Quão interventivos queremos que os VAR sejam?
Até há cerca de um mês, os árbitros, quando em função de videoárbitro, tinham instruções para apenas intervir, sugerindo ao árbitro de campo a revisão de um lance, quando as imagens mostrassem inequivocamente que a decisão tomada tinha sido errada. Não intervir em lances nos quais a interpretação tivesse grande preponderância na decisão (intensidade do empurrão, lances de mão em que a intencionalidade não fosse óbvia, entre outros), era outra das recomendações.
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Até há cerca de um mês, os árbitros, quando em função de videoárbitro, tinham instruções para apenas intervir, sugerindo ao árbitro de campo a revisão de um lance, quando as imagens mostrassem inequivocamente que a decisão tomada tinha sido errada. Não intervir em lances nos quais a interpretação tivesse grande preponderância na decisão (intensidade do empurrão, lances de mão em que a intencionalidade não fosse óbvia, entre outros), era outra das recomendações.
Esta postura foi alterada, seguramente por indicações do Conselho de Arbitragem da FPF e dos seus responsáveis técnicos, no sentido de permitir aos videoárbitros passarem a intervir sempre que, na sua opinião, o árbitro de campo errasse uma decisão (prevista no protocolo). A opinião, mesmo que subjectiva, do VAR passou a ser critério justificador de intervenção daquele. Até então não o era.
As consequências deste alargar de critério de intervenção dos VAR foram que os árbitros começaram mais vezes a ser chamados para rever lances e que passou para eles, árbitros de campo, a responsabilidade ou a oportunidade de poderem tomar mais vezes decisões com apoio das câmaras de televisão.
Ora, a partir do momento em que lances menos claros ou óbvios passaram a ser revistos, também as consequentes decisões passaram a não ser tão consensuais.
Para além das discussões do “por que é que o VAR não interveio?”, que existiram desde o início deste projecto e que se vão manter sempre, passámos a ter um novo tópico, até agora residual, que se baseia no “porque é que o VAR chamou o árbitro neste lance? E como é que o árbitro, a ver as imagens, conseguiu errar a decisão?!”.
Presos por ter cão e presos por não ter. Previsível.
Nos lances enquadráveis no que acima referi, o que envolveu Gelson Martins e Paulinho, resultando na anulação de um golo ao Sp. Braga no jogo deste fim-de-semana com o Sporting, é aquele de que mais se fala no momento. Descrever o lance é fácil: Gelson Martins tinha a posse de bola e Paulinho esticou a perna não conseguindo tocar nesta. O jogador do Sporting caiu, o Sp. Braga recuperou a bola e a jogada resultou em golo na baliza de Rui Patrício. Luís Godinho entendeu, num primeiro momento, que não houve qualquer falta tendo, inclusive, feito sinal para que Gelson se levantasse. O videoárbitro, o internacional João Pinheiro, ao rever as imagens de toda a jogada, terá entendido que Gelson foi tocado no joelho pela biqueira de Paulinho. Chamou o árbitro que, após visionar as mesmas imagens, concordou com o seu colega anulando o golo e assinalando a falta.
Lance discutível. Muito discutível.
A minha opinião é de que houve mesmo toque no joelho de Gelson. Baseio-me nas imagens televisivas que, não mostrando objectivamente o contacto, mostram uma deflexão repentina do pé de Paulinho aquando da passagem do joelho pela zona da biqueira da bota do jogador do Sp. Braga. A meu ver, não me parece real que aquela movimentação repentina do pé fosse possível sem que existisse algum contacto. É uma leitura rebuscada? É. É a minha opinião? É.
Por norma aceito muito facilmente que haja opiniões divergentes da minha. Neste caso em particular, e pela pouca clareza do lance, percebo ainda melhor essas discordâncias. Como tantas vezes aconteceu, desde 1863, uns vão ficar com uma razão e outros com a sua outra razão. É o futebol.
A pergunta que pode resultar deste lance e sobre a qual todos devemos reflectir é “Quão interventivos queremos que os videoárbitros sejam?”. Já agora, que depois de respondermos a esta questão, sejamos capazes de lidar com as consequências dessa solução.