Estórias digitais
É talvez esta a maior riqueza da nossa pegada digital: guardar uma estória e recontá-la 40 anos mais tarde!
Nos aniversários ou em épocas festivas, como o Natal e a Páscoa, as famílias reúnem-se.
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Nos aniversários ou em épocas festivas, como o Natal e a Páscoa, as famílias reúnem-se.
Entre pais, filhos e netos, primos e tios todos eles estão presentes.
A minha família não é excepção, apesar de mais reduzida pois há alguns tios, que contra a nossa vontade, teimaram em desaparecer.
Eu vivo num sítio pequeno, perto de Lisboa mas longe de tudo. É um local quase esquecido pelo progresso, quase esquecido pelas multidões da cidade. E ainda bem!
É um sítio pequeno, com pessoas humildes que gostam de relembrar o passado, os costumes e as gentes.
Um sítio pobre. Demasiado pobre em tempos. Tão pobre que as conversas e as histórias ganham contornos com enredos de tal forma particulares que dariam um excelente livro de contos.
O meu tio, exactamente 40 anos mais velho do que eu, conta sempre as suas memórias de emigrante, conta a história da fundação da aldeia e a sua história favorita, a de ter sido um excelente ciclista, vencedor de vários prémios de montanha.
É nestes momentos que dou por mim a agradecer o desenvolvimento do mundo digital. Não para poder fugir das histórias, mas sim para as poder registar. Relembrar, recordar, deixar uma história escrita, deixar uma história digitada, deixar uma história digital.
Se olharmos para o mundo daqui por 40 anos, provavelmente o meu tio não estará por cá, mas eu quero estar. Quero estar e quero poder contar, ou melhor, mostrar as minhas histórias!
Para contar as do meu tio, terei que reproduzi-las verbalmente, com paixão e saudade, mas as minhas, muitas delas, poderei mostrá-las. Lê-las, vê-las e revê-las.
O poder do mundo digital é este mesmo, é ter o poder de guardar uma história. E dessa história podemos contar pequenas estórias, podemos relembrar uma vitória, um nascimento, uma viagem. Uma vida inteira!
E não. Não estou a falar de fazer uma fotografia ou um vídeo. Falo de guardá-las, armazená-las numa rede social seja ela qual for, num depósito digital acessível em qualquer momento, de qualquer parte do mundo.
Muito se fala que nos expomos digitalmente, que nos fotografamos a nós, aos nossos filhos, aos nossos pais. As nossas férias, as nossas viagens, a nossa vida. Os nossos momentos. E é isso mesmo, são nossos! Mesmo quando visíveis são apenas nossos.
E queremos que sejam nossos para sempre.
Para lembrar, de forma nostálgica ou rejuvenescedor, de forma saudosista ou triunfante.
Para lembrar! Só isso.
É talvez esta, a forma que temos daqui por 40 anos, numa mesa, num jantar, numa festa, de contar uma história, duas ou três ou mais histórias.
E é talvez esta a maior riqueza da nossa pegada digital: guardar uma estória e recontá-la 40 anos mais tarde!
O autor escreve em desacordo ortográfico.