Câmara prevê gastar mais 190 mil euros em azulejos para a Praça da Figueira

Autarquia só tinha comprado uma pequena parte dos azulejos necessários para forrar todas as fachadas -- e muitos partiram-se nos últimos anos. PSD diz que este investimento "não é prioritário"

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A Câmara Municipal de Lisboa não tem azulejos suficientes para revestir as fachadas da Praça da Figueira, como é sua intenção, e por isso vai ter de mandar fazer mais. A autarquia conta gastar perto de 190 mil euros, a que se somam os 36 mil já gastos em 2001.

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A Câmara Municipal de Lisboa não tem azulejos suficientes para revestir as fachadas da Praça da Figueira, como é sua intenção, e por isso vai ter de mandar fazer mais. A autarquia conta gastar perto de 190 mil euros, a que se somam os 36 mil já gastos em 2001.

Numa informação escrita enviada há uma semana e meia aos vereadores do PSD, a Direcção Municipal de Urbanismo esclarece que tinha 1940 metros quadrados de azulejos guardados em armazém desde 2002. Desse lote saíram os mosaicos necessários para forrar, nas últimas semanas, as fachadas do quarteirão da Suíça e de um outro edifício da praça, onde vai funcionar um hotel.

“Do stock existente”, lê-se na informação, “restam azulejos correspondentes para cerca de 1200 metros quadrados”. Para revestir o que falta da praça, “estima-se que ainda seja necessário adquirir cerca de 2230 metros quadrados” e que, “a preços actuais, venham a custar cerca de 190 mil euros”, diz o documento. No entanto, pode ser preciso comprar mais – é que “uma parte significativa dos azulejos armazenados está partida”.

A ideia de revestir as fachadas da Praça da Figueira com azulejos é de 2001, quando o arquitecto Daciano da Costa apresentou um projecto de reabilitação para aquele espaço, a pedido da câmara. Apenas uma parte desse projecto se cumpriu naquela altura. E muitos dos azulejos então produzidos acabaram num armazém. Até que, em 2017, a autarquia decidiu dar seguimento ao plano de Daciano, impondo o revestimento azulejar ao quarteirão da Suíça.

A câmara já tinha confirmado ao PÚBLICO, no início de Fevereiro, que os azulejos utilizados naqueles prédios eram os que estavam guardados desde o princípio do século, mas nada disse sobre os custos da operação. Na informação escrita enviada ao PSD, os serviços de Urbanismo revelam que os tais 1940 metros quadrados já produzidos “custaram 18,85 euros/metro quadrado, o que perfez um total de 36.569 euros”. Ou seja, se as contas do município se vierem a revelar correctas, o revestimento total da praça vai rondar os 230 mil euros. A autarquia oferece os azulejos, os donos dos prédios são obrigados a pô-los nas fachadas. “Os licenciamentos que estão a decorrer têm como condicionante a aplicação dos azulejos”, informou o município, também em Fevereiro.

O projecto de Daciano da Costa (falecido em 2005) prevê que os quarteirões da Praça da Figueira sejam diferenciados entre si: nuns aplicar-se-ão azulejos azuis e brancos, criando um efeito dégradé; noutros, os azulejos serão todos azuis; no quarteirão da Suíça, ficou desenhado – e cumpriu-se – que os azulejos seriam mais claros, sobretudo brancos. Os três prédios que têm mosaicos mais antigos vão mantê-los.

“Esta intervenção é uma das várias previstas para a Baixa Pombalina e enquadra-se no âmbito da reabilitação das praças da cidade e de valorização das fachadas dos edifícios através do revestimento de azulejos”, lê-se na informação, que não especifica que outras operações estão pensadas para a Baixa. Segundo o mesmo documento, os serviços tutelados pelo vereador Manuel Salgado consideram que esta aplicação de azulejos não compromete a candidatura da Baixa a Património da Humanidade, antes a valoriza. “A candidatura à UNESCO irá referir e destacar esta intervenção, assim como todas as outras pensadas e já executadas no âmbito do Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina”.

O PSD pediu informações à câmara depois de ter promovido um pequeno-almoço com vários especialistas na Confeitaria Nacional. Quase todos os participantes levantaram dúvidas sobre a necessidade e oportunidade da intervenção. O vereador João Pedro Costa, que nessa ocasião não fez comentários, diz agora que este investimento “não é prioritário”. “Não entendemos como prioridade gastar 190 mil euros a comprar mais azulejos”, afirma o social-democrata. O eleito sublinha ainda que “Lisboa é uma cidade de cor”, em que “cada edifício tem a sua cor” e que “não é cidade para ser normalizada”.

Na assembleia municipal, o PPM apresentou uma recomendação para que a câmara suspendesse o projecto, apelidando-o de “atentado de efeitos nefastos em toda esta zona nobre da cidade”. O documento foi aprovado por todos os grupos parlamentares (incluindo o PS), com excepção do PCP, que se absteve, e dos deputados independentes, que votaram contra.