Bastonária denuncia falta de profissionais de saúde que limita vacinação

Ana Rita Cavaco alertou ainda para algumas condições logísticas dos centros de saúde que, afirmou, levam ao desperdício de vacinas.

Foto
Enric Vives-Rubio

A bastonária dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, denunciou nesta terça-feira, durante uma audição pública sobre sarampo e vacinação no Parlamento, a falta de profissionais em número suficiente nos centros de saúde para dizer que esse é um factor que limita ao acesso à vacinação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A bastonária dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, denunciou nesta terça-feira, durante uma audição pública sobre sarampo e vacinação no Parlamento, a falta de profissionais em número suficiente nos centros de saúde para dizer que esse é um factor que limita ao acesso à vacinação.

“Temos de alargar os horários de vacinação, porque as vacinas são vítimas do seu sucesso. Quando as pessoas não vêm as doenças tendem a desvalorizar a doença. O alargamento de horário tem a ver com a maior disponibilidade para vacinar as pessoas e com o trabalho que tem de se fazer para ir às escolas, aos bairros de imigrantes. Há falta de veículos para transportar enfermeiros para fazer este trabalho”, sublinhou.

“Tendo em conta que as reservas de vacinas e a manutenção de stock são questões de segurança do país, há estratégias que temos de começar a pensar e que têm a ver com a falta de produção por parte da indústria. Se temos dificuldade no fornecimento de vacinas não é por culpa do país”, acrescentou.

E referiu ainda algumas condições logísticas dos centros de saúde que afirmou levarem ao desperdício de vacinas. “Há frigoríficos que armazenam as vacinas que são obsoletos e não têm controlo digital de temperatura. Não podemos garantir a temperatura ao fim-de-semana e não há gerador para os frigoríficos. Deitei muitas vezes fora, por indicação da Administração Regional de Saúde, vacinas que não tinham mantido cadeia de frio e não podiam ser usadas. Há uma unidade com o frigorífico avariado desde 23 de Dezembro e outra com quebras de energia e lá vão uma série de vacinas para o lixo.” 

Não pode haver "recusa de vacinação"

Em relação às rupturas de stocks de vacinas e a questão dos horários de vacinação nos centros de saúde, Graça Freitas explicou que a gestão a nível local é da responsabilidade das unidades de saúde que “sabem os seus recursos e a sua população”.

Contudo salientou que a Direcção-Geral da Saúde tem uma recomendação que “é nunca perder oportunidades de vacinação” quando, por exemplo, alguém aparece no centro de saúde e vai a uma consulta. “Haver marcação não é um factor mau porque as pessoas organizam-se e não esperam. O que não pode haver é uma recusa de vacinação em alguém que vá ao centro de saúde por outro motivo e necessite de actualizar o seu esquema.”

Sobre o desperdício de vacinas por causa de alegados problemas na conservação a frio, a directora-geral da Saúde disse crer que “essa situação pode ser pontual e tende para zero”. “O país fez um esforço enorme nos últimos anos de modernizar a sua rede de frio e raramente temos conhecimento destas situações. Não posso garantir que um determinado sítio e [num] fim-de-semana não possa ocorrer um evento desses”, disse, acrescentando que os stocks de vacinas que existem nos centros de saúde “são muito pequenos”.

Quanto às rupturas de stocks, a directora-geral explicou que o termo é usado quando faltam vacinas no país durante um período prolongado, o que “não acontece há muitos anos”. “E mesmo nessa altura o que se fazia eram trocas e empréstimos entre administrações regionais de saúde. Está a usar-se um termo que não é correcto. Faltar uma vacina durante um dia num centro de saúde não é bom, mas isso não quer dizer que que exista uma ruptura de stocks.”

Entre as denúncias que levou à comissão de Saúde, a bastonária dos enfermeiros afirmou que a vacina do tétano disponível nos centros de saúde “está a terminar a validade e que neste momento não ainda fornecedor”.

Graça Freitas garantiu que “há soluções” e que os portugueses “não vão ficar sem ser vacinados contra o tétano”. De uma forma geral, acrescentou a responsável, há sempre alternativas. “Quando não conseguimos uma determinada vacina, há sempre um plano B. Não deixamos de vacinar as pessoas. Se não houver disponível no mercado internacional, pois durante um período limitado recorremos à mais semelhante possível.”

A responsável assegurou que estão em diálogo permanente com os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde para garantir as disponibilidades actuais e futuras e que até à data tem sido possível encontrar sempre alternativas às vacinas que estão em falta no mercado.