Hubble capta imagens da estrela mais distante alguma vez vista

Ícaro é a estrela individual mais longínqua alguma vez vista: está a 9000 milhões de anos-luz da Terra. Só se deixou ver por causa de um fenómeno conhecido como “lente gravitacional”, que actuou como uma lupa e aumentou o seu brilho.

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Zona do Universo onde a estrela Ícaro foi observada DR

A estrela individual mais longínqua alguma vez vista chama-se Ícaro e está a 9000 milhões de anos-luz de distância da Terra. Está 100 vezes mais longe do que a estrela individual mais longínqua que se conhecia até hoje e só foi avistada pelo telescópio espacial Hubble graças a um fenómeno conhecido como “lente gravitacional”, que actuou como uma lupa e aumentou o seu brilho.

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A estrela individual mais longínqua alguma vez vista chama-se Ícaro e está a 9000 milhões de anos-luz de distância da Terra. Está 100 vezes mais longe do que a estrela individual mais longínqua que se conhecia até hoje e só foi avistada pelo telescópio espacial Hubble graças a um fenómeno conhecido como “lente gravitacional”, que actuou como uma lupa e aumentou o seu brilho.

Normalmente a luz da Ícaro – baptizada oficialmente como Estrela-1 Ampliada pela MACS J1149+2223 – é demasiado ténue para ser avistada “até pelos telescópios mais potentes do mundo”, descreve o comunicado da NASA. A sua descoberta só foi possível devido ao fenómeno natural conhecido como “lente gravitacional”: surge quando um aglomerado de galáxias curva a luz que o atravessa, vinda de objectos mais distantes, e aumenta a sua luminosidade enquanto estica a sua imagem. 

Foi o aglomerado de galáxias conhecido como MACS J1149+2223, localizado a mais ou menos a 5000 milhões de anos-luz da Terra, que se colocou à frente de Ícaro, tornando-a vísivel. Esse aglomerado funcionou como uma lupa, aumentando o brilho da estrela temporariamente. Para além do efeito criado pelo conjunto de galáxias, o brilho de Ícaro foi aumentado ainda mais por outra estrela, que se colocou no caminho, tornando-a duas mil vezes mais brilhante do que o normal e visível ao telescópio Hubble.

“Esta é a primeira vez que vemos uma estrela individual aumentada”, explicou astrónomo Patrick Kelly, investigador da Universidade do Minnesota (EUA) e responsável pelo projecto, em comunicado. “Podem ver-se galáxias individuais por aí, mas esta estrela está pelo menos 100 vezes mais longe do que a seguinte estrela individual que podemos estudar, com excepção das explosões de supernovas [estrelas que morrem].”

A Ícaro é uma supergigante azul, um tipo de estrelas relativamente raro. Um exemplo bem conhecido de uma supergigante azul é Rígel, a estrela mais brilhante da constelação de Orionte. Estas estrelas caracterizam-se por serem maiores, mais quentes e mais brilhantes do que o nosso Sol. A Ícaro está localizada numa galáxia em espiral distante, tão longínqua que a luz demorou 9000 milhões de anos a chegar à Terra.

Olhar para esta estrela é voltar atrás no tempo. Ícaro existiu durante um terço da idade total do Universo, criado pelo Big Bang há cerca de 13.800 milhões de anos. Na verdade, a equipa de cientistas que localizou Ícaro diz que a estrela está agora ainda mais longe do que estava quando foi avistada e que, por esta altura, pode já ter desaparecido, formando um buraco negro ou uma estrela de neutrões.

“Agora somos capazes de estudar a fundo como o Universo era – e especificamente como é que as estrelas evoluíram e a sua natureza – quase até às primeiras fases do Universo e das primeiras gerações de estrelas”, disse Kelly à agência Reuters.

Ícaro foi descoberta quase por acaso, em 2016, enquanto o telescópio Hubble estava a monitorizar uma supernova situada na mesma galáxia onde se avistou a estrela isolada. O processo foi relatado no artigo onde a equipa de cientistas dá conta da descoberta, publicado na revista científica Nature Astronomy. Os investigadores repararam num pequeno ponto de luz que parecia quatro vezes mais brilhante do que em imagens anteriores e estava nas imediações de um conjunto de galáxias já conhecido dos cientistas, situado a 5000 milhões de anos-luz da Terra.

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Uma imagem de Ícaro, a estrela mais distante alguma vez vista. Em cima, uma imagem de 2011, onde não se via a estrela e em baixo uma imagem de 2016, onde já se vê NASA/ESA/P. Kelly/Universidade do Minnesota

Na escolha do nome, os cientistas foram inspirados pela personagem da mitologia grega, Ícaro, que, diz a lenda, tentou deixar Creta a voar com asas feitas de penas e cera. A tentativa foi frustrada: durante o voo aproximou-se demasiado do Sol e acabou por cair no mar Egeu.

A escolha não foi consensual, explica Patrick Kelly, que queria que a estrela se chamasse Warhol, como o artista plástico Andy Warhol, pelos “15 minutos de fama” que se seguiram à sua descoberta. No entanto, explica o investigador, “ninguém gostou desse nome”, por isso acabou por se escolher Ícaro.