celebridades pagas para aliciar pessoas".
Antes de fundar a Centra, Sharma, 26 anos, trabalhava para uma empresa de aluguer de carros em Miami, e antes disso, aos 19 anos, era o presidente da Sharma Technology, uma empresa de soluções para a Web criada pelo próprio. Pelo menos de acordo com o perfil no Linkedin. Na Centra, apresentava-se, alternadamente, como presidente, co-fundador e director de operações. Já Farkas, 31 anos, geria as operações e o marketing da empresa. No dia em que foi detido, preparava-se para uma “viagem de negócios na Coreia do Sul”.
A fama da Centra também se deve ao apoio de pessoas famosas. Em Setembro, um mês depois de a empresa ter aberto a venda das suas criptomoedas ao público, Floyd Mayweather, um pugilista americano famoso, tinha dito aos seus 21 milhões de seguidores no Instagram: “Arranjem as vossas antes que desapareçam. Eu já tenho e como é hábito vou ganhar muito com isto” (a imagem partilhada pelo CoinDesk, um site especializado em criptomoedas, foi entretanto apagada e Mayweather não comenta o caso).
“O apoio de figuras públicas e materiais de marketing ‘brilhantes’ não são um substituto para os requisitos de registo e divulgação junto da SEC”, alerta em comunicado o regulador. A Centra foi uma das mais de duzentas ICO a conseguir angariar milhões de dólares com a criação de criptomoedas em 2017. Estas operações são abertas ao público e qualquer pessoa pode investir: muitos estão dispostos a comprar dinheiro virtual na esperança que o valor suba da mesma forma que a bitcoin, a primeira e mais conhecida divisa digital a funcionar numa blockchain.
O fenómeno tem levado pessoas a serem enganadas até por paródias: em Janeiro, um programador em São Francisco ganhou mais de 250 mil dólares em oito horas, depois de criar uma criptomoeda que prometia ser “o primeiro esquema ponzi legal” e, "uma burla, mas 99% mais transparente”. O programador, que chamou ponzicoin à criptomoeda, teve de proibir compras e encerar o site, porque os investidores não perceberam que se tratava de uma piada.
O entusiasmo com as criptomoedas explodiu em 2017. O valor da bitcoin subiu cerca de 1900% (no final de 2016, o valor da criptomoeda rondava os mil dólares) com a moeda a rondar os 19 mil dólares no final de Dezembro. Hoje, o valor é significativamente mais baixo (ronda os 7400 dólares, ou cerca de 6000 euros de acordo com o site CoinMarketCap, que agrega os preços de milhares de bolsas em todo o mundo), mas a moeda é conhecida pela sua volatilidade com várias subidas e descidas desde o início do ano.
A Centra não é o primeiro caso de burla detectado pelas autoridades norte-americanas em 2018. No início do ano, a SEC proibiu a AriseBank de continuar operações depois de conseguir mais de 600 milhões de dólares numa ICO fraudulenta. Muitas instituições financeiras vêem este tipo de operações como uma ameaça: na China e na Correia do Sul a actividade é proibida desde 2017, e a União Europeia também já está a discutir regulação para criptomoedas.